13 de jun. de 2011

O PERIGO DO CRÉDITO

jornal O Povo 11/06/2011 - Luar Maria Brandão

Da cansada blusa xadrez ao carro lindo da propaganda. Dá para passar tudo no cartão ou financiar. Com tanto crédito na praça, hoje o brasileiro pode comprar (quase) de tudo quanto o que deseja. Mas tanto desejo pode sair caro. Se, nos últimos quatro anos, uma leva de trinta milhões de brasileiros passou a usar o crédito pela primeira vez para comprar, neste ano, já cresceu 25%.

Com a estabilidade econômica alcançada, houve melhoria de renda, níveis baixíssimos de desemprego e vontade de continuar crescendo. Em abril de 2008, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva disse que “não tem como ser um país capitalista sem que se tenha crédito”.

Pouco antes, em 2003, um movimento antes tímido entre as camadas sociais do País ganhou corpo e fez crescer vertiginosamente o número de brasileiros que despregava das camadas mais baixas da população e adentrava com gosto as portas da sociedade de consumo. A nova classe média do Brasil abocanhou 53% da população (em 2003, eram 37,56%). Hoje, tem-se a marca de 101,65 milhões de brasileiros com necessidades básicas de consumo e mais dinheiro no bolso.

Do anúncio do ex-presidente para cá, o crédito para o financiamento de imóveis, carros e aquisição de cartões de crédito, principalmente, expandiu na casa dos 20% ao ano. Também por ano, 7,5 milhões de brasileiros, em média, tiveram seus CPFs consultados pela primeira vez para aprovação de uma venda a prazo, endossando a massa de crediaristas no País, segundo pesquisa nacional da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Compras
Boa parte desses novos consumidores aproveitou para comprar carros. Em 2010, o Brasil bateu recordes na venda de automóveis. Foram emplacados quase 5,5 milhões de veículos em todo o país, 12,42% a mais do que em 2009, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A forma de pagamento? Financiamento. Cerca de 70% dos carros comprados, no ano passado, foram financiados, a maioria deles por meio de Crédito Direto ao Consumidor (CDC).

Outra parte da tsunami de crédito ajudou o brasileiro a comprar um milhão de imóveis em 2010. Os financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança atingiram R$ 56,2 bilhões em 2010, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). O crédito imobiliário no País fechou o ano anterior em torno de 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Os gordos números revelam: o brasileiro se endividou para ter casa própria e carro na garagem. Mas o negócio é que ele também se endividou para mobiliar a casa, equipar o carro, se vestir. Produtos antes muito caros e até supérfluos, agora são necessidade básica. DVD e micro-ondas não faltam na casa da classe C. Além dos bancos, as grandes redes varejistas e os supermercados também ouviram o recado de Lula e abriram linhas e linhas de crédito, dando impulso ainda maior nessa força de consumo dos ascendentes econômicos da sociedade.

E com isso, além dos setores automotivo e imobiliário, outro que lucrou muito nestes anos foi o mercado de cartões. O setor faturou R$ 145,2 bilhões só no primeiro trimestre deste ano. Desse total, R$ 83,7 bilhões foi só em cartões de crédito, aumento de 23% em relação ao mesmo período no ano passado, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços.

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