25 de jul. de 2010

CARTÃO PRÉ-PAGO SAÚDE PODE ATINGIR 105 MI DE PESSOAS

jornal Brasil Econômico 06/07/2010 - Thais Folego

No Brasil, apenas 40 milhões de pessoas possuem hoje planos de saúde complementar. Pertencem majoritariamente às classes A, B e C+. Os outros 150 milhões usam o Sistema Único de Saúde (SUS). Para esse público, que tem potencial consumidor de produtos de saúde, mas que não pode pagar o valor de um plano, acaba de ser lançado pela APPI um cartão pré-pago de saúde. A APPI é uma empresa carioca de tecnologia da informação fundada em 1993 que atua em três segmentos, oferecendo soluções de conectividade: meios de pagamentos (tem a Cielo como maior cliente), transportes (bilhete eletrônico) e saúde, para autorização de planos.

O sistema do pré-pago é simples: cada consulta, independentemente da especialidade médica, custa R$ 50. Os exames variam de preço de acordo com o tipo, mas têm os valores previamente fixados. Assim, o usuário carrega apenas o valor que vai usar na rede credenciada. Não há serviço hospitalar de emergência. "A meta é atingir 21 milhões de brasileiros em dez anos", diz Alberto Techera, diretor da divisão de saúde da APPI. Esse montante equivale a 20%, dos 105 milhões de potenciais usuários. A diferença para os 150 milhões de usuários do SUS são pessoas que têm renda de até um salário mínimo (classe E). E que provavelmente vão continuar no SUS.

O público potencial é composto por pessoas das classes C e D, com renda mensal entre R$ 500 e R$ 2.500. "Por meio de urna pesquisa de mercado, constatamos que esse público tem potencial de gasto médio de R$ 18 mensais com produtos de saúde suplementar", conta o diretor. Segundo Techera, são quatro os fatores de motivação do público pelo cartão: não ter despesa mensal fixa, ter uso extensivo à família (não havendo um custo para cada membro), o custo acessível e não ter restrição de uso.

Já na outra ponta, do médico ou laboratório, para aceitar o cartão, o risco de inadimplência é zero, com o recebimento do valor em dois dias úteis - enquanto a média dos planos de saúde é de 30 dias. Para credenciar médicos, a APPI conta com a parceria de algumas unidades da Unimed, que já são suas clientes.

Para distribuir o cartão aos usuários, a APPI está fechando parcerias com redes de farmácia, como a Extrafarma, que tem uma bandeira própria com base de 1,2 milhão de usuários. Já na cidade de Ananindeua, no Pará, a parceria é com uma empresa de transporte público. "São empresas que já emitem seus cartões, que passarão a ter dupla função", explica Techera.

Como tudo começou

Em 2007, a APPI foi procurada pela Unimed do Rio de Janeiro, que estava interessada em criar um produto para as classes C e D. No final do mesmo ano, teve início um piloto em Itaperuna, norte do Rio. Com 90 mil habitantes, a meta era que fossem feitas 500 vendas por mês. Hoje, são 15 mil usuários, 17% dos moradores. "Nesses dois anos e meio, fizemos ajustes, como facilidades operacionais de recarga do cartão, e incluímos consultas de psicologia, que foram pedidas", conta Techera.

A recarga começou com pagamento de boleto ou via internet. Hoje, ela pode ser feita em redes de farmácias e supermercados. "A ideia é ter uma rede de recarga com mais de 120 mil pontos. Por isso, estamos em negociação com uma empresa que já tem essa rede", diz Techera, sem revelar o nome da empresa.

A APPI agora está implementando o cartão em Minas Gerais, Espírito Santo, Pará e Ceará. "Até o final do ano a expectativa é que tenhamos 1,3 milhão de usuários", diz o diretor da APPI.

Empresa será credenciadora e bandeira de saúde

Com a abertura do mercado de cartões, os especialistas diziam que novas empresas iriam entrar nesse mercado, em nichos, ou atuando em partes do processo de processamento ou credenciamento de estabelecimentos para a aceitação de cartão.

E isso já começa a acontecer. Para criar o cartão pré-pago saúde, a APPI criou uma empresa de processamento e credenciamento, a Onix Serviços de Valor Agregado, que provê a rede por onde passam as operações do cartão. Como já tem unidades da Unimed como cliente, algumas atuam em parceria com a empresa para esse trabalho. A Unimed tem unidades independentes. No total, são 360 em todo o Brasil. Normalmente, são de cidades ou grupo de cidades. Unimeds, normalmente cidades ou grupo de cidades. Só o Rio de Janeiro tem 21. São Paulo, 64 unidades. A APPI. tem parceria com 36 Unimeds: as 21 fluminenses, a do Espírito Santo e 14 do sul de Minas Gerais. A APPI também criou uma bandeira chamada Sempre.

"Quando se começa um negócio novo como este, a empresa tem de fazer tudo: a função da bandeira, credenciamento e processamento", observa Boanerges Ramos Freire, presidente do Grupo Setorial de Pré-Pagos (GSPP), Capítulo Brasil do Prepaid Internacional Forum. O grupo trabalha na regulação das diversas modalidades dos cartões pré-pagos, para evitar que sejam usados indevidamente, como para lavagem de dinheiro.

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