jornal Brasil Econômico 31/08/2011 - Priscila Dadona
O correspondente cambial é a grande aposta do governo para atender a demanda por compra e venda de moedas estrangeiras durante megaeventos esportivos, como Copa do Mundo e Olimpíadas. A forma que o Banco Central (BC) encontrou para estimular o segmento e ganhar capilaridade foi autorizar casas lotéricas e agências dos correios a trocar dólares, euros e outras moedas, até US$ 3mil. O potencial desse modelo é grande, mas não deslanchou: a autorização foi dada em fevereiro e, por enquanto, nenhuma dessas casas aderiu.
Atualmente são 858 correspondentes cambiais no país, como agências de viagens e casas de câmbio, um crescimento de 18%desde o início do ano. Considerando que há 11 mil lotéricas e 6.218 agências do Banco Postal instaladas nos Correios, que já atuam como correspondentes bancários e podem também funcionar como cambiais, a rede pode aumentar 1.900% sobre a capilaridade atual.
A Caixa Econômica Federal, operadora das lotéricas, e os Correios ainda estudam como formatar o modelo. O Banco do Brasil, instituição que venceu a licitação para operar o Banco Postal a partir de 2012, também afirma que tem interesse nessa atividade. A operação de correspondente cambial depende de o ponto de troca de moeda ter algum vínculo ou parceria com banco ou corretora de câmbio.
Para instituições financeiras, entretanto, a proposta é positiva para elevar capilaridade da rede, mas dificuldades como segurança, treinamento de pessoal e logística precisam ser superadas. Tarcísio Rodrigues Joaquim, diretor da área internacional do Banco Paulista, vê o risco de imagem a que bancos e corretoras estão expostos como um problema. “Ser co-responsável é complicado, pois se algo der errado, temos de responder junto ao BC”, pondera.
João Medeiros, diretor da corretora de câmbio Pioneer, compartilha da opinião. “Não temos interesse”, enfatiza, e justifica: “Teria que encontrar alguém com a mesma filosofia da minha corretora para não ter de responder porque escolhi mal meu parceiro.”
O presidente da Associação Brasileira de Corretoras de Câmbio (Abracam), Liberal Leandro Gomes, defende a ideia, mas admite que a transferência de responsabilidade pode se configurar em um obstáculo, já que a corretora ou o banco têm de fazer todo o trabalho de análise, treinamento de pessoal e dar todo o suporte tecnológico e de controle de riscos.
“O correspondente tem de ter estoque de moedas e a logística nestes casos é muito complicada”, reforça Fábio Eduardo de Oliveira, da BrZap. Por outro lado, há casas que acreditam no canal como forma de alavancar negócios. É o caso do Grupo Fitta, líder no país em correspondentes cambiais com 391 postos, segundo o BC. “O modelo é vencedor e esperamos expandir 20% até o final do ano”, afirma Fabiano Ruffato, diretor de câmbio. Na mesma toada está o Grupo Confidence que planeja chegar ao final de 2011 com mil correspondentes. Atualmente constam na lista do BC 320 correspondentes associados à companhia. Presente em 48 cidades, 18 estados mais o Distrito Federal a intenção da Confidence é ampliar presença. “O projeto é chegar onde ainda não estamos”, diz Andreas Wiemer, vice-presidente da Confidence.
Apesar de apostar no modelo de negócio, o executivo diz que o correspondente cambial não é para todos. “Tem que ter toda a estrutura para atender ao parceiro, senão é muito enrosco para pouco ganho”, diz. “É preciso estar preparado para a responsabilidade”, completa Ruffato, da Fitta.
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