jornal Valor Econômico 14/02/2012 – Natália Viri
A definição do preço a ser pago pelo Itaú Unibanco na oferta
para fechamento de capital da Redecard começa a ganhar contornos mais tensos,
sinalizando que o banco pode ter que desembolsar mais do que os R$ 12 bilhões
inicialmente previstos se quiser concluir a operação.
Na sexta-feira, apenas três dias após o anúncio da operação
por parte do Itaú, o conselho da credenciadora de cartões de crédito e débito
aprovou a lista de três instituições que poderão elaborar o laudo de avaliação
que servirá de referência para a operação.
Em assembleia da Redecard, ainda a ser convocada, os
acionistas poderão escolher entre o Bank of America Merrill Lynch (BofA), o
Credit Suisse e o Rothschild & Sons. As duas primeiras instituições já têm
uma cobertura sistemática das ações da Redecard. O preço-alvo definido pelo
BofA para os próximos 12 meses é de R$ 34,5 por ação, enquanto o Credit Suisse
prevê um preço justo de R$ 35.
As avaliações estão alinhadas com os R$ 35 por ação
propostos pelo Itaú - prêmio de 9,2% em relação ao pregão do dia 6, anterior ao
anúncio da oferta -, sinalizando que o laudo não deve trazer grandes surpresas
em relação ao valor estimado pela controladora. Conforme esclarecido pelo
banco, o preço de R$ 35 não inclui os dividendos de cerca de R$ 1,10 que serão
pagos em março. Em meio às incertezas, a cotação da ação na bolsa gira em torno
do preço proposto pelo Itaú mais os proventos - ontem fechou a R$ 36,20.
Ao mesmo tempo, alguns investidores começam a mostrar
insatisfação em relação ao preço. A Vontobel, uma gestora de recursos americana
que tem cerca de R$ 80 milhões investidos em Redecard - representantes de 0,7%
do capital em circulação -, afirmou ao Valor que não vai aderir à oferta.
Segundo Sudhir Roc-Sennett, gestor da Vontobel, que
administra US$ 20 bilhões, o preço justo para a oferta seria de R$ 55. Isso
porque, apesar de o prêmio embutido na proposta, o valor implica uma relação
entre preço e lucro de 16 vezes, bastante abaixo do múltiplo de 30 vezes
observado na abertura de capital em 2007.
"Entendemos que o ambiente competitivo mudou, com a
abertura da concorrência entre credenciadoras de cartões, mas acreditamos que
há espaço para buscar o múltiplo de preço e lucro próximo de 20 vezes, que está
embutido nesses R$ 55", afirmou o gestor.
Questionado sobre a adesão de outros fundos à oferta,
Roc-Sennett não quis citar nomes, mas ressaltou: "Os fundos de longo prazo
com o mesmo perfil que o nosso provavelmente têm essa mesma visão". Para
concluir o fechamento de capital, o Itaú precisa que acionistas representantes
de pelo menos dois terços das ações em circulação aceitem a oferta.
Como a empresa tem uma base acionária dispersa, o
posicionamento da Lazard Asset, que detém 10% do capital total e quase 20% dos
papéis em circulação, será decisivo para a aceitação do valor. Sozinha, a
gestora pode solicitar um novo laudo, caso não concorde com a primeira
avaliação. A Lazard não quis se pronunciar.
Um gestor de fundo brasileiro com grande fatia de Redecard,
disse estar certo de que haverá "uma boa briga" em torno da oferta.
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