26 de fev. de 2011

A GUERRA DOS CARTÕES

portal Isto É Dinheiro 25/02/2011 - Juliana Schincariol

O executivo Roberto Medeiros concedeu sua última entrevista como presidente da Redecard à DINHEIRO, na quarta-feira 16. Na ocasião, ele discorreu com fluência sobre a expansão das bandeiras transacionadas pela companhia, os planos de fidelização dos lojistas e a chegada de novos concorrentes ao mercado brasileiro.
Nada enfim, que antecipasse o que ocorreu no dia seguinte: sua substituição, pura e simples, por Cláudio Yamaguti, profissional egresso do Banco Itaú, controlador da Redecard.

A troca de comando, recebida com surpresa no mercado, foi provocada pelo descontentamento dos acionistas com a estratégia de Medeiros, que privilegiou a ofensiva no crescimento da empresa e não defendeu a rentabilidade. Yamaguti, deve reduzir a marcha forçada da Redecard em favor da melhoria das margens de lucro.

Essa mudança é o movimento mais recente de uma guerra nas companhias que instalam as máquinas de processar transações por cartão, as chamadas “adquirentes”. Em julho de 2010, uma medida do Banco Central (BC) extinguiu a chamada exclusividade de bandeira, o que modificou profundamente o equilíbrio do setor.

Até então, a Cielo, (ex-Visanet) controlada pelo Bradesco e pelo Banco do Brasil, aceitava apenas cartões da bandeira Visa. Por seu turno, a Redecard operava somente com a bandeira Mastercard.

Juntas, elas intermediavam transações de R$ 445 bilhões em 2010, mais de 90% de todo o mercado. Pelas novas regras, a dupla foi obrigada a aceitar os cartões da concorrência. Como consequência, lançaram-se à ofensiva em direção ao território das oponentes e passaram a ter de conviver com novos invasores.

A primeira carga foi feita junto ao varejo e a munição foram os preços. A Cielo e a Redecard reduziram o percentual que cobravam para processar as transações, o que causou baixas nas margens de lucro.

No último trimestre de 2010, a margem da Cielo caiu para 38,7%, abaixo dos 43,6% anteriores à exclusividade. A Redecard viu os números caírem 4,1 pontos percentuais, de 43,4% para 39,3%.



As ações das empresas também sofreram. Desde a abertura do mercado, em julho passado, até a terça-feira 22, os papéis da Redecard caíram 11,4% e os da Cielo baixaram 8,9%. Quem conhece o setor diz que há mais espaço para as margens recuarem. “Elas podem cair à metade e continuarão altas”, diz Décio Burd, ex-executivo da Credicard.

Cielo e Redecard também têm de enfrentar novos inimigos. Alguns são nacionais, como a empresa gaúcha GetNet, que ataca em parceria com o banco Santander. Já o banco gaúcho Banrisul também quer ganhar território.

Sua bandeira própria de cartões, a Banricompras, é aceita em 75 mil lojas no Rio Grande do Sul e aceitará pagamentos da Mastercard a partir de março, em parceria com a operadora CSU CardSystem.

Outros recém-chegados são estrangeiros. A americana Elavon deve começar suas atividades no segundo semestre, associada ao Citibank. Nomes como Global Payments, First Data e Global Force são esperados. “Estamos negociando com quatro ou cinco novos clientes”, diz Wanderval Alencar, diretor da CSU.

Rômulo Dias, presidente da Cielo, diz não se sentir ameaçado. “Nos próximos anos nosso principal concorrente não vai mudar”, diz ele. Em sua última entrevista, Medeiros, da Redecard, admitiu que os novatos podem incomodar em alguns nichos.


O mais visado são os 23 mil postos de combustível do País, usuários intensivos de cartões e alvo do Santander. “Isso não é algo trivial”, disse Medeiros. Ciente da dificuldade, o Santander preparou uma ofensiva cautelosa.

Até o final de 2010, a instituição tinha 104 mil clientes. “Nossos concorrentes são os bancos”, diz Cassius Schymura, diretor do Santander. “Vamos nos diferenciar oferecendo outros serviços.”

Ao anunciar o negócio com a GetNet, os espanhóis estabeleceram como meta 300 mil clientes e 10% de participação do mercado até 2012. Uma tarefa difícil, no cenário conflagrado que se tornou o mercado de cartões no Brasil.

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