jornal O Estado de S.Paulo 12/09/2011 – Rômulo Dias*
Desde que o Governo Federal anunciou sua intenção de mesclar diferentes instrumentos financeiros para preservar condições salutares de crescimento de estabilidade da economia brasileira, colocadas em xeque sob a perspectiva do risco da inflação, a polêmica em torno da efetividade das providências econômicas e monetárias orbitou as esferas acadêmica, política, econômica e financeira.
De imediato, um misto de descrédito e desconhecimento sobre o feito das medidas macroprudenciais, em paralelo às iniciativas da política monetária do Banco Central visando inibir o consumo, colocou mercados em compasso de espera por algum sinal efetivo de mudança. Até pouco tempo atrás, segmentos como os de varejo e serviços, que funcionam como termômetros da economia, seguiam seu ritmo natural, em certa medida incólumes ao conjunto das iniciativas adotadas pela autoridade monetária.
Hoje, parece haver consenso de que os instrumentos da política econômica até então utilizados são, na verdade, complementares e condizentes com a necessidade de conter o maior avanço do crédito, de minimizar riscos sistêmicos do setor bancário no longo prazo e de garantir o equilíbrio dos preços para salvaguardar tanto a estabilidade quanto o poder de compra dos brasileiros. Por sua vez, as medidas macroprudenciais não mexeram com o recurso disponível no bolso do consumidor e, portanto, não chegaram a desestimular fortemente o consumo doméstico até então.
Cenário desafiador. Em paralelo, o cenário desafiador dos Estados Unidos e de alguns países da Europa vem trazendo novas preocupações sobre a atividade econômica mundial e brasileira -- o próprio Banco Central sinalizou isso na última reunião do Copom, quando reduziu a taxa de juros em 0,5%. Essa decisão está atrelada a um novo momento, em que se nota um ligeiro arrefecimento no ritmo de crescimento da atividade varejista no País, porém não a ponto de exercer influência significativa sobre o segmento de meios eletrônicos de pagamento, em especial as transações realizadas com plásticos.
Este mercado, no qual estão inseridas as credenciadoras, empresas que capturam, processam e liquidam transações eletrônicas feitas no varejo, continua preservando sua curva ascendente de expansão. Exemplo disso é a movimentação com o dinheiro de plástico, que subiu 26% no segundo trimestre deste ano sobre o mesmo período de 2010, com um volume de R$ 159 bilhões, segundo a Abecs, entidade que representa o setor.
Isso se deve, sobretudo, ao fenômeno crescente da migração gradual do cheque e do dinheiro para o plástico e, também, porque não há até o momento queda significativa da atividade varejista e dos indicadores de confiança do consumidor. A razão principal está no fato de ser este um setor que, mais do que sensível aos indicadores econômicos e monetários, depende, assim como o próprio comércio, da manutenção dos postos de trabalho e da disponibilidade de renda do trabalhador, além do estoque de crédito.
De acordo com o Ministério do Trabalho, foram criados mais de 1,5 milhão de empregos formais no Brasil até julho e a taxa de desemprego no País registra queda recorde. Esses fatores, somados à aprovação da elevação do salário mínimo em 14% para o próximo ano, indicam uma legião adicional de consumidores potenciais e, logo, uma oportunidade de crescimento para o mercado dos meios eletrônicos de pagamento.
Esta expansão também vem sendo corroborada pelo aumento da base do mercado de cartões, que cresce acima de 20% todos os anos, em parte por conta do já citado fenômeno crescente de migração gradual do cheque e do dinheiro para o plástico e, mais recentemente, até para outros meios de pagamento, como os celulares, os smartphones e os tablets. Além disso, o crescimento da bancarização também tem o seu grau de contribuição efetivo, na medida em que o maior acesso de brasileiros aos produtos e serviços financeiros também se dá por meio da emissão de plásticos.
Oportunidade. Com a ascensão das classes C e D, estamos diante de um universo potencial enorme: segundo estudo realizado pelo Instituto Ipsos, 54% das pessoas deste segmento ainda não são bancarizadas. Isso sem contar que, daqueles com conta em banco, apenas 49% contam com cartão de crédito. É neste contexto que a Abecs estima um mercado brasileiro de cartões de crédito e débito com 700 milhões de unidades ainda em 2011. A expectativa é que esses cartões movimentem mais de R$ 650 bilhões em pagamentos, uma oportunidade inédita no segmento.
*PRESIDENTE DA CIELO S.A.
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