5 de jun. de 2008

RECEITA DE SERVIÇOS JÁ CRESCE MENOS

jornal Valor Econômico 27/05/2008 - Maria Christina Carvalho


As novas regras para as tarifas bancárias já começam a ter impacto nos resultados dos bancos. Nos doze meses terminados em março os seis maiores bancos de varejo tiveram um aumento de 11,6% nas receitas de serviços, abaixo do crescimento médio anual ao redor de 20%, exibido anteriormente. A amostra inclui o Bradesco, Itaú, Unibanco, Banco do Brasil, Real e Santander. No ano passado inteiro, a receita de serviços desses bancos cresceu 16,3% e somou R$ 41,7 bilhões. Todo o sistema bancário arrecadou R$ 59,1 bilhões com serviços, 11,9% a mais que em 2006.

A contribuição das tarifas para as receitas totais desse grupo de bancos caiu de 19% no primeiro trimestre para 17% nos primeiros três meses deste ano. Para compensar, cresceram as receitas de crédito, de 49% para 53%, segundo calculou o Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad). A participação das receitas com tesouraria e seguros ficaram relativamente estáveis em 4% do total cada uma.

A influência das novas regras deve ser mais evidente nos próximos balanços uma vez que entraram em vigor gradualmente. Do pacote divulgado em dezembro, só passou a valer imediatamente a a resolução nº 3.516, que proíbe a cobrança de tarifa em decorrência da liquidação antecipada de contratos de concessão de crédito, a TLA. A exigência para que os bancos divulguem o custo efetivo total (CET) das operações de crédito, prevista na resolução nº 3.517, começou no início de março. E a medida que disciplina a cobrança de tarifas, pela resolução nº 3.518, passou a vigorar em maio.

Esta última é que deverá ter maior impacto nos bancos uma vez que reduziu o número de taxas básicas de 55 para 20, padronizou os nomes para permitir a comparação entre os bancos e estabeleceu o prazo mínimo de 180 dias para a correção dos valores. Além disso, foi criado um pacote mínimo gratuito.

O diretor do Banco Itaú, Silvio de Carvalho, afirmou que, além do fim da cobrança da taxa de liquidação antecipada dos créditos, a maior competição entre os bancos está reduzindo a receita de serviços. "A receita de serviços sofreu muita interferência reguladora", disse o vice-presidente do Unibanco, Geraldo Travaglia.

A analista financeira do Inepad, Gabriela Teixeira de Azevedo, vê também influência do forte crescimento das receitas de crédito de 34,4%, na média dos seis bancos, o que diluiu o peso dos serviços.

Lika Takahashi, analista da corretora do Banco Fator, em relatório enviado a clientes, ressaltou que as receitas de serviços do primeiro trimestre tanto do Bradesco quanto do Itaú ficaram abaixo das suas previsões. No caso do Bradesco, ela notou a diminuição das tarifas de conta corrente e de operações de crédito, com a redução da cobrança da taxa de abertura de crédito (TAC). No Itaú, ressaltou a redução das receitas com corretagem e serviços de assessoria econômica e financeira. Também no caso do Itaú as tarifas de crédito para reduzidas com a diminuição da TAC.

No Bradesco, os serviços têm um peso maior nas receitas totais do que na média do grupo de bancos, de 25%. Ainda assim é inferior aos 29% de participação que tinham no primeiro trimestre de 2007. As receitas de crédito ficaram estáveis com uma fatia de 25%; a de títulos caiu de 8% para 6%; a de captações recuou de 7% para 5%; mas a de seguros saltou de 31% para 39%.

As receitas de serviços cresceram 9,5% em doze meses terminados em março e somaram R$ 2,803 bilhões no primeiro trimestre deste ano no Bradesco, e caíram 3,2% frente ao quarto trimestre.

Já revelam impacto das novas regra as tarifas relacionadas à conta corrente, que somaram R$ 578 milhões no primeiro trimestre, com variação de 0,7% sobre igual período de 2007 e queda de 5,1% sobre o quatro trimestre.

As receitas com operações de crédito cresceram 13,2% em doze meses, embora tenham caído 4,2% sobre o quatro trimestre para R$ 499 milhões. A carteira de crédito do banco, sem avais e finanças, cresceu 35,9% em doze meses e 5,2% no ano, para R$ 144,7 bilhões.

Um destaque foi o crescimento de 21,5% das rendas de cartões para R$ 120 milhões, atribuída ao aumento de 21,1% da base de cartões, de 60,2 milhões para 72,971 milhões. Desse total, a base de cartões de crédito evoluiu de 13,9 milhões para 18,4 milhões, 32,3%. Os cartões private label cresceram de 5,8 milhões para 10,1 milhões.

Segundo o banco, a queda de algumas receitas foi causada pelo realinhamento de tarifas cobradas na conta corrente da pessoa física, menor receita das operações de crédito em decorrência da redução da cobrança da taxa de abertura de crédito; diminuição das operações de mercado de capitais face ao cenário econômico e maior volume de transações com cartões no quarto trimestre de 2007.

A receita de prestação de serviços do Itaú cresceu 3,4% em doze meses para R$ 2,503 bilhões no primeiro trimestre de 2008. As receitas com análise e concessão de crédito puxaram o crescimento, com elevação de 23,8% em doze meses. Esse desempenho decorre da ampliação da carteira de crédito, de 37,8% em doze meses, para R$ 125,66 bilhões em março passado, excluindo avais e fianças.

As receitas de operações com cartões de crédito aumentaram 4,4% com a expansão da base de clientes e do valor transacionado. O número de clientes ativos passou de 13,1 milhões para 13,6 milhões. Ao final do primeiro trimestre, o Itaú tinha cerca de 15 milhões de cartões no mercado, responsáveis pelo faturamento de R$ 10,9 bilhões, o que lhe garante 22,3% do mercado, segundo reivindica o banco.

No Unibanco, as receitas de serviços passaram de R$ 836 milhões no primeiro trimestre de 2007 para R$ 914 milhões em igual período deste ano, com crescimento de 9,3%. Um destaque foi o crescimento de 32,2% das receitas de cartões de crédito, influenciadas pelo aumento do número de cartões.

As tarifas de cartões de crédito, incluindo Unicard e Hipercard, passaram de R$ 121 milhões no primeiro trimestre de 2007 para R$ 160 milhões em igual período deste ano; a de administração de recursos de terceiros caiu de R$ 80 milhões para R$ 77 milhões entre o primeiro trimestre de 2007 e igual período deste ano.

O negócio de cartões de crédito do Unibanco é composto pelas empresas Unicard, Hipercard e Redecard. A carteira de crédito dos cartões cresceu 39,2% em doze meses para R$ 6,887 bilhões. Em número de cartões, passou de 30,4 milhões em março de 2007 para 35,4 milhões em março passado, dos quais 26,8 milhões são cartões bandeirados, sendo 17,5 milhões Visa e Mastercard; e 9,3 milhões, Hipercard, além de 8,6 milhões private label.

Entre as receitas do Unibanco, as tarifas bancárias reduziram a participação no computo geral de 23% no primeiro trimestre de 2007 para 19% em igual período deste ano. Os cartões mantiveram os 19%; os seguros caíram de 9% para 8% e o resultado financeiro saltou de 46% para 51%, reflexo do aumento do volume da intermediação financeira, decorrente em grande parte do crescimento da carteira de crédito.

Das receitas de prestação de serviços, a de tarifas bancárias e comissões cresceram de R$ 483 milhões no primeiro trimestre de 2007 para R$ 548 milhões no quarto trimestre do ano passado, caindo para R$ 530 milhões no primeiro trimestre deste ano.

A carteira de crédito atingiu R$ 66,153 bilhões com crescimento de 7,7% no primeiro trimestre e de 40,7% em doze meses.

A receita de serviços do Banco Real passou de R$ 860 milhões no primeiro trimestre de 2007 para R$ 997 milhões em igual período de 2008, crescendo 16%. Segundo o banco, isso é resultado do aumento da base de clientes de 3,9 milhões para 4,1 milhões. A carteira de crédito deu um salto de 34%, para R$ 68,698 bilhões.

O aumento do volume de recursos de terceiros administrados propiciou aumento de 9% na receita com essa atividade, passando de R$ 84 milhões para R$ 92 milhões. A corretagem de seguros propiciou uma receita 17% maior em doze meses, de R$ 23 milhões para R$ 27 milhões. E a principal conta, a receita com tarifas bancárias e comissões aumentou 15%, de R$ 574 milhões para R$ 658 milhões.

No Santander, a receita de serviços passou de R$ 811,78 milhões para R$ 916,03 milhões, com expansão de 12,8%.

O banco conquistou 200 mil novos clientes no primeiro trimestre e 1 milhão em 2007, atingindo 8,3 milhões, sendo 4,5 milhões de correntistas. A carteira de crédito aumentou 27% para R$ 45,9 bilhões.

Os serviços de conta corrente tiveram a receita estabilizada em R$ 160,6 milhões em comparação com R$ 160,3 milhões no primeiro trimestre de 2007. Caíram as receitas de administração de fundos e de corretagem. Mas as receitas com operações de crédito saltaram de R$ 194,86 milhões para R$ 327,64 milhões; e as com cartões de crédito passaram de R$ 77,5 milhões para R$ 98,5 milhões

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