11 de fev. de 2011

TURISTA DE PRIMEIRA VIAGEM FAZ CRESCER FILÃO DO CÂMBIO NO PAÍS

jornal Valor Econômico 11/02/2011 - Aline Lima

De carona na horda de brasileiros que "invade" o exterior, grandes bancos de varejo começam a mostrar interesse pelo câmbio turismo, mercado até pouco tempo atrás relegado a segundo plano. Um produto, em especial, parece ter caído no gosto dos bancões: cartões pré-pagos em moeda estrangeira. O Banco do Brasil (BB) disponibiliza a modalidade a seus correntistas desde dezembro. O Bradesco passou a oferecer o seu em janeiro e deve entrar com campanha de divulgação ainda este mês.

Embora não seja exatamente uma novidade, o cartão pré-pago ainda é um produto pouco difundido se comparado ao cartão de crédito ou mesmo ao dinheiro em papel. Estimativas de mercado apontam para um volume de US$ 600 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) movimentado por brasileiros por meio de cartões pré-pagos de viagem, em 2010. Já os cartões de crédito responderam por R$ 10,166 bilhões dos gastos no exterior no mesmo período, segundo dados Banco Central (ver gráfico).



O BB chegou a fazer pilotos do produto em 2001, mas acabou desistindo. "Foi uma operação pontual que não progrediu por conta do custo de emissão [do cartão] e da limitação de uso lá fora", afirma Denilson Molina, diretor de cartões do banco. O cenário hoje parece bem diferente. O BB tem 43 mil cartões de viagem emitidos nas mãos de clientes, 5 mil deles vendidos em dezembro. A expectativa é vender 200 mil unidades por ano. O banco estatal espera também que, até o fim do ano, 50% de todo volume financeiro de câmbio manual migre para o cartão pré-pago e que, em 2013, essa proporção seja de 70%. O banco não revela o volume de operações de câmbio para turismo.

O grande atrativo do cartão pré-pago para os bancos está na sua facilidade logística de distribuição. A dinâmica do papel moeda envolve projeção de venda de diferentes moedas para diferentes regiões do país, sem contar a questão da segurança, uma vez que o dinheiro precisa chegar às agências de câmbio e corretoras, que são abastecidas por carros-fortes. O cartão pré-pago permite o carregamento em diversas moedas (dólar e euro, no caso do BB) e é impresso na hora, na medida em que haja procura.

O cartão pré-pago também se encaixa perfeitamente num perfil de consumidor que só agora começa a fazer viagens internacionais, mas que promete, em pouco tempo, liderar a massa de turistas brasileiros no exterior: a classe C. "Essas pessoas normalmente não possuem cartão internacional e, quando têm, contam com limite de crédito pequeno", explica Luís Lobo, presidente da Sacs, administradora de cartões pré-pagos criada no ano passado pelo grupo Confidence. "Além disso, elas querem facilidade e fugir do risco de variação cambial", acrescenta.

Márcio Henrique Parizotto, superintendente de produtos da Bradesco Cartões, ressalta que o atendimento à demanda de viagem sempre fez parte do "modus operandi" do banco, mas reconhece que o serviço estava voltado principalmente para a alta renda. "O Bradesco Money Card vem preencher essa lacuna", diz. O banco não divulga projeções acerca do recém-lançado produto.

Os brasileiros, é fato, nunca viajaram tanto para o exterior como em 2010. Os gastos somaram R$ 16,4 bilhões, 50,7% a mais que as despesas em 2009, segundo dados do Banco Central (ver gráfico). Profissionais do setor de turismo acreditam que essas cifras só tendem a aumentar, apoiadas no crescimento da economia e na ascensão da classe C.

Os cartões pré-pagos em moeda estrangeira existem desde 2001, mas até então somente bancos de nicho, como o Rendimento e o Confidence, trabalhavam com o produto. O banco Rendimento aproveitou o "vácuo enorme", nas palavras de seu presidente e acionista, Abramo Douek, para ganhar mercado. Segundo Douek, o banco detém hoje 25% do mercado nacional de câmbio turismo. "Alguns anos atrás, o cliente ia à agência e ninguém sabia orientá-lo", lembra Douek. O Rendimento, que tem 70% de sua receita proveniente de operações de câmbio, trabalha em parceria com 3,1 mil agências de turismo e atende, por meio de sua corretora Cotação (que incorporou a corretora Action no início deste ano), de 1 a 1,2 mil clientes diariamente, em média.

Com a entrada dos grandes bancos de varejo nesse mercado, as instituições de nicho apostam na especialização e na agilidade para enfrentar a concorrência. A Confidence, por exemplo, que emite cartões pré-pagos em 20 moedas, prepara para este mês o lançamento de um cartão que poderá ser carregado em pesos argentinos. A corretora, que no ano passado recebeu licença do BC para se tornar o primeiro banco de câmbio, passando a importar diretamente as moedas que vende, teve sua prova de fogo na Copa do Mundo da África do Sul, quando lançou um pré-pago em rand. "No meio do caminho, tivemos de reforçar a equipe noturna da central de teleatendimento e aumentar o limite de saques no cartão, porque muitas empresas brasileiras estavam usando o produto para pagar funcionários recrutados lá na África do Sul", conta Lobo, da Sacs, a administradora de cartões do grupo Confidence. Foram emitidos 5 mil cartões num total de US$ 1,5 milhão, resultado que surpreendeu.

Mas os bancos de nicho não contam apenas com a agilidade na prestação de serviço para vencer a concorrência. A própria criação da Sacs tem por objetivo atender a outras instituições financeiras, com planos de expansão para a América Latina.

A abertura de lojas de câmbio em shopping centers e aeroportos tem sido outra frente de disputa nesse mercado. "Estamos de olho em todos os projetos de inauguração de shopping e expansão de aeroportos", diz Alexandre Fialho, diretor do Rendimento, que neste ano já conquistou uma vitória: um espaço em frente ao desembarque internacional do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. "Na cara do gol", comemora ele. A corretora Cotação, do Rendimento, vai abrir ainda mais uma loja em Florianópolis e outras duas em shoppings da capital paulista.

Para atender à demanda de turistas brasileiros viajando para o exterior, a Confidence chegou a fechar desde 2007 cinco lojas de compra de moeda, que atende a estrangeiros, para quadruplicar, de lá para cá, o número de lojas de venda de moedas para brasileiros. Hoje são 112 lojas e, a expectativa, é fechar o ano com 120.

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