11 de set. de 2011

BB QUER FIDELIZAR BAIXA RENDA COM MICROCRÉDITO

jornal Brasil Econômico 05/09/2011 – Simone Cavalcanti

Um negócio estratégico. É assim que a concessão de microcrédito está sendo tratada pelo Banco do Brasil (BB). A instituição quer aproveitar a ascensão das pessoas de baixa renda — nos últimos oito anos, 39,6 milhões de brasileiros ingressaram na classe C, segundo a Fundação Getúlio Vargas—para torná-las clientes e principalmente garantir que sejam fiéis ao banco pelos próximos 20 anos. “Esse cliente de menor renda tende a ser mais fiel porque tem pouca disponibilidade de recursos. Começa aqui com microcrédito, depois pega um financiamento imobiliário, um cartão, um plano de previdência e outros produtos”, afirma o vice-presidente do BB, Robson Rocha.

A expansão caminha a passos tão largos. Atualmente, o montante emprestado nessa linha chega de R$ 1,1 bilhão e está acima das exigências do Banco Central (BC) para a instituição. Pelas regras em vigor, 2%do total de depósitos à vista feitos em cada banco têm de ser destinados ao microcrédito. No caso do BB, isso significa que deveria estar emprestando R$ 1,03 bilhão. “Estamos sobreaplicados”, afirmou o executivo.

Por conta disso, o banco estatal está usando do recurso conhecido no mercado como “barriga de aluguel”. Por meio desse procedimento usa uma parte da exigibilidade de outra instituição em troca de uma quantia previamente combinada. Isso é um bom negócio para os dois, uma vez que o banco que não quer aplicar em microcrédito tem que destinar o percentual exigido para os cofres do BC sem qualquer remuneração (recolhimento compulsório).

A maior parte desse volume está sendo emprestado apenas para o consumo. Mas agora a lógica é deslocar isso para o microcrédito produtivo orientado, um programa lançado pelo governo no mês passado que visa financiar capital de giro e investimentos a pessoas físicas, Microempreendedores Indiviuais (MEI) e microempresas com rendimento bruto anual de até R$ 120 mil a juros de 8% ao ano. Batizado de Crescer, o programa visa chegar até o final de 2013 com 3,4 milhões de clientes. O valor de cada operação de crédito destinado a capital de giro ou investimento poderá chegar a R$ 15 mil. Uma das novidades do Crescer é que o tomador de empréstimo não precisa apresentar garantias.

Segundo Rocha, com essa mudança de direcionamento e a expansão do negócio, o BB espera chegar a 2013 emprestando R$ 2,5 bilhões em microcrédito (entre produtivo e consumo). “A ideia é ir acompanhando os percentuais de exigibilidade, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que, de acordo com a demanda, os limites podem ser expandidos”, afirma o executivo, lembrando que o aumento do percentual de exigência de aplicação dos depósitos à vista dos atuais 2% para 3% foi discutido durante a elaboração da nova proposta de microcrédito voltado à geração de emprego e renda.

O governo calcula que daqui a dois anos as quatro instituições públicas que vão liderar essas operações—Banco da Amazônia (Basa), Banco do Nordeste (BNB), Caixa Econômica Federal, além do próprio BB — tenham uma carteira de R$ 3,15 bilhões destinada exclusivamente ao microcrédito produtivo orientado. Atualmente, a carteira de microcrédito do Banco do Nordeste é de R$ 857,4 milhões e da Caixa Econômica Federal, de R$ 63,8 milhões. Procurado, o Banco da Amazônia não informou o volume dessa carteira.

Deste total, Rocha estima que o Banco do Brasil chegue ao final de 2013 com R$ 1,4 bilhão referente a uma base de clientes de 1,1 milhão apenas no novo segmento. “A nossa estratégia agora está baseada na crença de que, continuando a expansão da economia brasileira, queremos ser o principal banco desse público de baixa renda”, diz o executivo. Nesse sentido, o vice-presidente do BB ressalta que a capilaridade e a familiaridade que o Banco Postal (cuja operação será assumida pelo BB em janeiro de 2012) oferece serão fundamentais.

Orientação ao tomador reduz calotes

O olhar do Banco do Brasil começou a se voltar para clientes com renda mais baixa há exatos oito anos como programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), que faz um acompanhamento dos empréstimos que são concedidos para um público mais amplo do que o do microcrédito. No período, o banco concretizou quase 4 mil planos de negócios beneficiando 1,3 milhão de pessoas e levou a carteira de crédito a R$ 11,2 bilhões.

Robson Rocha, vice-presidente da instituição, rebate a crítica de que a atuação é filantrópica, principalmente por se tratar de um banco público. “Diferentemente de algumas correntes de pensamento, não fazemos filantropia, mas sim estratégias de negócio”, diz. “Gera lucro a partir dos empréstimos e de todos os produtos e serviços que são agregados a isso.”

A taxa de inadimplência muito baixa se comparada à média das carteiras de pessoas físicas com renda mais alta é um ponto considerado pelo banco em relação ao retorno que tem com essa carteira de crédito. Enquanto a primeira está entre 2,5% e 3,1% a do DRS fica em 1,2%.

Uma das fórmulas encontradas para atingir esse baixo patamar de calote é o acompanhamento da aplicação dos recursos emprestados no empreendimento dos tomadores. O entendimento é o de que, se o banco der o dinheiro sem preparar o tomador, as chances desses recursos não voltarem para o banco são enormes. É esse mesmo sistema que será usado, em escala maior, pelo Crescer — o programa lançado em agosto pelo governo para o microcrédito produtivo orientado. A orientação é tida como fundamental para que tanto pessoas físicas quanto microempreendedores não se endividem além do necessário para tocar o seu negócio. Para essas ações, o BB tem 31 mil funcionários certificados em todo o país.

“Esse programa foi como uma inspiração para outros produtos e serviços do banco”, diz Rocha, lembrando que o banco vai passar a oferecer, ao lado da Caixa, os financiamentos imobiliários por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, para pessoas que têm remuneração de até três salários mínimos.

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