portal Exame 26/01/2012 - Beatriz Olivon
O Brasil tem em circulação três vezes mais cartões de lojas
(o chamado private label) que toda a Europa Ocidental. Na verdade, só perdemos
para os Estados Unidos, que possuiu quase o dobro do número de cartões do
Brasil. São 206 milhões de cartões no Brasil e mais de 400 milhões nos Estados
Unidos. As lojas que tem liderado no Brasil são C&A, Riachuelo e Casas
Pernambucanas, segundo dados da Euromonitor de 2010. Classe c, roupas e
antiguidade na oferta dos cartões ajudam a explicar o fenômeno.
No Brasil, o cartão de loja é até anterior aos cartões de
bancos. “Nas décadas de 60 e 70 já havia. Era uma maneira de os varejistas
darem crédito ao cliente”, disse Boanerges Ramos Freire, presidente da
consultoria em varejo financeiro Boanerges & Cia. A atuação da Riachuelo e
da Casas Pernambucanas no segmento remete a essa época. As redes possuíam, em
2010, respectivamente, 9,7 milhões de cartões e 8,8 milhões de cartões. A
líder, C&A, soma 11,9 milhões de cartões.
Além do tempo no mercado, outro fator que explica o destaque
da C&A, Riachuelo e Casas Pernambucanas é o foco na atividade de varejo financeiro.
A C&A já teve o banco ibi, comprado pelo Bradesco em 2009. Riachuelo e
Casas Pernambucanas contam com financeiras próprias. “O varejo tem sua
peculiaridade de operação e exige, muitas vezes, ações mais ágeis e rápidas.
Estando tudo dentro de casa, há mais agilidade e flexibilidade”, disse José
Antônio Rodrigues, diretor de crédito e risco da Riachuelo.
As três são lojas de departamento, logo, não há,
necessariamente, vendedores em cada unidade – mas há representantes dos
cartões, que oferecem o produto para a clientela. “Entre 20 e 30 minutos eles
conseguem analisar, aprovar e emitir um cartão para você já sair gastando na
loja”, disse Boanerges.
O segmento de atuação das três empresas, basicamente
vestuário, também ajuda, segundo Boanerges, pois é um produto que não é
indispensável – e não é caro como eletrodomésticos, por exemplo. “Você já fala
com a pessoa em um momento positivo”, disse Boanerges.
Clientes
Um fator que levou o Brasil a ter destacada participação no
private label é o grande número de consumidores das classes C e D, segundo
Álvaro Musa, sócio na consultoria Partner Conhecimento. “Esses consumidores são
muito mais ligados aos varejistas do que aos bancos”, disse Musa. Para
Boanerges, o cliente se sente mais à vontade com o varejista. “Muito varejista
fala a língua do cliente. No banco o mundo é muito diferente, por segurança e
mesmo por status”, disse.
Para as lojas, o cartão oferece a possibilidade de conhecer
de perto os hábitos de consumo dos consumidores e, com isso, ajustar melhor
promoções e divulgações de campanhas. “Se a pessoa paga com dinheiro, cheque ou
cartões de outros, o cliente é desconhecido para mim”, disse Rodrigues.
Riachuelo
O Grupo Guararapes, dono da Riachuelo, criou sua financeira,
a Midway, em 2008 – mas a loja já oferecia cartões desde 1986. A Midway deu ao
grupo a possibilidade de oferecer as bandeiras Visa e MasterCard. Hoje, cerca
de 25% do lucro do grupo vem das operações financeiras.
Há mais de dez anos, os cartões da rede eram usados nos
pagamentos de cerca de 75% do faturamento da loja. Essa participação tem
diminuído nos últimos cinco anos. Em 2011, a participação foi de 53%,
aproximadamente. Para Rodrigues, o private label vem diminuindo no país, por
causa do aumento da oferta de cartões e por mudanças nos hábitos de pagamento
dos consumidores.
Ao contrário da percepção de Rodrigues, números do setor
indicam que o private label vem crescendo no Brasil. O mercado de cartões de
lojas, bandeirados e não-bandeirados, cresce uma média de 16% ao ano desde
2006, segundo dados da Boanerges & Cia.
Para termos um exemplo do tamanho do mercado de private
label no Brasil, a brasileira IntelCav,
oitava maior fabricante de cartões bancários do mundo, anunciou em 2011
o início das operações de um novo centro de personalização de cartões, com foco
em cartões de loja e com capacidade para personalizar 400 mil cartões por mês.
Em 2011, a Midway emitiu mais de 1 milhão de cartões Visa e
Master e a meta, em 2012, é repetir o feito. Na Riachuelo, a expansão do cartão
é atrelada aos pontos de venda. No ano passado, a rede somava um total de 145
lojas - o plano é abrir mais 30 unidades em 2012. A presença é mais forte nas
regiões norte e nordeste.
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