1 de jul. de 2011

UM ANO SEM EXCLUSIVIDADE, BALANÇO POSITIVO

jornal Diário do Comércio 30/06/2011 - Rejane Tamoto

Em ano depois do fim da exclusividade do uso de bandeiras nas máquinas de cartões de crédito e de débito, os lojistas conseguiram alguns benefícios, que vão desde os descontos nas taxas ou nos aluguéis das máquinas POS até opções de novas tecnologias e melhor atendimento. De acordo com o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, o aumento da concorrência entre as credenciadoras Redecard, Cielo e Getnet possibilitou ao lojista melhores condições de negociação. "O comerciante tem duas máquinas hoje não por obrigação, e sim para usar de maneira alternativa no caso de pane no sistema de uma delas e também para atender os clientes de forma mais eficaz e evitar filas", afirma.

A reportagem do Diário do Comércio esteve há poucos dias em quatro lojas do Shopping Center Norte, na zona norte da capital paulista, que já haviam sido visitadas pelo jornal um mês após o anúncio do fim da exclusividade, no ano passado. De lá para cá, dois comerciantes revelaram ter conseguido desconto nas taxas para operações de crédito e de débito. "Há oito meses chamei as duas (Cielo e Redecard) e pedi a melhor taxa.

A menor venceu a concorrência porque ofereceu desconto de cerca de 25% nas transações de débito e crédito. Além disso, participo de um programa de fidelidade, no qual acumulo pontos por transação para trocar por prêmios", diz o gerente da loja de tênis e malas Pedal Federal, Raphael Masuet. Segundo o lojista, 83% das vendas na sua loja são pagas com cartão e a negociação representou economia de R$ 1 mil por mês. Mesmo assim, ele manteve uma máquina da credenciadora concorrente, para usar apenas em caso de emergência. "Eu já precisei", afirma.

Emergências – O mesmo receio de pane foi observado em outros estabelecimentos. A loja de celular Commcenter, no Shopping Center Norte, ficou 11 dias sem o sistema de Transferências Eletrônicas de Fundo (TEF), no mês passado, por causa de uma pane. A consultora de vendas Thais Prado diz que nesse período usou uma máquina POS de uma das credenciadoras, o que salvou as vendas da loja, que são pagas 100% com cartão. "O único problema é que essa máquina não passa a bandeira Diners Club. E a concorrente não passa American Express", relata o gerente da Commcenter, Mauricio Rodrigues Trindade.

Para evitar esses problemas, a atendente do quiosque Havana, Tânia Santos de Oliveira, diz que a empresa manteve as máquinas da Cielo e da Redecard. "É uma precaução, porque 80% dos clientes pagam com cartão e, em dias de movimento, vendemos R$ 7 mil. Se uma para, temos a outra."

A analista da Consultoria Lafis, Thais Virga, avalia que uma mudança significativa para o varejo foi a diminuição no custo do aluguel das máquinas POS, tanto para grandes quanto para os pequenos lojistas. "As taxas para transações de débito e crédito não mudaram muito", diz .

Negociação – O desconto no aluguel de uma máquina POS sem fio foi um benefício obtido pela loja Foto Paulo, do Shopping Center Norte. De acordo com o gerente, Daniel Gomes, o desconto fez parte de uma grande negociação com uma das credenciadoras, em um pacote que envolveu diminuição de taxas para transações de crédito e débito. "Não sei o percentual de desconto. Nossa central negociou há dois meses para as 15 lojas da rede. Com dois equipamentos, não temos medo de ter problemas porque um está conectado à linha telefônica e o outro tem tecnologia sem fio", explica.

Além do uso de máquinas POS da credenciadora, Gomes manteve também os equipamentos da American Express e da Hypercard. "Hoje 80% dos nossos clientes pagam com cartão, mas ainda concedemos desconto de até 5% para pagamento com dinheiro à vista", afirma.

Tecnologia para conquistar o cliente

Ao se tornarem multibandeiras, as estratégias das credenciadoras Cielo e Getnet para competir no mercado foram firmar parcerias com mais bandeiras e investir em tecnologia. Segundo a analista da Consultoria Lafis, Thais Virga, essas medidas devem aumentar suas margens de mercado e diminuir os custos para os lojistas. Ela acredita em uma mudança significativa no mercado em médio e em longo prazo, com a chegada de novas credenciadoras. Segundo Thais, Cielo e Redecard detêm hoje 90% de participação. Procurada pela reportagem, a Redecard informou que não poderia dar entrevista porque passa por um momento de reestruturação.

A Cielo afirmou que adota como estratégia parcerias com bandeiras regionais e empresas de benefícios. De 2010 para cá se uniu a Aura, Sorocred, Policard, Good Card, Cred-System (cartão de crédito da bandeira Mais!), Banestes (emissor do Banescard) e Elo. Em outra frente, ampliou o atendimento aos cartões de benefícios com Bônus CBA, Cabal Vale, Verocheque e Sapore Benefícios. A empresa já capturava as transações de Visa, MasterCard®, American Express®, JCB (Japan Credit Bureau), Visa Vale, Ticket® e Sodexo. Segundo o vice-presidente executivo comercial e de varejo, Dilson Ribeiro, o cenário multibandeira foi positivo para a empresa e a estratégia é continuar oferecendo maior mix de bandeiras para o cliente vender mais, além de opções inovadoras de pagamento na plataforma mobile (pelo celular).
Em 2010, o lucro líquido da Cielo foi de R$ 1,831 bilhão, crescimento de 19,1% sobre 2009. No período, a empresa captou R$ 262 bilhões somente em transações com cartões de crédito e débito. O número é 22,3% superior ao volume transacionado em 2009.

Nesse período, a empresa lançou o Cielo Premia, uma forma do lojista fidelizar o cliente do cartão ao oferecer premiação e descontos e o Cielo Fidelidade, programa de acúmulo de pontos que premia lojas com concentração de vendas nas máquinas da credenciadora. Os prêmios podem ser produtos e serviços, como indicadores de negócio e de mercado, e avaliação de desempenho em relação aos concorrentes.

Desde a abertura do mercado, a Cielo negociou com 70% dos clientes de grande porte, o que resultou em uma queda da taxa líquida de desconto, que não divulgou. Ela atende 1,8 milhão de empresas e não informa quantas conseguiram desconto.

Se agora a Cielo caminha em direção a bandeiras regionais e serviços de benefícios, a Getnet, que fez parceria com o Santander no ano passado, já trilha esse caminho. Hoje, acumula 23 bandeiras regionais e aposta na oferta de serviços como recarga de telefone, correspondente bancário, consultas cadastrais e programas de fidelidade. "São serviços que geram circulação de cliente e receitas. O comerciante, por exemplo, recebe comissão por recarga telefônica", diz o presidente da Getnet José Renato Hopf.

Em tecnologia, a empresa investiu US$ 65 milhões nos últimos 12 meses. O montante incluiu soluções para máquinas POS sem fio, mobilidade com garantia de velocidade e de banda larga. Hopf diz que a empresa passou a atender de 12 a 15 mil novos estabelecimentos por mês no último bimestre. Em maio, foram 56 milhões de transações, nas máquinas de débito e crédito e em serviços.

Sem divulgar resultados de faturamento, Hopf diz que a meta da empresa é atingir 10% de fatia de mercado até o final de 2012. Atualmente, só com as transações em MasterCard e Visa, tem 2% de participação, com 135 mil clientes e 215 mil estabelecimentos. Sobre a redução de taxas, Hopf diz que esse não é o único critério de escolha do lojista. "O cliente quer uma máquina POS que funcione bem e que não pare no Natal. Esse é o nosso diferencial, a tecnologia avançada."

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