5 de jun. de 2008

GUSTAVO FRANCO APOSTA NA CLASSE C E VENDE 20% DA UNIK PARA BID E IFC

jornal Valor Econômico 02/06/2008 - Altamiro Silva Junior

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, resolveu apostar na baixa renda. Na semana passada, ele assinou a venda de 20% da Unik, a empresa de cartões do grupo Rio Bravo, para dois organismos multilaterais, a IFC, braço financeiro do Banco Mundial, e a Corporação Interamericana de Investimentos (IIC, na sigla em inglês), membro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O valor do aporte não foi revelado.

A operação é a primeira aposta da IFC na área de cartões e uma das raras no mundo a juntar duas instituições multilaterais no setor. O objetivo de Franco é transformar a Unik em uma plataforma de serviços financeiros para a classe C. "Este público não é o alvo prioritário de grandes bancos. Se essa população é bancarizada, é mal bancarizada", diz Franco. "É um nicho extraordinário."

O próximo passo, como forma de ampliar a oferta de crédito da empresa, será a captação de recursos por meio de um fundo de recebíveis (FIDC) de R$ 240 milhões. Será seu primeiro fundo.

A Unik é controlada pela Rio Bravo Investimentos, que tem Gustavo Franco como sócio. A empresa foi comprada da Sodexho em 2004. Na época, só tinha um cartão de benefício para a compra de produtos em farmácias. Após a aquisição, a rede de estabelecimentos e os serviços da Unik foram aos poucos sendo ampliados. Agora, oferece seguros, pagamento de contas e recarga de celular pré-pago. Com o aporte, o objetivo é reforçar as operações com crédito.

O plástico da Unik é um cartão de crédito com desconto em folha de pagamentos. O principal cliente da bandeira são empresas públicas ou privadas. Atualmente tem 3 mil companhias clientes, que oferecem o cartão ao funcionário como um benefício.

A rede credenciada, de 20 mil estabelecimentos no país, foge do padrão das grandes bandeiras, como Visa ou MasterCard. A prioridade da Unik é afiliar pequenas lojas, padarias e supermercados na periferia e em cidade do interior, onde está o público de baixa renda. O próximo alvo no país é a região Norte.

Foi esse modelo de negócios (e as suas perspectivas) que atraiu o BID e a IFC. "É um modelo inovador, que mostra a possibilidade de aumentar o acesso da baixa renda ao crédito", diz Andrew Gunther, responsável no Brasil pelas operações da IFC.

"O projeto busca um público carente dos serviços do sistema financeiro. Essas pessoas vão usar o crédito para comprar o básico e estimular os negócios dos pequenos estabelecimentos da rede Unik", afirma Santiago Cat, da IIC. Gunther, da IFC, aponta ainda outro motivo. "A estratégia da Unik pode ser exportada para outros países emergentes."

Na operação, que demorou vários meses para ser finalizada, a IFC terá 12% de participação na Unik, enquanto a IIC ficará com 8%. O objetivo da Unik é abrir o capital. Mas, segundo Franco, a empresa ainda precisa crescer mais antes de lançar ações na bolsa. Com o aporte, a Unik zera o endividamento.

A Unik cresceu 57% no ano passado, com faturamento de R$ 193 milhões. Tem uma carteira com 750 mil cartões ativos. Franco acredita que, com o aporte de recursos da IIC e da IFC, este número pode dobrar. Outra idéia é aumentar a ativação dos plásticos. Por isso, a empresa negocia o uso do cartão para saques em caixas eletrônicos.

A empresa também quer explorar o crédito consignado para aposentados do INSS, mas somente aqueles da baixa renda. Segundo José Roberto Kracochansky, presidente da Unik, com a determinação do INSS de os bancos terem que oferecer o empréstimo até o limite de 20% da renda do aposentado em dinheiro e 10% no cartão, este passou a ser um nicho. "Muitos bancos não estão interessados em operar com cartão para este público." A empresa vai funcionar como uma plataforma, ligando os bancos a estes clientes.

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