9 de abr. de 2012

DISPARA VOLUME DE NEGÓCIOS COM REDECARD


jornal Valor Econômico 12/03/2012 - Natalia Viri

Um mês após o anúncio da oferta para o fechamento de capital da Redecard, o preço das ações da credenciadora de cartões permanece estacionado em torno dos R$ 35 proposto pelo controlador Itaú Unibanco para tirar a empresa da bolsa. O valor ainda será acrescido de dividendos de R$ 1,10 a serem pagos entre abril e maio.

O volume de negociações do papel, no entanto, sinaliza que há minoritários não tão contentes com a oferta. A média diária de giro do papel passou de R$ 60 milhões em 2011 para cerca de R$ 200 milhões desde que a oferta foi anunciada, em 7 de fevereiro.

Ou seja, ao mesmo tempo em que há investidores já antecipando a realização dos lucros aos R$ 35, há um grande número de acionistas comprando os papéis, à espera de que o preço possa aumentar.

Segundo um operador de mesa de ações, ao contrário do que se possa imaginar, os investidores que estão comprando o papel agora não são, em sua maioria, fundos de hedge ou que adotam estratégias mais de curto prazo. São investidores de longo prazo da empresa descontentes com o preço.

"Esses investidores estão se posicionando para ganhar peso para contestar a operação", afirma. Para concluir o fechamento de capital da Redecard, o Itaú precisa que investidores representantes de pelo menos dois terços das ações em circulação aceitem se desfazer de seus papéis na oferta.

"A sensação é de decepção com o preço oferecido", afirmou um gestor de fundos brasileiros com grande posição em Redecard. "Mas não estamos comprando, não vale a pena entrar em nenhuma discussão antes que seja publicado o laudo ou o edital preliminar da oferta", ponderou.

De fato, o debate deve esquentar na próxima semana, após a divulgação do laudo de avaliação que está sendo elaborado pelo Rothschild & Sons. O banco de investimentos foi escolhido pelos acionistas da Redecard para avaliar o preço justo da operação.

Quando anunciou a oferta, porém, o Itaú já disse que o teto será de R$ 35. Se a avaliação apontar preço maior, o banco poderá desistir da operação. Mas há a possibilidade de que o Itaú venha a aumentar o valor proposto - a decisão cabe apenas ao controlador.

E é nisso que tem apostado uma parte do mercado. A alegação da maioria dos investidores contrários à oferta é que a ela não contempla o potencial de crescimento da empresa no longo prazo.

Na visão de Sudhir Roc-Sennett, gestor de renda variável da Vontobel, asset americana com R$ 20 bilhões sob gestão, o preço justo seria de R$ 55. Esse valor embute um múltiplo entre preço e lucro de 30 vezes, próximo ao obtido na abertura da capital. Atualmente, essa relação está em 16 vezes.

Roc-Sennett já disse que a Vontobel não entrará na oferta por um valor menor do que esse. De acordo com dados da "Bloomberg", a asset detém cerca de 1% dos papéis em circulação da Redecard.

Entre os analistas que cobrem sistematicamente a ação há também quem recomende que os investidores não vendam seus papéis. Henrique Navarro, analista do Santander, é enfático: "O Itaú está ciente de que existe espaço para melhoria dessa oferta inicial". Em sua avaliação, olhando apenas os fundamentos e desconsiderando a oferta, o preço-alvo para as ações da Redecard no próximos 12 meses é de R$ 39 - com recomendação de compra.

E, sob o guarda-chuva integral do Itaú, esse valor poderia chegar a R$ 50, segundo o analista. Entre os potenciais ganhos nesse cenário, Navarro destaca a associação com a Hipercard, bandeira 100% controlada pelo Itaú, ganhos de sinergia, redução de custos e benefícios fiscais com a amortização de ágio.

O analista reconhece que os investidores não podem pedir que o Itaú divida todos os ganhos com a operação, mas assinala: "Como a Redecard é estratégica para o banco, é razoável que o preço fique num valor intermediário, por volta dos R$ 40".

Paulo Ribeiro, analista do HSBC, também acredita que o banco possa ter de desembolsar uma espécie de "prêmio de controle" para fechar o capital da subsidiária. Ele engrossa o coro dos analistas que recomendam a compra do papel, com preço-alvo nos próximos 12 meses também de R$ 39. Em seus cálculos, num cenário em que o Itaú conclua a oferta, esse valor poderia chegar a R$ 41, por conta dos ganhos com a bandeira Hipercard.

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