portal iG 15/03/2012 - Danielle Brant
Poucos setores cresceram tanto no Brasil na última década
quanto o segmento de cartões de crédito. Impulsionados por uma expansão inédita
nos empréstimos à classe média e integração de milhões de brasileiros à
sociedade de consumo, as empresas desse setor viram seu faturamento crescer
mais de 550% nos últimos 10 anos. Com raras exceções, o crescimento anual nunca
ficou abaixo de 20%, cinco vezes mais que a expansão média do PIB nos oito anos
do governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. E mesmo com todo esse
vigor, a expectativa é de que o dinheiro de plástico mantenha o ritmo nos
próximos anos.
Diante de um cenário tão positivo em tempos de incerteza no
cada vez mais instável mundo financeiro, o setor observa não só investimentos
agressivos das duas líderes do mercado – Visa e Mastercard -, mas também
apostas ousadas de pequenos investidores que também querem surfar na onda dos
cartões de crédito.
O mais novo deles é o ex-presidente da Associação Brasileira
das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Waldemar Petty, um
ex-funcionário da Visa. Com apenas R$ 5,8 milhões, Petty está criando uma
bandeira para chamar de sua e concorrer com as duas gigantes do setor, que
juntas, dominam 90% desse mercado.
Sua estratégia nessa briga é oferecer o que nenhum outro
cartão oferece hoje: prazo. Petty quer dar o consumidor a opção de comprar uma
simples geladeira com um número de prestações semelhante ao de quem compra uma
casa. De acordo com o comunicado que sua empresa divulgou, será possível
parcelar as compras em até 200 vezes.
O foco de Petty está na leva de mais de 30 milhões de
brasileiros que ascenderam das classes D e E para a Classe C. De acordo com
ele, até julho desse ano espera vender 600 mil cartões e outros 2 milhões até o
segundo ano de operação.
Para oferecer essas vantagens, o ex-presidente da Abecs
montou um plano agressivo. “Vamos reduzir o preço que o lojista paga para
manter a maquininha. Atualmente, eles pagam até R$ 188 de aluguel. Queremos
cobrar R$ 30, pois nosso objetivo não é ter receita com a máquina”, explica.
Além disso, Petty quer eliminar a taxa de intercâmbio, aquela cobrada pela
operadora, que é de 4,5%, em média.
Outro foco da Shopcards será a fidelização de clientes por
meio de um banco de dados cujo objetivo será fazer a ponte entre lojistas e
compradores. “Temos sempre que deixar esse banco atualizado. Podemos oferecer
descontos para os clientes que atualizarem os dados”, conta Petty.
Fora o alongamento das parcelas, a operadora também vai
disponibilizar diferentes maneiras de pagamento. “As parcelas podem variar
conforme a necessidade do cliente. Se ele não puder efetuar o pagamento mínimo
de 15%, podemos reduzir para 5%. Ele pode pagar duas prestações por mês, se
quiser”, ressalta. “Não se faz varejo sem mercadologia. Vamos unir tecnologia,
crédito e maior conhecimento do cliente”, afirma.
Para conquistar seu público-alvo, a empresa vai colocar
pontos de venda dentro de shoppings ou próximo a lojistas. “Montamos um estande
no shopping Center D&D, de São Paulo. Também temos pontos em shoppings em
Recife e no Mato Grosso”, diz.
As gigantes se movem
A tarefa de Waldemar Petty se torna ainda mais complicada
diante da mobilização da Mastercard e da Visa em busca de novas tecnologias
para facilitar o dia a dia do consumidor. A Mastercard, por exemplo, investe
forte na plataforma inControl,. A ferramenta permite determinar onde, quando e
como os cartões são utilizados. Para descobrir isso, se baseia no valor da
compra, tipo de estabelecimento, local da compra e horário.
A plataforma também alerta toda vez que é realizada uma
operação com o cartão, conforme os parâmetros estabelecidos pelo cliente. A
tecnologia ainda está em implantação no Brasil, mas sem previsão de lançamento.
A Visa, por sua vez, aposta na tecnologia contactless,
explica Marcelo Sarralha, diretor de Produtos da Visa do Brasil. “Ele foi
desenvolvido para pagamento de pequenos valores, até R$ 50. Ele pode comprar um
café, por exemplo, e pagar aproximando o cartão de uma leitora compatível com a
tecnologia. Não precisa usar senha”, explica. Quando o “saldo” terminar, é só o
cliente fazer uma compra pelas vias normais, com a senha, que o valor será
“recarregado” e ele poderá voltar a pagar com o contactless.
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