2 de set. de 2010

PAGAMENTO ANTECIPADO EM ALTA

jornal Diário do Comércio 02/09/2010 - Fernanda Pressinott

Os instrumentos pré-pagos devem movimentar R$ 89 bilhões em 2010 e transformar o Brasil no terceiro maior mercado desse meio de pagamento no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e União Europeia. Em 2009, os pagamentos de produtos e serviços cujos fundos foram pagos antes da utilização somaram R$ 77 bilhões.

Os dados são do Grupo Setorial de Pré-Pagos (GSPP), que também prevê um movimento de R$ 195 bilhões em 2015 e R$ 369 bilhões em 2020. O grupo estuda modelos de negócio e regulamentação do pagamento antecipado, e o Brasil é membro desde o ano passado.

O mais conhecido meio de pagamento antecipado no País, o pré-pago de celular, representa atualmente 40% do setor, mas tende a perder participação percentual para transportes (como bilhete único) e gastos online. "Nos EUA, é muito comum o uso de vales-presente, mas aqui é culturalmente agressivo", disse o presidente da GSPP e professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Boanerges Ramos Freire.

Opções – Para o consumidor final, ainda existem os cartões de viagem, remessas de valor ao exterior, cartões para estudantes (para gastos na cantina da escola, por exemplo), e para saúde. As empresas também mantêm esse mercado com vales-refeição, vales-cultura e combustível e cartões de incentivo. O governo ajuda a movimentar o setor com o Bolsa-Família, seguro-desemprego e aposentadoria. "Não importa se o pagamento é com cartão físico ou biometria, se já tem o valor a gastar quitado antes é um instrumento pré-pago", explicou Ramos Freire.

Um dos mercados promissores para os próximos anos é o de energia elétrica, que deve atender a população de baixa renda com definição antecipada de gastos, assim como ocorreu na telefonia.

Segundo o GSPP, o segmento de pré-pagos tradicionais (excluída a telefonia) movimentou R$ 45 bilhões em 2009 e deve alcançar R$ 55 bilhões em 2010 no Brasil. Como meio de pagamento, o pré-pago também deve aumentar a participação no todo com o passar dos anos e chegar à terceira posição no ranking, atrás do dinheiro e dos cartões convencionais. "Em um ano ou dois, já vai superar o cheque como meio de pagamento para o consumidor", ponderou o presidente do GSPP.

Nos EUA, os meios de pagamento movimentaram US$ 7,59 trilhões em 2009 e os pré-pagos, US$ 290 bilhões. Para 2015, a expectativa é de US$ 9,7 trilhões para a movimentação total e US$ 897 bilhões para o pagamento antecipado.

Pré-pago traz atendimento médico acessível

Uma modalidade em iniciação no Brasil é o uso de pré-pago para saúde. A empresa de tecnologia e meios de pagamento APPI criou uma solução que possibilita o atendimento ambulatorial para classe C e D e vendeu para três companhias de saúde: Saúde Sul, do Espiríto Santo; Norte Fluminense, do Rio de Janeiro; e Condor Transporte, do Pará.

O modelo de negócio levou três anos e várias pesquisas para ser desenvolvido. Levantamento feito em 2006, com 105 milhões de pessoas que tinham renda familiar entre R$ 500 e R$ 1,6 mil mostra que elas gastariam R$ 18 por mês para o pagamento de consultas e exames.

Mas não aceitariam pagar mensalidade ou serem barradas por restrições como nome em cadastros de devedores ou doenças pré-existentes. Queriam um produto extensivo a toda a família, com um custo acessível.

"O modelo pré-pago reduz o risco por ter o pagamento antecipado", disse o diretor da APPI, Alberto Techera.

Pelo produto, o usuário paga, por exemplo, R$ 50 em um mês, e pode fazer uma consulta e não precisa voltar a usar. Techera relatou que algumas famílias têm recarregado mensalmente o cartão, outras só em caso de necessidade. Os valores variam de R$ 30 a R$ 600.

A média de uso nesses três anos foi de R$ 160 anuais.

Por complexidade do sistema de saúde, os valores não são aceitos em internações. "Cada empresa criou uma rede conveniada e, para evitar que o cliente pague a consulta diretamente ao médico, criamos programas de fidelidade", explicou Techera. A receita estimada do serviço é de R$ 10 bilhões ao ano.

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