jornal O Estado de S. Paulo 17/06/2008 - Marianna Aragão
As micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) estão recebendo mais crédito dos bancos este ano. Segundo dados dos balanços de alguns dos maiores bancos privados do País (Bradesco, Itaú, Unibanco e Real), nos primeiros três meses de 2008, a expansão na carteira de crédito dessas companhias foi maior que a apresentada pelas pessoas jurídicas e pelas grandes empresas (veja quadro). No Banco do Brasil, as operações de crédito junto às MPMEs atingiram R$ 25,6 bilhões em março, alta de 32% sobre o mesmo período do ano passado.
"A necessidade de capital de giro das pequenas empresas cresceu junto com a expansão do crédito ao consumidor nos últimos cinco anos", explica o professor de finanças da Ibmec São Paulo, Alexandre Jorge Chaia. Com a demanda interna aquecida, explica ele, os pequenos empresários precisaram de capital para tirar seus projetos da gaveta, ampliar a produção e investir. "Esses empreendedores procuram os bancos pois, ao contrário das grandes corporações, não têm tantas opções para captar dinheiro."
No Itaú, as MPMEs foram a principal alavanca de crescimento no segmento de pessoa jurídica, afirma o diretor-executivo Sílvio Carvalho. O crédito destinado a elas aumentou 50% no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2007. "A economia está crescendo e os pequenos empresários estão mais confiantes."
A expansão, mesmo com uma possível redução no ritmo até o final do ano por conta das recentes altas na taxa básica de juros (Selic), deve se manter. No Bradesco, onde a alta do crédito para o segmento no primeiro trimestre foi de 47,6%, o crescimento anual estimado é de 20% a 25%. Para o diretor-executivo do Itaú, "mesmo com retração, o crescimento não fica abaixo de 35% em 2008".
Um dos motivos que justificam o entusiasmo das instituições financeiras com as pequenas e médias companhias, segundo seus executivos, é a mudança trazida por alguns dispositivos da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. "A facilidade para acessar novos mercados, como o de compras governamentais, tem impactado bastante o segmento", afirma o gerente-executivo da diretoria de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil, Kedson Pereira Macedo.
Ele também acredita que a redução da carga tributária em alguns setores, ocorrida após a entrada em vigor da Lei, está redirecionando o capital das empresas. "Em vez de pagar o Fisco, elas agora investem", diz Macedo, que estima em 42% a expansão do crédito concedido pelo BB às MPMEs em 2008.
DESAFIOS
A relevância do segmento, revelada nos últimos balanços, já está provocando algumas mudanças internas nos bancos. Em agosto passado, a Caixa Econômica Federal criou uma superintendência específica para micro e pequenas empresa.
O Bradesco fez o mesmo recentemente, criando uma diretoria especial para as MPMEs. Segundo o diretor de pessoa jurídica do banco, Altair Antônio de Souza, o objetivo é dar atenção diferenciada a esse público, por meio de equipes de atendimento e linhas de crédito especiais. "As pequenas e médias têm tido desempenho superior ao das pessoas jurídicas em geral nos últimos anos e vão se desenvolver cada vez mais."
O esforço dos bancos, porém, parece ainda não ter se transformado em benefícios para as empresas, avalia Alexandre Chaia, da Ibmec São Paulo. "Em geral, as instituições financeiras não estão bem preparadas para atendê-las." O desafio, segundo ele, está em encontrar a dose certa para atender esse público. "As pequenas empresas não justificam exclusividade no atendimento, como uma grande companhia, mas têm demandas especiais.
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