18 de fev. de 2011

ITAÚ COLOCA EXECUTIVO DA CASA NA REDECARD

jornal Valor Econômico 18/02/2011 – Adriana Cotias

Sai o engenheiro eletrônico com larga experiência na área de telecomunicações e entra o contador, especializado em direito tributário e análise de sistemas, que acumula mais de três décadas no setor de cartões. Claudio Takashi Yamaguti, homem identificado com a cultura do Itaú, será a partir de abril o novo presidente da Redecard e vai ocupar o posto que era de Roberto Medeiros desde o início de 2008. Executivo próximo do vice-presidente do Itaú Unibanco, Márcio Schettini, Yamaguti vai assumir a companhia num momento de transformação da indústria e em que a Redecard ganha fatia de mercado em cima da principal concorrente, a Cielo, às custas de uma estratégia de preços considerada por alguns agressiva demais.

Nos bastidores, a avaliação é de que a troca de comando representaria o desejo do controlador, o Itaú Unibanco, de ver na empresa uma postura mais orientada à preservação de margens. Há dúvidas, porém, se com a chegada de Yamaguti a Redecard perde autonomia operacional, conforme questionam os analistas Saul Martinez, Mariana Mansur e Mariana Barros, do J.P. Morgan, em relatório. "As decisões serão tomadas para maximizar valor para os minoritários ou para os controladores?" Conforme exemplificam, a dúvida é se o negócio de adquirência será usado para fortalecer a posição do Itaú no segmento de pequenas e médias empresas às custas da rentabilidade da Redecard.

Itaú e Redecard não quiseram comentar a mudança.

Para a casa, o movimento pode ter sido uma rejeição à estratégia de ganhar mercado sob uma política agressiva de preços. Ao mesmo tempo reaviva as especulações em torno da intenção do Itaú de fechar o capital da empresa, como Medeiros já reconheceu em encontro com analistas e investidores.

No ambiente mais competitivo que se desenhou a partir de julho, com o fim da exclusividade da Cielo com a Visa, bandeira de maior circulação no mercado, a Redecard se agarrou à oportunidade de roubar fatias mais expressivas da rival. Só que a renegociação de contratos de grandes clientes, o aumento de despesas para fazer jus à abertura do mercado e o repasse tardio do aumento da taxa de intercâmbio (a parcela da tarifa cobrada dos lojistas que vai para os bancos emissores) da MasterCard acabaram por corroer parte da rentabilidade do negócio.

Só no quarto trimestre, a Redecard perdeu 7 pontos percentuais da sua margem líquida, para 39,3%. No ano fechado de 2010, o retorno passou de 45,4% para 41,2%. Trata-se de uma rentabilidade ainda elevada num setor que tem atraído novos competidores locais e internacionais - o Santander com a processadora GetNet, o Banrisul com a CSU, além das americanas Global Payments e a Elavon, que selou parceria com o Citi.

Yamaguti é considerado um executivo de temperamento mais maleável do que o seu antecessor. Desde os tempos em que presidia a Telefônica (entre 2002 e 2008), Medeiros é personalidade reconhecida por uma certa agressividade na gestão, por vezes, controversa. Ele foi bastante criticado pela forma como se comunicou com o mercado após as falhas nos sistemas de captura da Redecard na véspera do Natal de 2009. Em plena época de pico de transações, teve de abreviar o período de férias em Nova York.

Mesmo no trato com altos executivos, Medeiros não era o tipo mais afável. Do antigo time de Anastácio Ramos, na diretoria da Redecard só permaneceu Alessandro Raposo, recentemente deslocado da área de TI para marketing e produtos. Desde que Medeiros assumiu, só pela diretoria financeira passaram três executivos.

Analistas consideram, porém, que Medeiros cumpriu papel importante à frente do negócio, ao transformá-lo, após a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), numa operação financeiramente mais eficiente, ajustando custos e preparando a Redecard para a abertura do mercado.

Até o ano passado, Yamaguti comandava o Banco Itaú no Paraguai e tocava projetos de cartões de crédito na América Latina. A sua chegada à Redecard casa com os planos de internacionalização da empresa, conforme o próprio Medeiros sinalizou ao revelar que o México era um mercado já estudado pela companhia, mas que tinha na informalidade da economia o maior obstáculo para transformar os pagamentos manuais em eletrônicos.

O novo executivo da Redecard é "cria" do mercado de cartões. Iniciou a carreira na Credicard no final da década de 70, quando a empresa atuava na chamada atividade de adquirência, que abrange credenciamento de estabelecimentos, captura, processamento e liquidação de transações. Posteriormente, ele atuou na American Express do Brasil e do México. No Unibanco, ingressou em 1997.

Na Bovespa, tanto as ações da Redecard quanto da Cielo subiram (ler mais na página D2), sob a leitura de que, se a Redecard optar por uma estratégia menos agressiva de preços, o resultado é bom para ambas as empresas. Neste ano a competição no setor já se mostra menos acirrada, conforme o presidente da Cielo, Rômulo Dias, teria comentando em evento para investidores, realizado no BTG Pactual. (Colaborou Daniele Camba)

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