3 de jul. de 2011

WALMART GANHA FORÇA NA DISPUTA PELO CARREFOUR

jornal Brasil Econômico 01/07/2011 - Françoise Terzian

Longe de acabar, a queda de braços entre Abilio Diniz , presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, e Jean Charles Naouri, presidente do Casino, pode favorecer o Walmart. Em 2009, a maior rede varejista do mundo manteve conversações como Carrefour Brasil como intuito de incorporar sua operação no país. Agora, diante da resistência do Casino em aceitar a fusão, o que se comenta dentro do Carrefour Brasil é que oWalmart deve voltar a procurá-los.

Embora a entrada dos americanos na disputa possa valorizar o passe do Carrefour, os franceses demonstram clara predileção por Diniz. Se o Walmart comprar o Carrefour, teme-se que a marca desaparecerá do país em dois a três anos. Os americanos têm um estilo de gestão mais lento quando o assunto envolve a mudança de estrutura e de bandeira. Mas quando decidem, vão até o fim.

O alto comando do Carrefour crê não ser de interesse dos americanos manter a marca francesa no país. Já com o Pão de Açúcar, há a certeza de que os 36 anos de Carrefour Brasil seriam preservados.

Não porque Diniz se comprometeu a manter as lojas abertas, mas porque o Novo Pão de Açúcar (NPA) deteria 11,7% do Carrefour França, com a possibilidade de comprar mais 6% das ações nos próximos anos.

Diante disso, seria de interesse do maior supermercadista brasileiro fortalecer a marca Carrefour no Brasil. Para a matriz do Carrefour, a entrada do Pão de Açúcar no negócio também seria interessante, uma vez que eles aportariam dinheiro diretamente na operação francesa.

A incorporação entre o Walmart e o Carrefour Brasil não foi para a frente há dois anos porque a rede americana teria encontrado mais problemas que os imaginados. Isso inclui desde indícios que depois se concretizaram em um rombo contábil de € 550milhões, descoberto no ano passado, e deficiências nos hipermercados.

Como adiamento da compra, o Walmart foi atropelado por Abilio Diniz, que se viu sem saída com a proximidade de 2012, o ano em que o Casino poderá exercer seu direito de assumir o controle do Pão de Açúcar.

Para sorte do Walmart, o desentendimento entre Diniz e Naouri o traz novamente para o jogo justamente no momento em que o Carrefour começou a limpar a casa.

Ou seja, o cenário agora é outro. Desde a descoberta do rombo contábil, o Carrefour Brasil vem conduzindo uma forte reestruturação em diversos níveis e áreas da empresa, o que incluiu desde a troca de presidente e diretores até uma revisão dos hipermercados, que apresentavam problemas variados como lojas sujas, falta de alguns produtos de alto giro ou margem mais folgada e tempo de atendimento aquémdo esperado. Procurados, Carrefour e Walmart não se pronunciaram.

Independência

A rede francesa parece não estar tão mal das pernas quanto se fala no mercado. Para a cúpula, o Carrefour Brasil tem condições de continuar sua escalada rumo ao topo do setor supermercadista brasileiro sozinho, sem pedir ajuda ao Pão de Açúcar ou ao Walmart.

Em paralelo, o grupo francês vem registrando suas maiores taxas de crescimento em mercados emergentes como o Brasil e a China, segundo o balanço do primeiro trimestre deste ano. De janeiro a março de 2011, as vendas cresceram mais no Brasil (12,4%) que na China (12,1%), A retomada dos negócios tem a ver com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro e também com o Atacadão, uma espécie de galinha dos ovos de ouro dos franceses.

O grande interesse dos franceses no sucesso da fusão com o Pão de Açúcar tem a ver com os frutos que esta união poderá trazer ao Carrefour na Europa. A nova companhia, caso saia do papel, já se comprometeu a realizar aportes no Carrefour França, onde as vendas só das lojas no formato hipermercados caíram 1%. Em outros países da Europa, o que engloba o grupo Espanha, Bélgica e Itália, a situação consolidada foi ainda mais complicada, com queda de 4% no faturamento no primeiro trimestre deste ano.

Agora é esperar para saber quanto tempo os franceses do Carrefour resistirão ao assédio de terceiros e manterão a decisão de fechar negócio com o Pão de Açúcar.

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