jornal DCI 06/06/2011 - Marcelle Gutierrez
Na contramão das medidas macroprudenciais de aumento das taxas de juros para contenção do crédito, a economia brasileira depende dos empréstimos e investimentos para se desenvolver. No entanto, com a justificativa de frear a inflação, as altas alíquotas causam a diminuição no volume de concessões, o que gera aumento da inadimplência, insolvência das carteiras e deterioração dos ativos bancários, apontaram especialistas durante o seminário "O crédito e o desenvolvimento do Brasil", realizado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-SP), em São Paulo.
Para o professor Alberto Borges Matias, do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), o crescimento do País está diretamente ligado ao aumento no volume de crédito. "Em abril de 2011, o percentual PIB e crédito estava em 46,6%. Temos que chegar a 90% para gerar um desenvolvimento substancial. O aumento do mercado de crédito pode significar a diminuição da inflação, não o aumento. Inflação baixa não depende de taxas elevadas, isso é mentira".
A taxa básica de juros, Selic, está em 12% ao ano com projeção de novos aumentos. Segundo o boletim Focus, deve haver mais duas elevações de 0,25 ponto percentual. Já a última previsão mensal do Itaú indica apenas um acréscimo de 0,25 p.p. Diante da falta de consenso, o mercado terá que aguardar a próxima ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontece nessa semana e deverá indicar os futuros acontecimentos.
Segundo o professor, as medidas de elevação das alíquotas funcionam somente como ferramentas de contenção do volume. "Temos um sistema financeiro que trabalha com absurdas taxas e volume baixo. A Selic pode e deve cair um terço, pois nós não podemos crescer no mercado com esses juros, não há sustentação", explicou o especialista, que acrescentou: "Aumentamos a Selic com base na inflação que passou e teria que ser com o futuro. Precisamos olhar a longo prazo, não a curto".
De acordo com dados do Banco Central, em abril de 2011 as taxas gerais de aplicação de pessoa física e jurídica subiram 0,8%, de 39% ao ano para 39,8% a.a. Em consequência, o saldo de empréstimos acumulado em abril de 2011 caiu 3,1% na comparação com o mês anterior, de R$ 180,1 bilhões para R$ 174,55 bilhões.
No segmento de pessoas jurídicas, as altas interferem diretamente no desenvolvimento. Segundo Wagner Aparecido Mardegan, gerente Executivo da Diretoria de Crédito do Banco do Brasil, há espaço para acender o crédito nesta carteira, mas as taxas de juros trazem limitações. "As empresas precisam financiar sua produção para crescer de maneira sustentável. É preciso que o país financie investimentos mais do que fez nos últimos anos".
Para este desenvolvimento, Mardegan citou o aumento da participação do mercado privado no financiamento a longo prazo. "A principal fonte de recursos para investimentos é o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] que é necessário, mas limitado. É preciso outras fontes e o sistema financeiro privado será requisitado". O executivo citou que a Copa do Mundo e Olimpíadas irão exigir mais investimentos em infraestrutura, o que causará equilíbrio do setor público com privado.
O saldo de recursos do BNDES em abril de 2011 chegou a R$ 364,3, com R$ 178 bilhões de origem direta e R$ 186,3 bilhões de repasses. O estoque total de recursos direcionados foi de R$ 614,7 bilhões.
O gerente financeiro da Braskem, Rogério Coura, concorda com a importância do financiamento. "O acesso ao crédito mais elaborado e com custos mais atrativos é fundamental para o desenvolvimento das empresas".
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