jornal Valor Econômico 15/03/2012 - Natalia Viri, Graziella
Valenti e Ana Paula Ragazzi
O Novo Mercado está prestes a sofrer a uma baixa de R$ 24
bilhões, valor atual da Redecard na BM&FBovespa. O Itaú deixou claro que
retira a empresa do segmento diferenciado de governança mesmo se não conseguir
fechar o capital de sua controlada no setor de credenciamento de cartões.
Seria a primeira companhia a sair voluntariamente do Novo
Mercado. Outras saídas ocorreram como resultado de fusões ou fechamentos de
capital.
A informação estava no fato relevante que anunciou a oferta
para fechamento de capital da Redecard, lançada pelo Itaú em 7 de fevereiro.
Porém, não estava suficientemente claro que isso ocorreria com o sucesso ou não
da oferta, o que foi esclarecido pelo edital da oferta, em análise na Comissão
de Valores Mobiliários (CVM).
O preço ofertado é de R$ 35 por ação, quase 10% a mais da
cotação do pregão anterior - quando a empresa alcançou a máxima histórica.
Ontem, os analistas de BTG Pactual, Credit Suisse e Deutsche
Bank destacaram essa informação em relatórios. Os analistas do BTG, Marcelo
Henriques e Eduardo Rosman, comentam que "a abordagem pode ser considerada
incisiva, mas está em linha com o discurso da administração do Itaú".
Para o Credit Suisse, a saída do Novo Mercado poderia ser
uma forma de o Itaú tentar fechar o capital no futuro mais facilmente, caso a
atual operação não alcance esse objetivo. Contudo, o banco aposta no sucesso da
proposta. Por fim, para o Deutsche, trata-se de mais um risco para os
minoritários caso não aceitem a oferta, além das questões comerciais. Os
especialistas do banco alemão acreditam que o valor que está mesa é justo.
A Redecard pode deixar a bolsa ou o Novo Mercado cinco anos
após ter estreado no pregão paulista. Quando veio a mercado, a companhia foi
avaliada em R$ 13,8 bilhões. Agora, vale 73% a mais.
Apesar da valorização do negócio na bolsa, o desembolso do
Itaú na época da abertura de capital, caso quisesse comprar a participação de
todos os demais sócios de então (Unibanco e Citibank), seria praticamente o
mesmo que terá com a proposta atual. Em 2007, porém, ele tinha 32% e pagaria
isso para levar os 68% restantes. Agora, o Itaú tem pouco mais de 50% - fatia
alcançada com a fusão com o Unibanco.
A recepção dos investidores para a oferta está dividida. A
fatia de descontentes gostaria que o Itaú dividisse com o mercado as sinergias
que pode obter com a integração da Redecard as suas operações.
Entre os analistas, a percepção também se dividiu. Os
especialistas do Santander e do HSBC recomendam aos investidores que não vendam
suas ações pelo valor proposto pelo Itaú. Ambos têm preço-alvo de R$ 39 para as
ações, nos próximos 12 meses.
Caso a oferta seja concretizada com sucesso, o Santander
acredita que as sinergias da combinação fariam a Redecard valer o equivalente a
R$ 50 por ação. No caso do HSBC, a integração da bandeira Hipercard, totalmente
detida pelo Itaú, à Redecard poderia levar o valor do negócio a R$ 41 por ação.
É a partir dessas avaliações que alguns investidores veem
espaço para uma negociação. Eles estão frustrados ainda com a postura do Itaú
de enfatizar que o valor atual da Redecard tem relação com o fato de ele ser o
controlador.
Em breve, será divulgado o laudo de avaliação da Redecard,
pelo Rotschild. Caso o valor fique acima de R$ 35, o Itaú pode desistir da
proposta.
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