3 de jul. de 2011

CARREFOUR PODE OFERECER 'PRESENTES' PARA RIVAL

jornal Valor Econômico 01/07/2011 - Daniele Madureira

O francês Carrefour tem consciência de que precisará abrir mão de alguns dos seus ativos no mundo para aplacar a fúria do conterrâneo Casino, sócio de Abilio Diniz na Wilkes, controladora do Pão de Açúcar. Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, acabou "esquecido" na discussão do projeto que dá origem ao Novo Pão de Açúcar (NPA), resultado da fusão entre a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD) e a filial do Carrefour no país. Naouri vem se mostrando irredutível à ideia de dialogar com Diniz fora do ambiente formal de uma assembleia de acionistas.

Como um bom negociador, o BTG Pactual - que pretende se tornar sócio do NPA e foi responsável por estruturar a proposta de fusão a quatro mãos, com a butique financeira Estáter - sabe que tudo tem seu preço. Segundo apurou o Valor, o banco estuda a oferta de "presentes" do Carrefour para o Casino, como uma espécie de compensação pelos dissabores dos últimos dias.

Os principais ativos à mesa serão as redes do Carrefour em mercados emergentes, como Turquia, Polônia, Indonésia e Taiwan. Vale lembrar que, em novembro, o Casino comprou a operação do Carrefour na Tailândia, por US$ 1,2 bilhão.

O Casino faturou € 29 bilhões em 2010, sendo 62% na França. A expansão da empresa no exterior é tímida: está presente em apenas seis mercados, fora o Brasil (Argentina, Colômbia, Tailândia, Uruguai, Vietnã e Oceano Índico). Nenhum deles expressivo o suficiente.

Já o Carrefour, dono de um faturamento de € 101 bilhões no ano passado, tem operações em 34 países, envolvendo Europa, América Latina e Ásia. De todos os emergentes que poderiam entrar na oferenda, o negócio da Polônia é o mais atraente: faturamento de € 2,2 bilhões no ano passado. Mas o segundo maior faturamento do Carrefour nos mercados emergentes, depois do Brasil (que respondeu por vendas de €12,5 bilhões), é a Argentina: € 3,4 bilhões.

Se nenhuma dessas operações tocar o Casino, é possível que o banco volte suas baterias para a primeira opção que havia estudado: o Dia%. A rede de lojas de bairro, com preços abaixo da média do mercado, que acabou de ter um processo de separação do Carrefour ("spin-off") aprovado, foi o que primeiro veio à mente do BTG para saciar o Casino.

Mas como a assembleia de acionistas do Carrefour, que decidiu pelo "spin-off" do Dia%, aconteceu no último dia 22 - cinco dias antes, portanto, da apresentação da proposta de fusão para os acionistas franceses - a oferta da rede não foi possível. A ideia era acenar para o Casino com a possibilidade de herdar a rede Dia%, criada na Espanha e que vem respondendo por resultados expressivos no Carrefour. É a terceira maior rede de lojas de desconto no mundo e, mesmo antes da decisão do "spin-off", tinha uma gestão independente do Carrefour. Suas vendas giram em torno de € 10 bilhões e tem 6.373 lojas em sete países.

Essa ideia, no entanto, não está completamente descartada. Segundo apurou o Valor, o BTG espera apenas que Diniz vença a resistência do Casino em negociar e que ele faça seus pedidos. O banco vai trabalhar para que a operação saia, testando todas as propostas possíveis.

Mesmo porque, Carrefour e Dia% têm os mesmos acionistas - entre eles, o fundo Blue Capital, com quem Diniz já vinha negociando.

Depois dos sucessivos aumentos de capital no Pão de Açúcar este mês, O Casino anunciou ontem a venda para a Exito, a maior rede varejista de capital aberto da Colômbia, dos supermercados uruguaios Disco e Devoto, por €520 milhões de euros.

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