jornal Valor Econômico 16/01/2012 - Aline Lima
A financeira Lecca se despede das operações de varejo, ao
mesmo tempo em que minimiza a intenção de tornar-se banco, algo que foi
anunciado com entusiasmo no passado recente. Depois de vender sua carteira de
crédito direto ao consumidor para o Fibra, em 2007, a Lecca agora decide deixar
de operar com crédito consignado.
O grupo carioca Lecca, comandado por Pedro da Costa
Carvalho, que tem sob seu guarda-chuva uma distribuidora de títulos e valores
mobiliários (DTVM), está com pedido pendente de autorização no Banco Central
(BC) para se transformar em banco. Mas Carvalho adianta que, no momento, isso
já não é mais foco.
"Surgiu essa conversa antes, mas a expectativa que se
cria não é muito saudável", diz. "A estrutura que temos é suficiente
para operarmos no mercado de antecipação de recebíveis e de emissão de cartões,
nossas prioridades daqui para frente."
A captação via depósitos a prazo com garantia especial
(DPGEs), letras de câmbio e recibos de depósito bancário (RDBs) constitui a
principal fonte de recursos da Lecca - além da cessão de recebíveis para fundos
administrados pela própria instituição. De acordo com o último balanço, de
2010, houve uma queda expressiva do volume de depósitos em RDBs e DPGEs, de R$
33,75 milhões, em dezembro de 2009, para R$ 13,16 milhões em dezembro de 2010.
No mesmo período, os depósitos via letras de câmbio recuaram de R$ 35,540
milhões para R$ 14,295 milhões.
Uma apresentação institucional da Lecca mostrava que a
financeira tinha, em setembro de 2011, patrimônio líquido de R$ 47,5 milhões,
ativos totais de R$ 194 milhões e índice de Basileia de 12,84%.
Da carteira de R$ 194 milhões em créditos da Lecca, as
operações de consignado respondiam por 82%, a de recebíveis, por 17%, e a de
cartões, por 1%. Carvalho conta que vem fazendo alguns poucos refinanciamentos
de crédito consignado - as operações são voltadas para o setor público,
especialmente convênios com as Forças Armadas e com aposentados e pensionistas do
INSS. Mas a expectativa é praticamente zerar o saldo da modalidade em cinco
anos.
No longo prazo, a ideia é que a operação de recebíveis
represente dois terços da carteira da financeira, sendo o restante ocupado pela
área de cartões "private label" - em que o relacionamento é com o
lojista e não com o usuário do cartão. "Em termos de receita, esperamos
que as contribuições das duas áreas sejam iguais."
Neste ano, a carteira de recebíveis deve fechar em R$ 50
milhões, abaixo dos R$ 75 milhões projetados inicialmente. "Preferimos ser
mais cautelosos por conta do aumento da inadimplência", justifica. Segundo
ele, o índice de inadimplência da carteira de recebíveis está baixo, em torno
de 0,5%.
A proibição de transferência dos custos das instituições
financeiras com o serviço de correspondente bancário - a comissão dos
"pastinhas" - para o tomador do crédito, determinada pelo Banco
Central (BC) no início de 2011, a exigência de mais capital para as concessões
(medida parcialmente revertida em novembro pelo BC) e a maior concorrência dos
grandes bancos no crédito consignado foram os motivos que levaram a Lecca a
abrir mão desse mercado.
As operações de consignado haviam começado em 2007, depois
de a financeira sair do CDC, ao vender a carteira para o Fibra.
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