jornal Diário do Comércio 06/06/2011 - Neide Martingo
Pagar contas pela internet já há muito tempo se transformou em um hábito corriqueiro para muitos brasileiros, o que também é válido quando se fala em cartões de crédito e débito e em compras pela web. Dentro de pouco tempo será igualmente comum sacar o telefone celular na hora de pagar uma despesa. Pois é nesse Brasil que a maioria das pessoas se mantém fiel ao mais tradicional dos meios de pagamento: o dinheiro vivo.
Recente pesquisa feita em todo o País pelo Banco Central (BC) revela que cédulas e moedas ainda são a forma de pagamento mais usada pela população – o dinheiro em espécie é o preferido de nada menos que 72% dos brasileiros. A tendência, no entanto, é de queda na participação: no levantamento anterior, de 2007, citaram a preferência por notas e moeda 82% dos entrevistados.
O sucesso do dinheiro é ainda mais curioso quando se observa outra constatação da pesquisa: entre 2007 e 2010, subiu de 39% para 51% a quantidade de pessoas que têm conta em banco – o dado mostra que, apesar do maior acesso aos bancos, as pessoas continuam sacando dinheiro para pagar suas contas. O recebimento do salário em espécie é realidade para 55% dos entrevistados. De qualquer maneira, a presença do dinheiro de plástico também é ascendente. Em 2007, apenas 8% dos pagamentos eram feitos com cartões de crédito, volume que passou a 13% no ano passado; no caso dos cartões de débito, a alta foi de 8% para 14% no período.
"O uso do dinheiro em espécie é mais comum para gastos menores, como passagem de ônibus, lanches e cafezinho, por exemplo. Os cartões são mais usados nas compras em supermercados e lojas de roupas e calçados", afirma o chefe do departamento do meio circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho. "Ainda faz parte da cultura do brasileiro utilizar o dinheiro", acrescenta.
Preferências
A maioria dos 2.089 entrevistados, ouvidos em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal no primeiro semestre de 2010, costuma ter no bolso até R$ 20. As notas de R$ 10 e de R$ 5 são as preferidas e as que mais fazem falta: 48% têm essa queixa.
"Esses dados são repassados aos bancos, para que coloquem mais notas de pequeno valor nos caixas eletrônicos", diz Figueiredo Filho. Entre as pessoas ouvidas, 67% gostariam de ter notas de R$ 2, R$ 5 e R$ 10 nas máquinas.
"Cofrinhos"
Do total de pessoas consultadas para o levantamento, 61% consideram a carteira o melhor lugar para guardar as cédulas, 24% preferem o bolso, 9% normalmente deixam as notas soltas na bolsa. As moedas têm tratamento um pouco diferente, de acordo com a pesquisa do BC: 33% as guardam no bolso, 22% na carteira e 30% em porta níqueis.
Mas sempre há quem inove ou decida relembrar costumes bem antigos, caso da operadora de telemarketing Sandra de Moraes, que guarda o dinheiro no sutiã. Geralmente, ela tem R$ 20 por dia "guardados", dinheiro que usa para para pagar lanches ou o almoço; para outras despesas, Sandra usa cartões de crédito e débito. "Meu dinheiro fica bem protegido, afinal ninguém vai mexer no meu sutiã", diz, bem-humorada. "Nunca fui assaltada."
Já para a mestra de cerimônias Nicoli Miranda, mais importante é a comodidade. Ela carrega em média, todos os dias, R$ 500 em uma bolsa de grife – e diz não ter medo de ser assaltada. "Faço os pagamentos da minha empresa em dinheiro. E se eu quiser comprar alguma coisa sempre tenho o dinheiro, é mais prático." As contas fixas, de telefone e água, por exemplo, ela prefere pagar com cartão de débito.
A realidade do varredor de ruas Domingos Braz Costa (à esq.) é bem diferente: ele carrega, em média, R$ 10 na carteira. "Mesmo assim, eu já fui assaltado duas vezes." As contas ele paga diretamente no banco. Ele recentemente encontrou, durante o trabalho, uma carteira cheia de cartões de débito e crédito, "provavelmente de alguém que foi roubado". A carteira foi devolvida ao dono.
Cartões
O crescimento da participação dos cartões nas compras dos brasileiros é mais visível em alguns segmentos do varejo, como os supermercados. De acordo com especialistas, a mudança está relacionada ao fim do período de hiperinflação com a criação do Plano Real, há 17 anos. "Em um cenário de estabilidade econômica, os cartões passam a ser sinônimos de comodidade", afirma o professor de estratégia do Insper, Guilherme Fowller.


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