portal Isto É Dinheiro 10/02/2012 - Cláudio Gradilone
Numa rara incursão pelo Sudeste, o compositor baiano Elomar
Figueira de Mello, 73 anos, apresentou-se no domingo 5 em São Paulo. Um dos
ícones da música nordestina, uma espécie de João Gilberto do sertão, por seu
estilo arredio, avesso aos holofotes e sem meias palavras, Elomar fez alguns
agradecimentos especiais ao final do espetáculo. Um deles foi dirigido ao
instituto Itaú Cultural, que gerencia os apoios do Itaú Unibanco às artes.
Depois de elogiar o mecenato, Elomar, que em várias canções havia criticado o
sistema financeiro, disparou: “É bom que o banco patrocine esse tipo de coisa.
Afinal, ele ganha muito dinheiro.”
Dois dias depois, na terça-feira 7, Roberto Setubal,
presidente e CEO do Itaú Unibanco, confirmaria com todos os números as palavras
de Elomar. O banco anunciaria um lucro de R$ 14,6 bilhões, o melhor resultado
registrado até agora por uma instituição financeira no Brasil em todos os
tempos. “Os resultados melhoraram devido à melhoria operacional, fruto da
conclusão da integração entre Itaú e Unibanco, e também por causa do aumento da
carteira de crédito”, disse Setubal ao comentar o balanço, no QG do banco, no
bairro do Jabaquara, na capital paulista. O número mais significativo do
demonstrativo financeiro foi o crescimento da carteira de crédito, que avançou
19,1% em relação ao fim de 2010, chegando a R$ 393 bilhões.
O banco informou na quarta-feira 8 que espera um crescimento
de até 17% nos créditos em 2012, e, segundo Setubal, as carteiras mais
promissoras são de empréstimos para pequenas e médias empresas e financiamentos
imobiliários. A melhora na qualidade dos empréstimos ajudou a turbinar o resultado.
Segundo Mario Pierry, analista do Deutsche Bank no Brasil, a redução dos juros
ao longo do ano passado diminuiu o ganho financeiro do Itaú, mas a queda foi
mais do que compensada pela diminuição das provisões e por um forte controle de
gastos, que melhorou a eficiência do banco. Segundo Roberto Attuch, diretor de
análise do Barclays Capital, esses números indicam um crescimento de 15% nos
resultados para este ano.
No entanto, a notícia do resultado perdeu um pouco de sua
relevância devido a outra decisão do grupo, anunciada também na terça-feira 7.
Naquela manhã, o Itaú divulgou um fato relevante, informando que fará uma
Oferta Pública de Aquisição (OPA) para adquirir todas as ações da processadora
de transações Redecard em circulação no mercado. O negócio, que está orçado em
R$ 11,8 bilhões, será a maior transação financeira desde a fusão entre Itaú e
Unibanco, divulgada no início de novembro de 2008. Imediatamente, as ações da
Redecard subiram cerca de 9%, aproximando-se do preço anunciado de compra de R$
35 por ação. Por que o Itaú gastaria quase R$ 12 bilhões para comprar 49% de
uma empresa que já controla?
Insistentemente questionado, Setubal foi econômico nas
informações. “Nossa principal intenção é ganhar eficiência e agilidade”, disse
ele. O executivo ilustrou com um exemplo envolvendo a Hypercard, empresa nordestina responsável por cadastrar
estabelecimentos para aceitar cartões, a chamada adquirência, controlada pelo Unibanco antes da fusão.
“Quando decidimos transferir algumas das operações da Hypercard para a
Redecard, tivemos de esperar seis meses para que isso fosse aprovado no
conselho”, disse Setubal. “Com a oferta e com o fechamento de capital, vamos
ganhar mais agilidade para tomar esse tipo de decisão.” A explicação do
comandante do maior banco privado brasileiro é insuficiente.
Além de ganhar agilidade, a incorporação vai aumentar e
muito os resultados para o banco, permitindo ao Itaú incorporar de uma só vez à
base de clientes cerca de 300 mil pequenas e médias empresas de varejo. Cada um
dos POS – as famosas maquininhas – da Redecard será transformado quase em uma
agência virtual sobre os balcões de centenas de milhares de pequenos
comerciantes. “Essa é uma maneira rápida de ganhar escala”, diz David Kaddoum,
sócio da gestora de fundos carioca Atmos Capital, que tem nas ações da Redecard seu investimento mais importante. Ao transformar
a administradora em uma subsidiária integral, o Itaú vai embolsar toda a
receita das transações, que hoje tem de ser rateada com os bancos parceiros.
A concorrência percebeu as vantagens de manter uma empresa
de cartões nos livros do banco. A empresa de transações GetNet, controlada pelo
espanhol Santander, começou a operar em
2010 e já credenciou 147 mil estabelecimentos, tendo movimentado R$ 11 bilhões
no ano passado. “Todas essas empresas são clientes preferenciais para a venda
de produtos bancários”, diz Kaddoum. Ao fazer o mesmo com a Redecard, o Itaú
deverá ganhar musculatura para operar em um mercado de massa no qual ficou em
desvantagem após o Banco do Brasil ter assumido o Banco Postal e o arquir-rival
Bradesco ter inaugurado cerca de mil agências no ano passado.
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