revista Isto É Dinheiro 23/03/2011 - Rosenildo Gomes Ferreira
Nos últimos 18 anos, a Fundação Itaú Social firmou-se como uma das principais geradoras de tecnologia educacional.
Nesse período, um de seus projetos, o Escrevendo o Futuro, foi adotado como política pública pelo Ministério da Educação. Quem está à frente da fundação é Antonio Matias, que se aposentou como vice-presidente de marketing do banco ItaúUnibanco. Matias comanda um orçamento de R$ 78,5 milhões e falou à DINHEIRO sobre suas prioridades para 2011.
Mesmo com centenas de empresas e ONGs investindo em educação, por que o Brasil ainda se mostra tão atrasado nessa área?
Quando se fala em educação é preciso lembrar que os resultados demoram a aparecer. Especialmente no caso do Brasil, onde o desafio de melhorar a qualidade do ensino e o nível de aprendizagem é imenso. Para mudar a situação, é preciso que haja um compromisso de União, Estados e municípios.
E o que falta para que isso aconteça?
É necessário atuar em várias frentes: ampliar o envolvimento das famílias com as escolas, qualificar e valorizar os professores e melhorar todo o sistema de gestão do setor. Enfim, a agenda da educação é gigantesca, exige vontade política e uma soma de esforços envolvendo o setor público e a sociedade.
Os investimentos são suficientes?
Com os recursos disponíveis daria para fazer muito mais. Isso, no entanto, não significa que o valor seja suficiente. Especialmente quando analisamos o gasto efetivo por aluno. Portanto, acho que temos de apostar em duas vertentes: mais recursos e melhoria de gestão.
E como poderemos alcançar esses objetivos?
Temos de reduzir o desembolso com a máquina administrativa e priorizar a atividade fim. Para isso, é preciso que exista uma ação articulada entre União, Estados e municípios. Hoje, essas diversas instâncias atuam, muitas vezes, de forma concorrente, quando deveriam operar de modo complementar.
Qual o impacto da baixa qualidade da educação na economia?
O Brasil vive um grande período de crescimento, mas infelizmente não dispomos de capital humano suficiente para aproveitarmos, de forma sustentável, essa janela de oportunidade. Tratar o ensino técnico como prioridade absoluta é olhar apenas a ponta do iceberg.
Mas o apagão de mão de obra é uma realidade no Brasil?
Sem dúvida. No entanto, não podemos atuar sempre na emergência. Pode parecer ingênuo meu ponto de vista, mas é preciso que os governantes e a sociedade tenham em mente que não existe nada mais importante que a educação.
O que motivou o banco Itaú a investir em educação?
Desde o início, nossa ambição era levar a experiência de gestão qualificada no setor privado para a área social. Hoje, muitas de nossas iniciativas constam do banco de dados do MEC, que reúne tecnologias que podem ser utilizadas pelos gestores públicos.
A Fundação Itaú Social conseguiu emplacar, como política pública, um de seus programas, o Escrevendo o Futuro. Qual foi o impacto desse fato na trajetória da entidade?
Isso mostrou que estávamos corretos ao decidir investir na educação, tendo como principal vertente a criação de tecnologias de gestão educacional e de aprendizagem.
Existem outros exemplos de iniciativas do Itaú que foram encampadas pelo governo?
Sim. O programa de melhoria da educação nos municípios também serviu de base para a formação dos funcionários do MEC que iriam atuar em cidades com baixo Índice de Desenvolvimento Educacional.
Quais são as prioridades da fundação para 2011?
Vamos continuar apostando em nossos principais programas, cujo foco são: gestão, educação integral (onde se insere o Prêmio Itaú-Unicef), avaliação econômica de projetos sociais e fortalecimento do ensino da língua portuguesa. Estamos ampliando nossas parcerias com os governos de São Paulo, de Goiás e de Minas Gerais.
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