jornal Valor Econômico 13/06/2008 - André Borges
A fabricante americana de terminais de auto-atendimento NCR vem passando um pente fino em empresas brasileiras em busca de uma aquisição no país. Em visita a clientes e parceiros em São Paulo e no Rio de Janeiro, Bill Nuti, executivo-chefe da companhia, confirma o interesse em adquirir operações locais. "O que podemos dizer é que temos feito vários processos de due diligence (consultorias prévias para apurar informações de empresas); estamos analisando possibilidades", disse o executivo ao Valor.
Os olhos de Bill Nuti estão voltados para o bilionário mercado brasileiro de ATMs. O país, diz ele, é hoje o terceiro maior mercado do mundo para caixas de auto-atendimento, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Ao todo, são mais de 170 mil máquinas instaladas, segundo pesquisa divulgada recentemente pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Segundo Nuti, não é fácil lidar com o fato de liderar o setor em diversos países do mundo e não no Brasil, onde a companhia já está presente há 71 anos. "Vamos buscar essa liderança aqui, e rapidamente."
Ao que tudo indica, a NCR está disposta a seguir o mesmo caminho trilhado pela Diebold, a concorrente americana que nove anos atrás pagou cerca de US$ 230 milhões pela brasileira Procomp. O resultado é que hoje a Diebold Procomp - como passou a ser chamada - tem cerca de 60% do mercado de ATMs no país, com aproximadamente 100 mil máquinas instaladas, três fábricas locais (duas em Manaus e uma em São Paulo) e faturamento superior a R$ 1 bilhão em 2007. O cenário ainda é bem diferente para a NCR, que atualmente briga no mercado com uma participação de apenas 6% e pouco mais de 10 mil máquinas instaladas no país.
Bill Nuti prefere não detalhar o "alto investimento" que a NCR está disposta a fazer para ampliar sua fatia de mercado. Ao buscar crescimento rápido, porém, o mais provável é que a NCR concentrará sua atenção em poucos nomes da indústria. Hoje, além de Diebold e NCR, o mercado de serviços, sistemas e equipamentos de ATMs está basicamente pulverizado entre a Itautec, do Itaú; a Scopus, do Bradesco; a Cobra Tecnologia, do Banco do Brasil; e a Perto, do grupo Digicon. Procuradas, todas negam estar em processo de negociação com a NCR.
Bill Nuti sabe que, com exceção da gaúcha Perto, todas são provedoras de serviços de suporte ou equipamentos para seus controladores, incluindo os maiores bancos do país. Embora sejam concorrentes, fica claro que as aproximações são bem-vindas. "Temos mantido contato com a NCR", diz Jorge Wilson, presidente interino da Cobra Tecnologia. "Vemos a possibilidade deles virem a atender o Banco do Brasil, embora ainda não exista nada fechado."
Ainda que a Cobra tenha desenvolvido um protótipo de auto-atendimento, o braço de tecnologia do BB está concentrado em prestar serviços de manutenção e suporte à rede do banco, que sozinho soma mais de 40 mil ATMs. Já faz algum tempo que o BB estuda formas de tirar a Cobra do caos financeiro em que a empresa se meteu nos últimos anos, e uma possibilidade é justamente abrir espaço para um sócio. "Sempre surge esse assunto, mas por enquanto não há nada fechado com ninguém."
A despeito de aquisições, Bill Nuti diz que também é possível que a NCR opte pelo crescimento orgânico de suas operações, uma alternativa que poderia até resultar na construção de uma fábrica no país. Esse caminho, no entanto, parece mais remoto. Em março do ano passado, a NCR fechou a fábrica que mantinha em São Paulo e terceirizou a produção local com a Solectron, comprada um ano atrás pela Flextronics. O mesmo movimento foi feito em fábricas nos EUA.
Segundo Nuti, a NCR vive um momento de transição em que a produção de máquinas continua importante, mas abre cada vez mais espaço para a oferta de serviços e sistemas financeiros, que apresentam margens de lucro mais gordas. No ano passado, metade da receita de US$ 4,97 bilhões da empresa veio dos negócios de ATM. No Brasil, quem parece estar mais próxima desse cenário é a Scopus, que não produz equipamentos, mas responde por toda a infra-estrutura de serviços do Bradesco. Com mais de 26 mil ATMs espalhados pelo país, o Bradesco acaba de fechar a aquisição de mais 6 mil caixas eletrônicos.
O setor financeiro é um dos maiores comprador de tecnologia do país. Em 2007, segundo a Febraban, os bancos investiram R$ 6,2 bilhões no setor, um aumento de 16% sobre o ano anterior. As despesas totais para manter a infra-estrutura de tecnologia atingiram R$ 15 bilhões.
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