31 de jul. de 2011

DISPUTA ENTRE REDECARD E CIELO SE MANTÉM ACIRRADA

jornal Valor Econômico 29/07/2011 - Aline Lima

Um ano após a abertura do mercado de cartões, os balanços do segundo trimestre de Cielo e Redecard apontam para um cenário mais auspicioso do que aquele atravessado nove meses atrás. Mas a competição entre as duas principais empresas do ramo de captura de transações do país deve permanecer acirrada.

A Redecard apresentou melhor desempenho na visão de vários analistas de ações, embora o resultado da Cielo tenha sido avaliado como "encorajador". Em ambos os casos, a forte expansão no faturamento em transações de débito e crédito veio conjugada com maior controle de custos.

Por outro lado, a receita com o aluguel das máquinas que recebem os cartões (POS) mantém tendência de baixa, da mesma forma que a receita com a taxa líquida de desconto cobrada dos estabelecimentos comerciais (o MDR, que exclui a parcela que remunera os bancos emissores dos cartões). Com o fim da exclusividade da Cielo com a bandeira Visa e, por tabela, da Redecard com a MasterCard, os lojistas ganharam chance de escolha e, consequentemente, espaço para barganhar preço.

O lucro líquido da Redecard foi de R$ 322,6 milhões no segundo trimestre, redução de 13,9% na comparação com o segundo trimestre de 2010 e 14,7% superior ao do primeiro trimestre do ano. A Cielo apurou lucro líquido de R$ 423,6 milhões, redução de 7,5% ante o mesmo período de 2010 e de 0,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

A Redecard capturou R$ 55,7 bilhões em transações com cartões de crédito e débito no segundo trimestre, aumento de 33,2% em relação a igual período de 2010. Seu presidente, Claudio Yamaguti, comemorou aquela que foi a maior expansão no volume de faturamento da história da empresa. "Esse resultado só foi possível com a abertura do mercado", disse na abertura da teleconferência com analistas. A base de Visa em circulação no mercado é historicamente maior e, pelo acordo de exclusividade que perdurou até julho do ano passado, só a Cielo capturava.

Esta última também apresentou forte crescimento no volume de transações com cartões no segundo trimestre, de 21,2%, totalizando R$ 74,6 bilhões. A empresa projeta um incremento entre 19,5% e 21,5% no segundo semestre ante o segundo semestre de 2010, um volume estimado de R$ 168,8 bilhões a R$ 171,7 bilhões.

As analistas do BB Investimentos Letícia Soares Campos e Priscila Tambelli Francisco notam que o resultado da Redecard no faturamento de crédito e de débito foi bem acima das estimativas iniciais da Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) para o setor no período - de 25,3% e 24,8%, respectivamente - além de ter sido também superior ao crescimento observado na Cielo, "o que deverá representar ganhos de participação de mercado".

Pelos cálculos de Henrique Caldeira, analista do Barclays, no segmento de cartão de crédito a Cielo teria, ao fim do primeiro semestre, 51,6% de participação de mercado e a Redecard, 40,3%. Em débito, a fatia da Cielo seria de 60,7%, e a da Redecard, de 40,3%.

No que depender das perspectivas para o uso do cartão como meio de pagamento, incluindo aí a crescente "bancarização" da população brasileira, o volume de transações de Cielo e Redecard só tende a subir. Já as receitas atreladas diretamente à atividade das credenciadoras junto aos estabelecimentos comerciais, seus clientes, permanecem pressionadas.

Na Cielo, a receita de aluguel de equipamentos atingiu R$ 265,1 milhões no segundo trimestre, 12,8% inferior ao registrado no mesmo período de 2010. Mas o ritmo de queda arrefeceu. Em relação ao primeiro trimestre de 2011, o recuo da receita de aluguel de POS foi de 1,2%. A taxa líquida média de desconto no cartão de crédito caiu de 1,45% no segundo trimestre de 2010 para 1,17% no segundo trimestre de 2011, e de 0,79% para 0,74%, no débito. "O crescimento da economia será mais que suficiente para compensar a expectativa de redução da taxa", afirmou Rômulo Dias, presidente da Cielo.

Cobrando menos desde o ano passado, a Redecard viu a taxa líquida média crescer de 1,13% para 1,15% na função crédito e de 0,71% para 0,74% no débito.

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