jornal Valor Econômico 16/06/2008 - Maria Christina Carvalho
Em sua primeira apresentação a analistas e acionistas, no final de maio, o diretor de finanças e de relações com investidores do Banco Panamericano, Wilson de Aro, reservou um espaço para 50 pessoas em um hotel de São Paulo, já contando com uma folga para abrigar eventuais funcionários do grupo interessados na exposição. Na última hora, mais 50 cadeiras tiveram que ser providenciadas porque a platéia era o dobro do esperado, e apenas 15 pessoas eram funcionários, certificou-se Aro.
A experiência do Panamericano em sua primeira reunião com a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), de São Paulo, mostra, segundo Aro, o acerto da estratégia do controlador, Silvio Santos, ao abrir o capital do banco e vender 27,9% de suas ações no mercado, no ano passado.
"A abertura de capital resolveu o problema sucessório do Panamericano. Agora há uma fatia grande do banco no mercado. O grupo ganhou 4,5 mil acionistas, aos quais é preciso dar satisfação. A administração foi profissionalizada e há transparência", disse Aro. Dos acionistas, 85% são estrangeiros; 20% dos investidores têm 80% do valor colocado em mercado.
O Panamericano sempre foi um dos bancos mais assediados pelos concorrentes, cobiçado por sua especialização no financiamento ao consumo para a baixa renda. Fundado há 39 anos pelo grupo do empresário de comunicações Silvio Santos, o banco sempre foi focado nessa área e tem um leque amplo de produtos, que inclui o crédito pessoal, inclusive consignado, financiamento de veículos leves e pesados, crédito pessoal com garantia em imóveis; cartão de crédito e leasing, além de seguros e consórcio. "Todos os grandes bancos olharam o Panamericano, dos estrangeiros como o Citi aos brasileiros que não queriam que passasse para as mãos de um estrangeiro. Mas o Silvio não aceitou nenhuma proposta, apesar das ofertas serem boas. Agora, o banco continua despertando atenção, mas o tamanho é outro", afirmou Aro.
Com a venda das ações, o Panamericano reforçou o capital em R$ 700,4 milhões e ganhou mais músculos. A carteira de crédito cresceu 24,6% nos doze meses terminados em março, para R$ 7,774 bilhões. O valor de mercado do banco chegou a R$ 2,3 bilhões pelo preço do final de abril.
E Silvio continua fechando os ouvidos a propostas de venda, nem planeja fazer novas ofertas no mercado, fazendo o chamado "follow on". "O Silvio já vendeu o que queria", garantiu Aro.
Um bom motivo é que o banco contribui com 62% da receita do grupo, que faturou R$ 3,8 bilhões em 2007. A participação do banco é três vezes maior do que a da área de comunicação (20%), maior do que a área de serviços e comércio (Baú e Telesena), que participam com 15%, e que a área de hotéis, que tem 3%.
"O banco é um bom negócio", afirmou Aro, explicando que o crescimento econômico e aumento do emprego abriram espaço para a expansão do crédito e aumento dos negócios na baixa renda. "O governo deu ferramenta para as pessoas tomarem crédito. Antes, o aposentado representava 20% da carteira de crédito pessoal e pagava 10% ao mês. Agora, ele toma o consignado pagando bem menos. Apesar de ter crescido muito, o crédito ainda baixo em relação ao PIB em comparação com outros países."
Nem o aumento dos juros está influenciando a demanda, afirmou. O aumento da eficiência dos bancos, com a redução de custos, contribui para segurar os spreads. Além disso, a concorrência aumentou depois da obrigatoriedade da divulgação do custo efetivo total (CET) do crédito.
A estratégia do Panamericano para este ano é ampliar as operações de financiamento de veículos, leves e pesados, e as operações com cartões de crédito. Mais da metade da carteira de crédito do banco (53,1%) é representada pelo financiamento de veículos. Se for incluída na conta as operações de leasing, com mais 7,8%, conclui-se que o financiamento de veículos representa mais de 60% do total, ou R$ 4,7 bilhões. O Panamericano quer desenvolver também o crédito pessoal garantido pelo veículo.
Aro não concorda com analistas que receiam que a carteira de veículos se torne o "subprime" brasileiro. "Isso é 'invencionice' de estrangeiros. Em geral, financiamos 70% do valor do veículo em prazos de 48 meses. O usado já tem o preço depreciado. E a inadimplência é baixa. Financiamos o veículo, mas olhamos também a pessoa que está tomando o crédito. Não acredito em crise nesse mercado", afirmou.
A área de cartões é outro alvo de expansão. Ao final do primeiro trimestre, o Panamericano tinha 11,1 milhões de cartões de crédito emitidos, dos quais 8,5 milhões private label e 2,6 milhões com bandeiras Visa e MasterCard. Mas apenas 20% são ativados, proporcionando um amplo espaço a desenvolver.
Para lastrear os negócios, o Panamericano conta com uma estrutura diversificada de funding, formada por depósitos a prazo (30,1%), cessões de carteira (27,8%), fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs, com 25,7%), e captações externas (6,8%).
A intenção, informou Aro, é substituir gradualmente as cessões de carteira pelos FIDCs. O Panamericano tem dois dos FIDCs mais antigos do mercado, lançados em setembro de 2003, com R$ 150 milhões cada um. Na virada daquele ano, os fundos já tinham R$ 500 milhões. Em plena crise do Banco Santos, em 2004, chegaram a R$ 750 milhões. Hoje, somam R$ 1,6 bilhão.
São fundos abertos, cujo lastro - financiamento de veículos - vai sendo trocado à medida que os contratos vão vencendo. O percentual de cota subordinada é de 30%. Um dos fundos tem 180 dias de carência e rende 112% do CDI; o outro, com carência de 90 dias, rende 108% do CDI.
Para diversificar a captação, o Panamericano lançou, em 2006, um programa de captação externa de R$ 500 milhões. No mesmo ano captou US$ 60 milhões e, em 2007, a segunda tranche, de US$ 75 milhões. No segundo semestre de 2006, também fez uma emissão de dívida subordinada de US$ 125 milhões. No final de maio deste ano, emitiu a terceira tranche de US$ 130 milhões em maio.
Com essa receita, obteve um retorno no primeiro trimestre foi de 23%. A tendência é fechar o ano em 25% e atingir 30% nos anos seguintes, parâmetro histórico do banco.
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