17 de jun. de 2011

LOJISTA GANHA LIBERDADE E PODER DE NEGOCIAÇÃO

jornal Valor Econômico 16/06/2011 - Adriana Cotias e Filipe Pacheco

O lojista foi o maior beneficiado pela abertura do mercado de cartões, que ocorreu a partir da quebra da exclusividade da Cielo com a bandeira Visa, e, por tabela, da Redecard com a MasterCard. A maior concorrência possibilitou a redução de um dos principais itens de custos dos lojistas: as despesas mensais com as redes de capturas de transações. Os efeitos para o consumidor, porém, são ainda incertos.

Para se ter uma ideia, na Redecard, que estrategicamente se valeu de uma política mais agressiva de preços para ganhar participação de mercado, a taxa média cobrada por transação (já descontada a parcela que vai para o banco emissor) caiu de 1,40% para 1,13% entre o primeiro trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2011. Na Cielo, a taxa média saiu de 1,48% para 1,22%. O preço médio de aluguel de maquininhas de captura (POS) encolheu 29%, de R$ 69 para R$ 49 no caso da Redecard e em 4% na Cielo, 4%, de R$ 72,1 para R$ 69,2.

"Antes, trabalhávamos com as máquinas da Visanet (atual Cielo) e da Redecard e não havia abertura nenhuma da parte delas para negociação, as condições eram impostas, a gente não tinha poder de barganha", diz Rodrigo Gimenez, proprietário da Rota 99, rede de artigos para o lar com sete lojas na Grande São Paulo.

Quando começou a ter liberdade de escolha, em julho, o empresário conversou com as duas operadoras e acabou ficando só com a Cielo. A taxa descontada por transação de crédito caiu de 3% para 2,5%. Ele estima que a economia por ano chegue a R$ 5 mil. Gimenez conta que recorrentemente a Redecard propõe isenção do aluguel de POS, caso as venda pela maquininha da empresa atinjam R$ 1 mil por mês. "Isso antes era simplesmente impensável."

Nas 99 lojas da Collins, de moda feminina, as franquias estão fazendo a transição para as máquinas da GetNet/Santander, mas os lojistas têm mantido os equipamentos da Redecard enquanto testam a nova tecnologia, contou uma das gerentes. Junto com a captura, a varejista negociou uma série de serviços bancários, como o processamento da folha de pagamento.

Embora ainda não afete diretamente o bolso do consumidor, a redução de custos tende a se traduzir numa melhor qualidade no processo de atendimento, entende a superintendente da unidade comercial e de marketing do Banrisul, Maria Inês Bilhar.

Com a economia obtida na repactuação do contrato em que elegeu a Cielo como única rede de captura de cartões, o grupo Tellerina, que reúne as lojas da joalheria Vivara e a de móveis Etna, pode investir em outros projetos, como aumentar a verba de marketing. "E à medida que ganhe vendas e competitividade, a companhia pode até repassar a redução de custos para o consumidor", diz Rodrigo Domingues, gerente financeiro do grupo varejista.

Até aqui, as associações de comércio não reportaram o repasse do custo menor do varejo com serviços de cartões para o consumidor final, pontua Boanerges Ramos Freire, da Boanerges & Cia, consultoria de varejo financeiro. "Mas, futuramente, isso talvez possa ser identificado, principalmente nas grandes redes de varejo, responsáveis pelos maiores volumes movimentados com cartões e segmento em que a concorrência é mais forte também."

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