24 de jul. de 2010

BANCOS TEMEM QUE FARRA DO CARTÃO VIRE INADIMPLÊNCIA

jornal O Estado de S. Paulo 21/06/2010 - Fernando Nakagawa
O boom das operações com juro no cartão de crédito acendeu a luz amarela nos bancos. O temor principal é que o recorde de operações se transforme em uma explosão da inadimplência caso mude o rumo da economia.

Há, porém, outro fenômeno que surpreendeu banqueiros: o uso do dinheiro de plástico pelos clientes de menor renda. Parte desses consumidores estreantes no mercado tem enfrentado dificuldade em entender o funcionamento desse meio de pagamento. A situação preocupa instituições financeiras.

Boa parte dos milhões de cartões emitidos nos últimos anos foram para o bolso de clientes da chamada nova classe média. Muitos nunca haviam tido contato com o meio de pagamento. A estreia desses consumidores, que foi amplamente comemorada pelo mercado, tem trazido alguns empecilhos aos bancos.

Casos não faltam. Há consumidores que acham que só precisam pagar o valor descrito no campo "pagamento mínimo". Outros sacam dinheiro do cartão para ajudar em compras que têm financiamento mais barato, como material de construção ou carro usado.

Educando o cliente. Aparentemente, a situação parece boa para os bancos já que o cartão cobra o maior juro do mercado. Mas a natureza dos casos tem causado desconforto nos bancos que temem que o uso inadequado cartão possa comprometer tanto o cliente a ponto de o consumidor perder a capacidade de honrar a dívida. Assim, a operação que daria um grande lucro vira prejuízo.

Para tentar evitar o problema, bancos passaram a ser mais agressivos na tentativa de "educar" clientes.

O Santander iniciou campanha que explica que toda compra tem uma linha de crédito adequada. Diz, por exemplo, que há empréstimos para períodos curtos que funcionam como um táxi, que é usado para distâncias menores. "Você iria de táxi de São Paulo a Recife?", questiona o comercial exibido em horário nobre.

O Itaú tem publicado pequenas cartilhas em revistas populares com dicas simples para evitar descontrole de gastos como "usar comandas individuais em bares".

"A intenção é evitar transformar o cliente em uma arma. As instituições entenderam que se o consumidor usar o crédito de forma inadequada ou tiver uma vida financeira desorganizada, a vítima será o próprio banco", diz Rodrigo Del Claro, diretor da Crivo, consultoria de análise de risco que presta serviço ao sistema bancário.

"Os recados são para os novos clientes das classes C e D. Os bancos estão com medo de inadimplência desse pessoal", completa Del Claro.

Explicação psicológica. Já que o juro não explica a troca do cheque pelo cartão, alguns especialistas passaram a buscar outras razões para o fenômeno. O professor de finanças pessoais do Insper, Ricardo José de Almeida, afirma que muitos clientes preferem "reservar" o limite do cheque especial para emergências.

"Quando o cliente não tem dinheiro para pagar o cartão, opta em usar o rotativo porque quer manter o limite da conta corrente para emergências. O raciocínio é que o cartão nem sempre é aceito em uma urgência, como no médico ou em uma oficina", diz.

Há ainda a percepção de que usar o rotativo ou sacar dinheiro do cartão são ações "menos graves" que enxergar o saldo negativo da conta.

É um efeito meramente psicológico. "Infelizmente, clientes não olham os juros. Porque a escolha racional seria optar pelo menos alto, que, nesse caso, é o cheque", lamenta.

Para o especialista, o movimento é preocupante. "É um dinheiro caro, o mais caro disponível nos bancos. Em uma situação de reversão da econômica, o juro alto pode, facilmente, transformar a dívida que aparentemente é administrável em uma bola de neve incontrolável", diz.

Panamericano cria um cartão novo em cinco minutos

Cinco minutos. Esse é o tempo para o cliente preencher uma ficha, apresentar documentos e sair com um cartão de crédito novinho no bolso.

O que parecia impossível há pouco tempo, acontece todos os dias em estandes de venda na entrada de dois mercados de bairros de classe média baixa de São Paulo ? um no Jaraguá e outro no Lauzane Paulista.

Agressiva, a ação descrita acima é do Banco Panamericano. Foi criada para os consumidores da chamada nova classe média, que representa metade da população brasileira.

Para atrair os clientes, o banco não cobra anuidade nos cartões emitidos nos supermercados e oferece limites distintos para compras à vista e a prazo, o que incentiva o parcelamento. Para conseguir entregar o cartão em cinco minutos, o banco teve de instalar máquinas que gravam o nome do cliente na hora.

Pesquisa realizada pelo Datapopular mostra que esses clientes da classe C já respondem por 61% dos cartões de crédito em circulação no Brasil. Para efeito de comparação, as classes A e B carregam 15,8% dos plásticos emitidos.

Mesmo com tamanha presença entre os clientes da nova classe média, ainda há muito espaço para crescer. Apenas 60% das pessoas da classe C têm cartão em seu nome.

Um comentário:

Rodrigo Corrêa SP disse...

O pior na farra é que as pessoas estão recebendo cartão de todos os Bancos e Administradoras ou seja quem tem uma renda de R$ 1.500,00 mensal por exemplo consegue tirar 6 , 8 cartões na praça com uma média de 1.000,00 de limite o que dá um total de 6.000 a 7.000 de limite. Como alguém que ganha R$ 1.500,00 consegue esse limite ? O pior é se pagar o mínimo da fatura aí vira bola de neve. Acredito que isso aliado a outras "facilidades" de crédito, carro em 60 meses sem entrada, será a próxima crise financeira, espero estar errado.