20 de fev. de 2012

LECCA REDUZ ENTUSIASMO COM BANCO E ABANDONA VAREJO


jornal Valor Econômico 16/01/2012 - Aline Lima

A financeira Lecca se despede das operações de varejo, ao mesmo tempo em que minimiza a intenção de tornar-se banco, algo que foi anunciado com entusiasmo no passado recente. Depois de vender sua carteira de crédito direto ao consumidor para o Fibra, em 2007, a Lecca agora decide deixar de operar com crédito consignado.

O grupo carioca Lecca, comandado por Pedro da Costa Carvalho, que tem sob seu guarda-chuva uma distribuidora de títulos e valores mobiliários (DTVM), está com pedido pendente de autorização no Banco Central (BC) para se transformar em banco. Mas Carvalho adianta que, no momento, isso já não é mais foco.

"Surgiu essa conversa antes, mas a expectativa que se cria não é muito saudável", diz. "A estrutura que temos é suficiente para operarmos no mercado de antecipação de recebíveis e de emissão de cartões, nossas prioridades daqui para frente."

A captação via depósitos a prazo com garantia especial (DPGEs), letras de câmbio e recibos de depósito bancário (RDBs) constitui a principal fonte de recursos da Lecca - além da cessão de recebíveis para fundos administrados pela própria instituição. De acordo com o último balanço, de 2010, houve uma queda expressiva do volume de depósitos em RDBs e DPGEs, de R$ 33,75 milhões, em dezembro de 2009, para R$ 13,16 milhões em dezembro de 2010. No mesmo período, os depósitos via letras de câmbio recuaram de R$ 35,540 milhões para R$ 14,295 milhões.

Uma apresentação institucional da Lecca mostrava que a financeira tinha, em setembro de 2011, patrimônio líquido de R$ 47,5 milhões, ativos totais de R$ 194 milhões e índice de Basileia de 12,84%.

Da carteira de R$ 194 milhões em créditos da Lecca, as operações de consignado respondiam por 82%, a de recebíveis, por 17%, e a de cartões, por 1%. Carvalho conta que vem fazendo alguns poucos refinanciamentos de crédito consignado - as operações são voltadas para o setor público, especialmente convênios com as Forças Armadas e com aposentados e pensionistas do INSS. Mas a expectativa é praticamente zerar o saldo da modalidade em cinco anos.

No longo prazo, a ideia é que a operação de recebíveis represente dois terços da carteira da financeira, sendo o restante ocupado pela área de cartões "private label" - em que o relacionamento é com o lojista e não com o usuário do cartão. "Em termos de receita, esperamos que as contribuições das duas áreas sejam iguais."

Neste ano, a carteira de recebíveis deve fechar em R$ 50 milhões, abaixo dos R$ 75 milhões projetados inicialmente. "Preferimos ser mais cautelosos por conta do aumento da inadimplência", justifica. Segundo ele, o índice de inadimplência da carteira de recebíveis está baixo, em torno de 0,5%.

A proibição de transferência dos custos das instituições financeiras com o serviço de correspondente bancário - a comissão dos "pastinhas" - para o tomador do crédito, determinada pelo Banco Central (BC) no início de 2011, a exigência de mais capital para as concessões (medida parcialmente revertida em novembro pelo BC) e a maior concorrência dos grandes bancos no crédito consignado foram os motivos que levaram a Lecca a abrir mão desse mercado.

As operações de consignado haviam começado em 2007, depois de a financeira sair do CDC, ao vender a carteira para o Fibra.

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