portal Diário do Grande ABC 09/03/2012 - Agência Estado
Os bancos esperam compensar o impacto negativo da queda da
Selic voltando sua estratégia para produtos que não dependem de juros, como
seguros e cartões. Esses segmentos que vem crescendo a uma média de dois dígitos
há, pelo menos, cinco anos, e já representam boa parte do lucro das
instituições financeiras, devem ganhar peso ainda maior nos balanços a partir
de agora. Uma das vantagens desses produtos é não depender de captação de
recursos no mercado, como acontece nos empréstimos e financiamentos.
A combinação de queda da Selic e redução do spread (a
diferença do custo que o banco capta o recurso para o que ele empresta) tem
impacto direto na receita dos bancos com financiamentos. Para manter a
rentabilidade nessas modalidades os bancos vão depender de escala. Se isso
acontecer, é sinal de que o mercado de crédito está aquecido e mais
competitivo. Assim, um eventual aumento do volume dos empréstimos compensaria o
spread menor, conforme avalia o economista chefe da Federação Brasileira dos
Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.
Outro impacto é na margem financeira (ganho com juro) com os
títulos públicos, pois os bancos aplicam os recursos do caixa nesses papéis.
Diante das discussões no mercado de redução mais forte da Selic e de que a taxa
chegaria rápido a um dígito, os bancos já sinalizaram nas projeções para 2012
um crescimento menor para esta margem. O Bradesco, por exemplo, prevê expansão
de 10% a 14%, abaixo do intervalo que projetava para 2011, de 18% a 22%.
Na avaliação de especialistas ouvidos pela Agência Estado,
mesmo com a Selic menor, os bancos devem apresentar expansão dos lucros este
ano, por conta do foco em outros produtos e de até de uma aceleração do
crescimento do crédito.
O presidente do Itaú, Roberto Setubal, foi o primeiro
banqueiro a falar da necessidade de se focar em segmentos menos dependentes dos
juros como forma de compensar a queda da margem financeira. O efeito da queda
da Selic no quarto trimestre do ano passado foi a redução das receitas com
tesouraria do Itaú. Em entrevista recente à imprensa, o executivo destacou que
um dos focos para 2012 é a área de seguros, que deve crescer entre 10% e 12%.
No Bradesco, a previsão para seguros neste ano é de expansão
de 13% a 16%. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, também em
entrevista recente, destacou o ciclo ascendente da indústria de seguros.
Conforme a população tem sobra de renda, a demanda por seguros aumenta. A
participação do Grupo Bradesco de Seguros e Previdência no lucro do banco
aumentou em quatro pontos porcentuais no quarto trimestre de 2011, para 31% do
resultado.
No Itaú, o lucro da seguradora cresceu 68% no quarto
trimestre ante o mesmo período do ano anterior. A unidade passou a responder
por 14,8% do ganho líquido do banco, acima dos 9,7% do quarto trimestre de
2010. No BB, a seguradora aumentou seu peso nos últimos 12 meses, passando de
12,7% para 13,7%. A meta é chegar a 25% nos próximos anos.
Em tempos de queda dos juros e perspectivas de redução das
margens, a expectativa é que esse movimento das seguradoras acentue ao longo
deste ano, avalia o analista do setor financeiro da Austin Rating, Luis
Santacreu. "Os grandes bancos brasileiros não são só bancos de crédito.
Com o aquecimento da economia, as vendas de seguros tendem a crescer ainda
mais", destaca.
No Santander, a estratégia para a área de seguros é
diferente. O banco optou por não ter uma seguradora própria. O foco é ser um
distribuidor de apólices em sua agência, ganhando parte da receita com as
vendas. No ano passado, o banco espanhol fechou uma joint venture com a
seguradora suíça Zurich para a América Latina. Em 2011, as receitas com seguros
e capitalização cresceram 29% no Brasil. Junto com a área de cartões (expansão
de 34%), foi o segmento que mais se cresceu.
No cartão, a aposta é em produto e não financiamento. Por
isso os bancos querem emitir mais plásticos e ganhar nas receitas com
transações em lojas. No ano passado, o Bradesco emitiu 4,9 milhões de plásticos
e ainda lançou, em conjunto com o BB e a Caixa a bandeira Elo, voltada para o
público de baixa renda. No Itaú, a receita com cartões cresceu 18% em 2011,
ante média de 13% de expansão das receitas com serviços.
Já em serviços a clientes, outra frente para aumentar
receita, BB, Bradesco, Itaú e Santander tiveram R$ 60 bilhões em faturamento no
ano passado, aumento de 31% ante 2010, apostando, por exemplo, em produtos para
contas correntes e fundos de investimento.
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