jornal Valor Econômico 05/09/2011 - Carolina Mandl e Aline Lima
Para fechar um empréstimo com desconto direto no contracheque, os bancos de pequeno e médio portes agora precisam travar uma dura disputa com os bancões. O duelo já deixa marcas nos balanços dos banquinhos.
Santander, Bradesco e Itaú Unibanco descobriram que o consignado pode ser um produto interessante de se ter no portfólio. O ganho não é tão expressivos, já que o consignado tem a menor taxa de juro do mercado. Mas é praticamente certo, pois a garantia está no contracheque do tomador - nada mal em tempos de alta da inadimplência.
O saldo do crédito consignado era de R$ 151 bilhões, em julho, segundo o Banco Central (BC). Itaú, Bradesco e Santander possuem R$ 37 bilhões, ou 24,5% do mercado. O Banco do Brasil (BB), há mais tempo no segmento, tem 32,6%.
O restante está nas mãos dos banquinhos, que têm no crédito consignado seu principal produto - senão o único. No Cruzeiro do Sul, por exemplo, o crédito consignado representa 95% da carteira total, de R$ 7,58 bilhões.
O poder de fogo dos grandões, que não dependem do consignado para sobreviver, tem incomodado os bancos médios especializados nesse tipo de crédito. Os efeitos da concorrência aparecem nos resultados do semestre, como a alta das comissões pagas aos agentes terceirizados, que distribuem essas operações - os chamados "pastinhas".
O Cruzeiro do Sul mostrou que esse "pedágio" atingiu 6,7% do valor do empréstimo concedido em junho de 2011, contra 5,9% de um ano atrás. "O que mais tem dificultado o crescimento da oferta de consignado é a atuação dos grandes bancos de varejo", diz o presidente do conselho de administração, Luis Octavio Índio da Costa.
O executivo de um banco especializado em consignado que preferiu não ser identificado relata que os maiores bancos chegaram a oferecer comissão de 40% para correspondentes que fisgassem servidores do Estado de Minas Gerais e de 25% para os contratos fechados com aposentados pensionistas do INSS. "Parece que querem empurrar os bancos médios para o precipício", afirmou. O executivo de uma outra instituição de nicho conta que as comissões médias pagas subiram de 10% para 14% em um ano por causa da disputa.
Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de varejo do BB, informa que o banco paga, em média, 10% de taxa aos correspondentes bancários. "As medidas macroprudenciais foram as responsáveis por reduzir o poder de ação dos bancos menores, não são os grandes que estão mais agressivos", rebate.
De qualquer forma, a despesa com comissão tem pressionado os resultados dos bancos pequenos. O Rural registrou prejuízo de R$ 11,8 milhões com as operações de consignado no primeiro semestre. O BMG registrou prejuízo de R$ 59,7 milhões no período - retiradas algumas receitas ressalvadas pelo auditores. "Os bancos estão muito agressivos na oferta do consignado", diz Ricardo Gelbaum, diretor financeiro do BMG.
Na tentativa de escapar das comissões pagas aos pastinhas, alguns bancos de menor porte estão intensificando as concessões por meio de lojas próprias. É o caso do Paraná Banco e do Bonsucesso. Outra alternativa tem sido reduzir a dependência do consignado. O Cruzeiro do Sul quer, no longo prazo, que a participação dessa modalidade no portfólio caia de 95% para 70%. "A ideia é desconcentrar um pouco, mas a aposta no consignado continua sendo maior do que em qualquer outro produto", ressalta Índio da Costa.
Antes, os grandes bancos atuavam no consignado principalmente por meio da compra de carteiras produzidas pelos menores. Mas a descoberta do rombo no PanAmericano reduziu drasticamente a compra de ativos originados por terceiros desde novembro.
"É melhor empregar capital originando crédito, que é mais rentável, do que comprando carteira", explica Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú Unibanco. O avanço sobre o mercado de consignado vem se intensificado no Itaú desde 2010. A carteira de crédito consignado próprio do banco encerrou junho com saldo de R$ 7,53 bilhões, expansão de 31,4% ante junho de 2010. Na contramão, a carteira de crédito consignado adquirido caiu 0,8% nesse intervalo, para R$ 1,59 bilhão.
Mas, na disputa entre grandes e pequenos bancos pelo consignado, o Itaú parece "correr por fora". Boa parte do crescimento da carteira originada em casa, segundo Calderón, é puxado pela concessão a funcionários de empresas privadas, nicho pouco operado pelos bancos menores. O Itaú tampouco utiliza o serviço dos pastinhas, servindo-se de suas agências.
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