14 de set. de 2010

CRESCE INADIMPLÊNCIA EM CARTÕES E FINANCEIRAS

portal iG 13/09/2010 - Aline Cury Zampieri

O perfil de endividamento do brasileiro mudou este ano. Entrada de novos consumidores, resquícios da crise financeira de 2008 e a própria política de concessão de crédito dos bancos estão fazendo com que cresça a inadimplência nas áreas de cartão de crédito e financeiras. Mas os especialistas são unânimes ao afirmar que, apesar do aumento, a situação está longe de ser alarmante.

Números da Serasa Experian mostram que a inadimplência do consumidor teve o pior agosto desde 2005, com alta de 11,5% na comparação com o mesmo mês de 2009 - foi a quarta expansão consecutiva. Em relação a junho, o aumento é de 1,8%. Esse crescimento é composto por +5,9% em cartões e financeiras, 1,1% em bancos, queda de 3,1% em protestos e recuo de 4,1% nos cheques.

As comparações mensais mostram que as dívidas em cartões e financeiras vêm crescendo desde fevereiro deste ano. Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa, explica que esse descasamento é um reflexo da crise financeira de 2008.

“Naquela época, mais pessoas deixaram cartões e financeiras e passaram a usar cheques pré-datados, pois não podiam pagar imediatamente”, diz. “Com a volta à normalidade nas transações, os clientes voltaram a usar cartões, o que ajudou a elevar as dívidas.”

Uma das situações que mostram claramente esse efeito é o próprio balanço de cheques. “O número de folhas sem fundos caiu 0,6%, mas o valor das dívidas subiu 32,7%”, conta. “Os cheques que estão sendo descontados agora são justamente aqueles lançados quando havia falta de crédito na praça.” Na prática, diz Rabi, esses efeitos se anulam.

Novos consumidores

Além da mudança de comportamento dos clientes após a crise, os especialistas citam a própria estabilidade da economia como um fator de expansão das dívidas. “A inadimplência cresce com o aumento da oferta de crédito”, diz Arthur Guitarrari, gerente de novos negócios da Zipcode, empresa de tecnologia que também mapeia dívidas.

E essa oferta abundante de crédito encontra novos usuários, muitas vezes desacostumados com o sistema de pagamento. “A inadimplência dos cartões está alta, mas acompanha a expansão dos empréstimos”, afirma Marcel Solimeo, superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). “O crescimento do mercado traz novos usuários, que muitas vezes têm uma propensão maior para o descontrole. Mas eles são uma parcela pequena do total.”

Fernando Manfio, sócio diretor da consultoria de gestão de risco Witrisk, também lembra que, ao conceder mais crédito, os bancos preferem partir para o consignado, que tem desconto em folha de pagamento e, por isso, menos risco. “Cartões e financeiras acabam ficando com os perfis mais arriscados.”

Sem motivos para alarme

Apesar de perceberem esse crescimento na inadimplência dos cartões e financeiras, os especialistas são unânimes em afirmar que a situação não é alarmante. A maioria não acredita em alta nos níveis gerais de endividamento, pelo menos nos próximos seis meses.

Luiza Rodrigues, economista do Santander, diz que o maior indicador de calma é o aumento dos ganhos dos brasileiros. “A inadimplência está totalmente ligada a salário, e a massa salarial do País está crescendo a uma taxa de 8% ao ano, em termos reais”, afirma. “Pode haver falta de pagamento em algumas carteiras, mas as projeções são bem tranquilas.”

“Não há indicadores de que as pessoas estejam comprando acima de suas possibilidades e comprometendo seriamente sua capacidade de pagamento”, complementa Guitarrari, da Zipcode. “Se subir, a inadimplência acompanhará o mercado de crédito.”

Segundo os economistas da Serasa Experian, os sinais de reaquecimento da economia neste terceiro trimestre, a continuidade de geração de empregos e a elevação da massa salarial deverão atenuar, ao longo dos próximos meses, esta tendência de elevação da inadimplência do consumidor, permitindo que cresça num ritmo inferior à expansão do crédito, conforme vem ocorrendo nestes últimos trimestres.

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