10 de mar. de 2011

NA CONTRAMÃO, BANCO OFICIAL ELEVA CRÉDITO

jornal Folha de S. Paulo 10/03/2011 - Sheila D'amorim e Andreza Matais

Enquanto o Tesouro Nacional anuncia corte de gastos e o Banco Central aumenta os juros para desacelerar o ritmo de crescimento da economia neste ano, os bancos oficiais turbinam o crédito para empresas e pessoas físicas, estimulando o consumo.

O Banco do Brasil promete repetir o desempenho de 2010, quando o país cresceu 7,5%, a maior taxa desde 1985. Quer elevar em 20% a carteira de crédito em 2011, ano em que o PIB não deverá subir mais de 4% ou 4,5%.

Os números não foram reduzidos nem mesmo após as medidas de contenção de crédito e de aumento dos juros divulgadas pelo BC.

Já a Caixa Econômica Federal espera bater novo recorde em financiamentos para habitação, alcançando R$ 80 bilhões. No ano passado, as contratações totais nesse segmento somaram R$ 77,8 bilhões, quase 60% acima das de 2009.

No lado empresarial, com o aporte de R$ 55 bilhões do Tesouro, o BNDES terá caixa para emprestar praticamente o mesmo montante de 2010.

Os bancos oficiais argumentam que isso é financiamento em investimento, mas há uma cadeia lógica: empresas capitalizadas contratam, mantendo ou elevando o nível de renda e, assim, estimulam o consumo.

A dúvida da equipe econômica é com relação ao comportamento do mercado de trabalho. Por ora, a economia dá sinais de desaquecimento, mas isso não tem sido acompanhado por aumento na taxa de desemprego.

Na prática, significa que as pessoas continuam com o incentivo da renda para consumir. Junte-se a isso crédito em abundância e a pressão inflacionária é certa.
O Banco do Nordeste conseguiu reforço de capital de R$ 1 bilhão do Tesouro no final de 2010 e ganhou fôlego para atuar neste ano. Mas, para atender toda a demanda, teria de dobrar os R$ 10 bilhões de desembolsos de 2010. Por isso, planeja tomar empréstimo no exterior e já pleiteia mais aporte público.

Parte das operações de crédito desses bancos é sustentada por recursos do FAT, do FGTS e de fundos constitucionais -dinheiro que custa menos do que as captações feitas no mercado e que são a base para as operações das instituições privadas.

Depois da atuação agressiva em 2009, os bancos oficiais ganharam espaço no mercado e hoje representam quase metade (42%) do total de crédito no país. É a maior participação desde 2000.

Para técnicos da área econômica do governo, os bancos públicos terão que se adaptar a taxas menores de crescimento, sobretudo para pessoas físicas. No caso das empresas, o crescimento dos desembolsos é considerado importante para ajudar a aumentar a capacidade de produção das indústrias.

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