jornal Valor Econômico 15/02/2012 –
Após um 2011 positivo, este ano começou com novidades que
devem balizar o desempenho das ações da Cielo nos próximos meses. A reviravolta
no setor de credenciamento de cartões ocorreu na semana passada, com o anúncio
de que o Itaú Unibanco pretende fechar o capital da Redecard, principal
concorrente da Cielo.
Para que Redecard saia da bolsa, acionistas representantes
de pelo menos dois terços das ações em circulação precisam concordar em vender
sua fatia para os controladores. A expectativa do mercado é de que todo o
processo dure entre quatro e seis meses. Nesse período, os papéis da Cielo
devem ficar em compasso de espera.
"As perspectivas para o mercado de credenciamento de
cartões são positivas, com o crescimento da renda da classe C e o aumento da
bancarização da população", afirma Jacqueline Lieson, da F ator Corretora.
E os resultados da Cielo no quarto trimestre agradaram. A empresa teve lucro de
R$ 504,5 milhões, alta de 13% sobre o mesmo período de 2010.
Mas, com os riscos associados às mudanças na Redecard e a
valorização de 51,7% apresentada pelas ações da Cielo no ano passado, a
analista alterou a recomendação para os papéis de compra para manutenção.
A Fator engrossa o coro da maior parte dos analistas, que
indica que esse não é o melhor momento para investir nas ações. De acordo com
dados compilados pela "Bloomberg", das 27 instituições que acompanham
as ações da Cielo, 17 recomendam manutenção e 10, compra. O preço-alvo médio
estipulado pelas casas de análise para os próximos 12 meses é de R$ 56,19,
bastante próximo da cotação atual do papel, de R$ 55.
O principal questionamento, agora, é se a empresa vai
acompanhar o movimento da Redecard e também sair da bolsa. "Ser a única
empresa com informações públicas em um setor em que a competição é acirrada
certamente é uma desvantagem", lembra Luciana Leocádio, analista da Ativa
Corretora. Por outro lado, se permanecer como a única opção em bolsa, a Cielo
pode concentrar os investidores que desejam entrar no setor, o que pode
conferir um viés de alta às ações, afirma Luciana.
Em teleconferência com analistas, o presidente da Cielo,
Rômulo Dias, tentou desfazer os rumores e afirmou que "continuará a atuar
da mesma forma e intensificará seus esforços no sentido de se diferenciar em
relação às concorrentes". Ontem, Aldemir Bendine, presidente do Banco do
Brasil - que compartilha o controle da Cielo com Bradesco -, afirmou que não
tem intenção de fechar o capital da subsidiária do setor de credenciamento de
cartões.
De fato, a percepção do mercado é de que uma operação para
tirar a Cielo da bolsa seria mais complexa. A valores atuais - sem considerar
um prêmio para a oferta -, os controladores teriam de desembolsar cerca de R$
31,6 bilhões. E o Banco do Brasil não tem tanta disponibilidade de capital,
segundo analistas.
Uma possibilidade seria o Bradesco comprar a fatia do sócio.
Mas, na avaliação de Victor Schabbel, do Credit Suisse, essa operação não faria
tanto sentido. "Ao comprar a totalidade da Cielo, o Bradesco perderia a
rede de distribuição do Banco do Brasil", escreveu o analista em
relatório.
Outra preocupação dos investidores de Cielo é de que, com o
fechamento de capital da concorrente, haja uma maior integração na oferta de
produtos junto ao Itaú e, com isso, uma nova guerra de preços, nos moldes do
que ocorreu em 2010, quando houve a abertura à concorrência no credenciamento
de cartões.
Naquele ano, ambas as empresas abriram mão de rentabilidade
para ganhar mercado, o que acabou afetando a última linha do balanço e fez com
que as ações de Cielo e Redecard recuassem - as perdas acumuladas no ano foram
de 5,6% e 21,6%, respectivamente.
Ao contrário do que previam os mais pessimistas, no entanto,
as empresas retornaram a uma dinâmica competitiva mais saudável. Em 2011, com
geração de caixa robusta e uma política gorda de distribuição de dividendos,
figuraram entre as queridinhas dos investidores. O que vai se observar agora é
se, sozinha, a Cielo conseguirá manter o posto.
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