jornal Valor Econômico 20/01/2012 – Cesar Felício
Um ex-sapateiro que começou a vender na feira de La Salada
nos anos 90, Jorge Castillo é hoje o principal administrador do complexo e
tenta tirar o fenômeno das fronteiras suburbanas de Buenos Aires. Castillo
registrou a marca e montou um portal de vendas on-line. Agora, pretende lançar
um cartão de crédito e verticalizar a produção, montando fábricas têxteis no
noroeste argentino e diz que está comprando uma área em Miami para montar a
mesma feira nos Estados Unidos.
São empreitadas enormes até para quem coordena um negócio
bilionário. Com a escalada internacional do preço da fibra de algodão, ter
acesso a fontes baratas de matéria prima é um desafio para a indústria têxtil.
Castillo fez circular pela principal província algodoeira da Argentina,
Santiago del Estero, um documento em que sugere a montagem de um polo têxtil
para faturar anualmente AR$1,5 bilhão, ou cerca de US$ 350 milhões.
Para lançar o cartão de crédito, a projeção é mais modesta:
Castillo tenta atrair um banco como sócio minoritário que injete US$ 50 milhões
no negócio. "Estou negociando com três instituições", garante. A
bandeira, segundo Castillo, será Visa.
A iniciativa mais ousada é a entrada nos Estados Unidos,
país cujo governo produziu um relatório em que acusa La Salada de ser um
negócio que abriga "gangues de criminosos". "Já tenho o
endereço: é uma área de 10 mil metros, que terá 300 postos. Vamos pagar US$ 100
milhões", disse.
Muito longe da Flórida, os vendedores de La Salada não fazem
planos. "O meu negócio é sobreviver", disse Liliana Landolf, que
vende calçados esportivos de crianças e mulheres. A vendedora é uma das que
reclamam das vendas do último Natal. "Aqui cresceu demais, a competição
ficou muito grande e os insumos subiram 20%. A margem caiu", afirmou, sem
revelar o quanto vende nos dois metros quadrados que explora. A atividade de
Liliana é tipicamente familiar: entrou no negócio quando a fábrica de calçados
em que seu marido trabalhava fechou, em decorrência das crises que abalaram a
Argentina nos anos 90 e que devastaram o parque industrial do país.
"É preciso se entender que o trabalho aqui nos ocupa
duas vezes por semana. Todo mundo tem uma segunda atividade. A minha é
percorrer o país, vendendo artigos miúdos, de bazar", afirmou Walter
Lamas, que vende em média duzentas calças de brim em sua barraca, por um preço
entre 60 e 70 pesos cada. Em um dia ruim, fatura 9 mil pesos. No dia bom,
consegue até 14 mil pesos por jornada, ou U$ 3,2 mil.
Os dias ruins ultimamente têm predominado, segundo o
boliviano José Paco, que vende vestidos e camisas para mulheres acima do peso.
"Veja como a minha barraca está lotada de mercadoria. No ano passado,
neste mesmo mês, a uma hora dessas já não tinha quase nada", lamentou. O
ferrolho colocado pelo governo da Argentina nas importações o preocupa. Nos
últimos meses, houve uma escalada de medidas protecionistas para tentar
preservar o saldo comercial. "O tecido que usamos vem da China. O nacional
custa dez pesos por quilo a mais". Paco está na Argentina há treze anos,
mas já na Bolívia trabalhava com corte e costura. Avalia faturar quinze mil
pesos por feira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário