jornal DCI 14/07/2011 - Marcelle Gutierrez
O cenário do setor de private banking e gestão de fortunas no mundo apresenta mudanças. As economias emergentes (Ásia e América do Sul) passam a ter maior representatividade nos negócios e países como Cingapura e Hong Kong estarão entre os principais centros, acima de Londres e de Nova York, até 2013. O Brasil também figura entre as futuras potências do segmento e já em 2011 é o quarto país a ter mais participantes na pesquisa "Anticipating a New Age in Wealth Management" (Antecipando uma nova Era na Gestão de Fortunas, em tradução livre), da PriceWatherhouseCoopers, que entrevistou 275 organizações em 67 países, e foi realizada em parceria com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).
A pesquisa aponta uma segmentação do mercado, com a sobrevivência de empresas que priorizam o atendimento ao cliente e a criação de valor. "O investidor rico de hoje é diferente dos anos anteriores. Querem saber das informações e mudanças. Estão mais exigentes", diz Steven Crosby, sócio da PwC para Américas, que acrescenta: "O atendimento ficou mais forte. Antes era somente o retorno e desempenho, agora mesmo com menor rendimento, consegue fidelizar o cliente se tiver atendimento e retorno. A gestão de riqueza é relacionamento, quem não fizer bem vai perder o cliente", opina.
O processo de consolidação pode ser observado na análise da relação custo e rentabilidade. De acordo com dados da pesquisa, em média, 51% dos gestores de fortunas em nível global não conseguem obter mais de 10% do crescimento da lucratividade e possuem as despesas superiores a este patamar. Do outro lado, em média, apenas 9% do private banking alcançam tanto elevação dos custos quanto dos lucros. "Cerca de 50% não conseguem cortar custos, nem crescer. Haverá muita mudança entre empresas e clientes com a consolidação".
No Brasil, o crescimento de private banking pode ser visto na maior porcentagem de clientes em faixas de patrimônio de US$ 10 milhões a US$ 50 milhões, de 26%. Já em nível global, a maior participação, de 25%, está entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões.
Já na distribuição proporcional de despesas, as instituições financeiras brasileiras estão alinhadas com as demais no contexto mundial, com 39% relacionadas a custos de pessoal e front-office. No entanto, a remuneração dos gerentes de relacionamento, importante papel no atual modelo de negócio, apresenta significativas diferenças quanto suas formas. No Brasil, 56% vem de bônus e globalmente 66% é originada de pagamentos fixos.
Segundo João Santos, sócio da PwC no Brasil, os percentuais indicam que as diferenças dos perfis dos brasileiros ficam nítidas nas preocupações atuais. "Os CEOs no mundo estão mais preocupados com a transformação do modelo de negócio e manutenção dos clientes. Já os brasileiros possuem foco em crescer em resultados e com a margem do business."
As perspectivas para os próximos anos, contudo, estão alinhadas. Tanto o Brasil como o restante do mundo acreditam que haverá consolidação do mercado, já que significativa parcela não tem rentabilidade de mais de 10%, aponta a pesquisa da PwC. Mas os brasileiros estão mais otimistas quanto a atingir o máximo desempenho nos próximos dois anos, em média 33% das empresas entrevistadas, ante 28% dos participantes globais. "O Brasil está mais otimista em ser high performance, o que faz sentido, pois está crescendo em receita e em margem de rentabilidade", explica Santos.
A elevação das receitas também é uma projeção vista de forma positiva no mercado nacional, com ascensão média de 21% da lucratividade, enquanto os asiáticos prevêem 18%, os europeus 8% e os demais países da América, juntos, 6%.
Os números registrados nos últimos meses reforçam o crescimento da indústria de private banking e gestão de fortunas no Brasil. De acordo com dados da Anbima, o setor encerrou 2010 com R$ 371,2 bilhões em ativos sob gestão, um aumento de 23% em relação ao final do ano passado, com 50% aplicado em títulos de Renda Fixa e Variável, 44% em fundos de investimento e 6% em caixa, poupança e previdência aberta. Já no primeiro trimestre de 2011, o valor fechado totalizava R$ 399,6 bilhões, evolução de 7,5% ante o final do ano anterior, com 45,1% investidos em fundos, 49,5% em Renda fixa e Variável e 5,4% em caixa, poupança e previdência aberta.
A pesquisa analisou os investimentos em tecnologia. Cerca de 25% dos respondentes no Brasil e 15% no contexto mundial indicam que uma significativa parcela é destinada à melhoria dos relatórios e informações aos clientes, com o apoio dos gerentes de relacionamento. "Tem que gastar dinheiro para o relacionamento com os clientes, com boa governança e processos baseados em fatos", reforça Steven Crosby.
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