25 de jul. de 2010

A DURA BARGANHA DO VAREJO COM AS REDES DE CARTÕES

jornal Brasil Econômico 08/07/2010 - Cintia Esteves e Thais Folego

Com o fim da exclusividade nas redes que operam cartões de crédito, agora são os lojistas que dão as cartas nas negociações de aluguel das máquinas de cartão de crédito. Os descontos fornecidos por credenciadoras como Cielo e Redecard chegam a até 30%, e em alguns casos os varejistas estão conseguindo inclusive isenção total da mensalidade. Mas o cenário é bem diferente quando o assunto é taxa de desconto (percentual pago sobre o valor de cada venda), justamente de onde sai o maior desembolso do lojista. Nesse ponto, as empresas não estão muito dispostas a negociar, segundo relato de comerciantes.

Um deles é Marcos Toledo, proprietário de 12 lavanderias da marca 5 à Sec, que espera concluir a negociação com as credenciadoras até o mês que vem. Por enquanto, o empresário conseguiu desconto de 30% na mensalidade da máquina de uma das empresas. "Eles estão baixando o preço, mas quero isenção total", diz. Atualmente, ele paga uma média de R$ 100 para cada máquina. Com dois terminais por loja, o custo da rede fica em torno de R$ 2,4 mil mensais. A taxa de desconto cobrada nas lojas varia de 2,7% a 3%. "Nesse ponto, as credenciadoras estão irredutíveis", ressalta Toledo.

De acordo com Alvaro Musa, presidente da consultoria financeira Partner Consult, a taxa de desconto cobrada no crédito não deve cair para menos que 1,8%. Isto porque a taxa de desconto é a remuneração do credenciador, da bandeira (Visa, Mastercard, American Express e outras) e do emissor do cartão (bancos ou varejo). "O 1,8% é o percentual fixo que o credenciador tem que pagar para a bandeira e para o emissor, sobre isso ele ainda tem que colocar os seus custos operacionais e a margem de lucro", explica o especialista.

Foi no dia 1º de julho que o comércio ganhou sua liberdade. A partir de agora, o lojista pode utilizar um único terminal de pagamento para processar cartões de débito e crédito de todas as bandeiras. Antes, uma máquina da Cielo só aceitava a bandeira Visa. E para permitir pagamentos com Mastercard, por exemplo, o lojista precisava de um terminal da Redecard. A nova medida traz opção de escolha para as lojas que, em média, tinham que contar com três diferentes máquinas de cartão e pagar aluguel por todas elas.

Nas lojas Beluga e Pink & Co., as negociações com as credenciadoras também caminham para a isenção dos aluguéis. "Provavelmente não pagaremos mensalidade, mas o aluguel pesa pouco no nosso orçamento. O que conta mais é a taxa de desconto", diz Marcelo Salomão, proprietário das duas marcas que, juntas, somam 23 lojas. "Mesmo assim, o desconto no aluguel é melhor do que nada", completa o empresário. As taxas de desconto cobradas pelo credenciador variam de acordo com o volume de transações do estabelecimento. Hoje a taxa média cobrada do lojista é de 3,5% por transação de crédito. No caso da rede Beluga, considerando débito e crédito, ela varia de 1,5% a 3,5%.

Desconhecimento

Apesar do desconto no valor dos aluguéis, ainda tem lojista que não sabe o que fazer. "Isso tudo é muito novo. Estou esperando as credenciadoras entrarem em contato", diz Fábio Shoel, dono da Guelt, atacadista de vestuário feminino.

Há também quem não tenha interesse na mudança. "A Cielo entrou em contato conosco, mas preferimos continuar com as duas máquinas. Se o terminal que aceita Visa der problema, pelo menos teremos o da Mastercard funcionando", diz a gerente de uma loja de moda feminina do Shopping Ibirapuera, na capital paulista. Já Salomão, da Beluga, não se preocupa. "Se o aluguel não for cobrado, posso ter duas máquinas em cada loja", diz.

Segundo projeção da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), com nova medida o varejo economizará R$ 1,2 bilhão em aluguel de máquinas. Hoje, dependendo do tipo do equipamento, o aluguel de cada terminal pode custar entre R$ 80 e R$ 140.

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