23 de jul. de 2010

CRÉDITO ALAVANCADO É ARMA DO HSBC NA UNIÃO COM CIELO

jornal Valor Econômico 01/06/2010 - Adriana Cotias
A alavancagem de crédito em até oito vezes para operações de antecipação de recebíveis de cartões será uma das armas do HSBC para trabalhar na retenção e filiação de estabelecimentos comerciais para a Cielo. Conforme antecipado pelo Valor, o banco fechou ontem acordo de preferência com a empresa para oferta de um pacote que unirá serviços bancários e a captura de transações de débito e crédito aos lojistas.

A iniciativa casa com a estratégia do grupo inglês de avançar no disputado segmento de pequenas e médias empresas - nicho em que detém participação de cerca de 5% do mercado - e, ao mesmo tempo, abocanhar fatia do resultado do negócio de adquirência, diz o diretor da área recém-criada no HSBC, Daniel Zabloski. "Com as mudanças a partir de 1º de julho, era óbvio que o HSBC teria que se posicionar", afirma, referindo-se ao fim da exclusividade da Cielo com a Visa. A Redecard passará a capturar Visa e a Cielo a MasterCard, além de outras bandeiras.

O comissionamento virá da combinação de manutenção de lojistas que já estão na carteira do banco e do credenciamento de novos. O portfólio atual do HSBC é formado por 140 mil estabelecimentos. A remuneração, segundo o presidente da Cielo, Rômulo Dias, será a partir do atingimento de metas de médio e longo prazo, que podem disparar a partilha. Os executivos não detalharam, porém, os termos do acordo.

Há oito meses, o HSBC vinha conversando tanto com a Cielo quanto com a Redecard. Pelo que se comenta no mercado, ficou perto de fechar parceria com a Redecard há cerca de três semanas, mas as negociações não evoluíram a contento. Zabloski evita dizer por que o banco acabou optando pela Cielo em detrimento do principal concorrente da empresa.

No setor o que se comenta é que o ponto de controvérsia pode ter sido a antecipação de recebíveis. Na forma como foi costurada a parceria com a Cielo, o HSBC poderá adiantar inclusive faturas de cartões de crédito performadas, linha de receitas que é mais sensível para a Redecard, que antecipou no primeiro trimestre o equivalente a 25,5% do volume de transações de crédito, ou R$ 6,8 bilhões. A Cielo fez pré-pagamentos de R$ 2,2 bilhões, só 5,8% do total de crédito.

Os passos do grupo inglês nesse campo eram mesmo previstos. Após o Santander anunciar, no fim do ano passado, a entrada no segmento de adquirência sem ter investido um único centavo - graças a uma parceria com a processadora GetNet -, e, passando a abocanhar 100% da taxa de administração líquida (a tarifa cobrada dos estabelecimentos, descontando-se a fatia que cabe aos emissores), a lógica era buscar um acordo que valorizasse o papel do HSBC no relacionamento com os lojistas.

Na linha de frente, o banco vai oferecer vantagens aos comerciantes que centralizarem o fluxo das suas transações de débito e crédito com todas as bandeiras na batizada "conta única", podendo dar até isenção de tarifas. No crédito, a agressividade vem pela possibilidade de alavancar as operações em até oito vezes o faturamento com cartões em operações de capital de giro.

Depois do grupo espanhol, o HSBC é a primeira instituição financeira fora do bloco de controle ou da Cielo (que tem como seus acionistas o Banco do Brasil e o Bradesco) ou da Redecard (Itaú Unibanco) a definir sua estratégia para o ramo de credenciamento. Outros bancos tendem a costurar acordos semelhantes.

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