5 de jul. de 2011

NFC: SERÁ O FUTURO DO M-PAYMENT?

revista TI Inside maio 2011 - Claudio Ferreira

Já usual no Japão, a tecnologia Near Field Communication, ou NFC, ainda engatinha no ocidente e no Brasil. Porém, no país do “sol nascente”, as pessoas a utilizam há anos na compra de bilhetes de metrô e em pequenas compras como refrigerantes e lanches. O circuito integrado instalado nos telefones celulares é semelhante ao que as pessoas utilizam em cartões de acesso a prédios.

O NFC pode ser usado, por exemplo, na compra de bilhetes no transporte público, no cinema, teatro ou shows, usando apenas o telefone celular como ferramenta de pagamento no lugar do papel moeda, bastando apenas aproximar o aparelho do equipamento coletor no ponto de venda ou cobrança.

Um chip com o NFC faz a autorização da compra em, no máximo, dois segundos.

A tecnologia não é exatamente uma novidade, mas ganhou um grande alento nos últimos meses como forma de realizar pagamentos. Primeiro ao agregar na mesma “cesta” um grupo de empresas com interesses concorrentes e pesados como Apple, Google e Microsoft em sua defesa - veja mais no Box A tecnologia reúne? Todas afirmam que NFC pode ser o futuro ou presente do m-payment ou mobile payment. De olho em um mercado que, de acordo com a ABI Research, deve chegar a US$ 1 bilhão em 2012.

Avanços lá fora

Do outro lado do balcão, as operadoras de cartões, que seriam os principais competidores ou possíveis perdedores com a plataforma, estão investindo pesado em projetos de NFC. Amex, Visa e Mastercard já possuem experiências no tema – veja mais no Box: Indústria de cartões e o NFC. “Ainda não existe um padrão, a menos que as operadoras se unam em torno de um sabor de NFC. É preciso ter, por exemplo, taxas mais competitivas. Vamos ver um movimento de queda de braço, e quem pode fazer isso acontecer são os cards. Porém, acho que eles estão experimentando para não se surpreender, e não visando a disseminação em larga escala”, aponta Marcos Paulo Amorim, diretor executivo da Blink, empresa especializada na implantação de sistemas de mobilidade em grandes e médias organizações.

O certo é que o Brasil está bem atrasado. Se no Japão o uso do NFC é comum e nos Estados Unidos existem cerca de 150 mil terminais contactless em lojas do McDonald´s e em outras redes, no Brasil ainda essa facilidade ou presença praticamente inexiste, havendo apenas a aplicação em prédios de escritórios.

Para Cícero Torteli, fundador e CEO da Freeddom, empresa responsável pela implementação do sistema Oi Paggo, o NFC não será um substituto de outras formas de pagamento ou mesmo do m-payment e sim mais uma opção ou meio de pagamento eletrônico. “Não acredito que ele virá a sepultar os cartões de plástico, por exemplo. Em alguns casos ele poderá ser uma opção dominante, e preencher lacunas, como no metrô. Para pagamentos rápidos e com valores menores, sem uso de senhas, ele poderá ser uma grande opção. E o NFC pode estar tanto em um telefone celular como em um cartão”, argumenta.

Piloto com direção

No quesito perspectivas, Amorim, da Blink, aponta que o assunto tem tudo para entrar “na moda”. “Acredito que o NFC deve ganhar espaço nos meios de pagamento e existem projetos piloto em curso. Há uma empresa de Marília, no interior de São Paulo (Pagamento Digital), que foi adquirida pelo site Buscapé, e que está fazendo testes. O mercado local ainda é imaturo, porém muita coisa está sendo desenvolvida”, admite.

Um dos pilotos em curso é encabeçado pela GD Burti e agrega Claro, Bradesco, Banco do Brasil e Visa. A empresa é subsidiária da Giesecke & Devrient (G&D), um gigante mundial de tecnologias para smart card, identificação segura e certificação digital, com mais de 150 anos e presença em destacada em 45 países. Karina Prado Dannias, diretora de meios de pagamentos da GD Burti, contabiliza o resultado do projeto: “comprovamos o uso da tecnologia e os benefícios que a mesma pode trazer ao consumidor”.

Ela faz projeções para a adoção da tecnologia no país. “Acredito que no curto prazo teremos redes de adquirentes prontas para NFC, no médio prazo teremos produtos de consumo com tíquete médio baixo como vouchers e transporte, e no longo prazo veremos uma integração total de pagamentos de crédito/débito e novas modalidades que atendam ao público internacional que estará no Brasil na Copa e nas Olimpíadas”, argumenta.

Barreiras e buracos

O que pode travar a disseminação da plataforma é a base de leitoras de cartões recentemente renovada pelos lojistas. Além disso, na ponta dos celulares, Amorim, da Blink, acredita que seja preciso renovar a base de celulares para o padrão mínimo de smartphones ou similares. “Por mais que o mercado acelere, acho que a massificação só chega em 2014, mas o crescimento será rápido”, projeta.

A mesma opinião de Amorim é compartilhada por Torteli, da Freeddom. “A maior barreira está no interesse ou não do varejo. Se estiver disponível e os aparelhos com NFC chegarem por aqui, o cliente vai adotar rápido. Mas, claro, dentro da ideia de valores baixos”, admite.

É certo que ainda se busca o padrão definitivo de NFC, principalmente devido à necessidade de um modelo de segurança agregado. Entretanto, Karina, da G&D, não tem essa preocupação. “O NFC segue padrão EMV, portanto os aspectos de segurança já são conhecidos em normas e padrões mundiais”, garante.

Para Amorim, a segurança no NFC pode ser dividida em duas partes: aspectos técnico e cultural. “Porém, no aspecto cultural, o usuário ainda não enxerga a tecnologia ou os problemas, e isso é algo que veremos com a disseminação da tecnologia”, aponta. A ideia de um dispositivo que faz uma compra e não requer senhas pode trazer preocupações e mesmo problemas. “É preciso ter escala antes de qualquer outra coisa”, finaliza Torteli.

Para fazer acontecer

No entanto, aspectos como a novidade, o uso disseminado dos celulares e mesmo a carência do mercado de m-payment ou de micropagamentos de algo “mais sexy” pode ser suprido pelo NFC. O problema é que as empresas brasileiras se mantêm conservadoras e devem esperar que o mercado internacional resolva as questões de padrão e de volume de utilização para incorporar a plataforma por aqui.

Otimista quanto ao futuro, Karina, da G&D, afirma que o Brasil será um palco importante para a consolidação das mais diversas tecnologias de m-payment, mas aposta no NFC. “É uma opção que agrega o meio de pagamento à conveniência de algo seguro e rápido. O NFC irá acompanhar o movimento de transações EMV sem contato em geral, isto é, assim que a ‘adquirência’ disponibilizar meios de transacionar desta forma, em uma quantidade razoável de estabelecimentos”, completa.

Para Karina, os grandes aceleradores da plataforma serão as redes de transação de cartões como Cielo, Redecard, Getnet, etc. No entanto, como apontam outros especialistas, o que pode fazer com que eles acabem por competir com eles mesmos? O desejo dos lojistas ou a pressão dos usuários? O certo é que celulares com NFC já começam a ser entregues este ano nos Estados Unidos. Mas, por aqui, nada ainda.

Indústria de cartões e o NFC

Experimentação, especulação ou business? A justificativa para os investimentos das operadoras de cartões em NFC passa por essas três palavras e nenhum analista de mercado tem uma certeza. O concreto é que todas as chamadas “bandeiras” de cartões investem na plataforma.

A Amex (American Express), por exemplo, lançou o Serve, seu serviço de pagamentos via celular, em março, nos Estados Unidos. Ele permite que os iPhones, com sistemas operacionais iOS e Android, façam transferência de dinheiro entre pessoas. O sistema abre a possibilidade de criar e gerenciar subcontas de familiares, como a mesada dos filhos, ou de pagamento de pequenos serviços como babás, jardineiros etc. A tecnologia, com uso do NFC, é fruto da aquisição da empresa Revolution Money, concorrente da Pay Pal, por US$ 300 milhões.

Já a Visa, também em março, comunicou ao mercado que firmou acordos para promover seu sistema de pagamentos pessoais em NFC, que entrará em operação nos Estados Unidos em junho.

A princípio por meio de quatro programas pilotos e com a ajuda “luxuosa” das instituições financeiras Bank of America, US Bank, Chase e Wells Fargo.

Por último, mas não menos importante, a MasterCard, como levantou o Wall Street Journal, está desenvolvendo em conjunto com o Google e o Citigroup o seu sistema de pagamento NFC. A novidade é que o Google, segundo a fonte do jornal econômico, deseja que os correntistas não paguem taxas de uso com a contrapartida de que recebam anúncios em seus smartphones.

A tecnologia reúne?

A notícia de que Apple, Google e Microsoft apoiam com a mesma intensidade a plataforma surpreende quem sabe que as três são inimigas ferrenhas no mercado de TI. Porém, existem razões para que elas apostem no NFC. Para Amorim, da Blink, a razão é que todos querem ganhar com um mercado mais do que promissor e a divisão na busca por padrões pode ser ruim para todos.

Um medo que pode ter raízes antigas, como o acontecido com a guerra entre os fabricantes pelos padrões VHS e o Betacam como melhor sistema de vídeo. Mesmo com o Betacam sendo superior, a união de grande parte dos fabricantes pelo padrão VHS selou a morte do concorrente. Afinal, não adianta ter um padrão melhor se ninguém vende e ninguém compra.

No entanto, como já dizia Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra!” E entra a Oracle fazendo ressalvas ao NFC. A empresa recomenda, por exemplo, que os celulares do tipo smartphone tenham um código de barras para conferir a autenticidade do equipamento – não por acaso algo que a empresa pode fornecer e bem. Algo que mereceu críticas de todo o mercado, nesse caso também quase unânime.

A tradução do NFC

Para entender um pouco mais do Near Field Communications, podemos recorrer à definição da companhia alemã G&D. NFC é a tecnologia que realiza a comunicação sem fio e sem contato (contacless) entre os aparelhos celulares e os pontos de venda, e é utilizada por instituições financeiras e emissores de cartões de crédito em vários países. A tecnologia foi projetada para oferecer a segurança necessária durante transações de pagamentos sem a necessidade de contato físico entre o leitor no ponto de venda e o aparelho celular do cliente.

A comunicação NFC difere ainda do Bluetooth porque sua comunicação é criptografada e sob o padrão EMV (Europay, MarterCard-Visa). Ela é realizada por meio de radiofrequência e é mais rápida que o método tradicional. “A grande vantagem é a rapidez com que realiza uma transação segura”, comenta Karina Prado Dannias, diretora de Meios de Pagamentos da G&D.

“Com as transações contactless os lojistas e consumidores ganham com a maior agilidade no pagamento, evitando filas. O mercado também é beneficiado porque a tecnologia possibilita que as compras de pequenos valores entrem para o mundo dos meios de pagamentos eletrônicos, o que deverá promover um incremento da atividade econômica neste setor”, acrescenta.

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