jornal Brasil Econômico 08/02/2012 – Flávia Furlan
Em uma manobra que surpreendeu o mercado financeiro, o Itaú
Unibanco anunciou ontem o desembolso de R$ 11,7 bilhões para aquisição de ações
em circulação da Redecard —credenciadora de cartões na qual o banco já é
controlador com 50% de participação. O objetivo é o cancelamento do registro de
companhia obtido em 2007 e saída do Novo Mercado, nível mais elevado de
governança corporativa. Embora não tenha justificativa clara, a decisão faz sentido
para o negócio do banco e da empresa controlada e pode beneficiar a concorrente
Cielo, segundo analistas.
O Itaú possui 336,4milhões de papéis ordinários da Redecard,
enquanto 66,1 milhões estão nas mãos da gestora americana Lazard e 270,3
milhões são de outros acionistas minoritários. O banco pretende adquirir 336,39
milhões de ações. As 95 mil restantes estão em tesouraria. O presidente do
Itaú, Roberto Setúbal, justificou a aquisição com a redução de conflitos de
interesse, o que cria certa dificuldade em definir preço justo a ser pago pelos
serviços prestados pela Redecard ao banco. “O melhor caminho é integrar a
empresa. Ganhamos em agilidade.” Setúbal afirmou que usará recursos do caixa
para a compra, sem nova captação.
A Redecard é uma empresa com grande geração de caixa, o que
dispensa a captação de recursos no mercado acionário para investimentos, e com
alto paga mentos de dividendos, o que pode ter incentivado a compra por parte
do Itaú. No ano passado, quase 97% do lucro líquido de R$ 1,4 bilhão foram
distribuídos em proventos. “Para o controlador, é bom negócio ficar com isso só
para ele”, pondera a equipe de análises da Planner Corretora.
O aumento da concorrência no setor, principalmente com a
entrada da Getnet em parceria como Santander em 2010, também pode ter motivado
a estratégia por parte do Itaú. “O fechamento de capital é uma forma de se
defender dos concorrentes, já que não é preciso mais divulgar dados. A Redecard
pode ser mais agressiva na taxa cobrada do varejista e isso não vai ficar
exposto”, diz Sandra Peres, da Coinvalores.
Os analistas do Barclays Capital ponderam que o negócio não
teria sentido na perspectiva de alocação de capital, já que traz retorno abaixo
da taxa básica de juro da economia para o Itaú. “Mas existem oportunidades para
o Itaú no sentido de rentabilizar seu negócio a partir do aumento da capacidade
comercial que a Redecard, como uma franquia integrada, vai oferecer.”
No dia 02 deste mês, na divulgação dos resultados de 2011, a
Redecard afirmou que estava investindo em eficiência operacional, a partir da
redução dos custos, incluindo inclusive demissões que reduziram o número de
funcionários de 1.455 para 1.054. Para Victor Schabbel e Marcelo Telles, do
Credit Suisse, a estratégia é convergente com a do banco controlador. “Como
resultado, o negócio da compra demais participação faria sentido neste momento,
com o Itaú Unibanco incorporando a subsidiária sem ter sobreposição substancial
de áreas comerciais”, ponderam.
O valor que o Itaú propõe inicialmente para a compra das
ações da Redecard é de R$ 35, no entanto os minoritários podem requisitar um
prêmio maior. “Conforme nossa conversa com grandes acionistas locais, o prêmio
de 9% frente ao fechamento de segunda-feira não deve ser visto como tão
atraente, dadas as boas perspectivas para o setor”, afirma a equipe do Credit
Suisse. Por ter quase 10% de ações da Redecard, a gestora Lazard, segundo a
casa, deve ter papel-chave nas discussões. Contatada pelo BRASIL ECONÔMICO, a
empresa não quis se pronunciar.
Um encontro entre os investidores deve ocorrer em 15 dias e
o processo todo deve levar entre 90 e 120 dias para se concretizar. Apesar do
possível questionamento sobre o preço proposto pelo Itaú, os analistas
acreditam que ele é justo. O presidente do banco afirmou que está pagando acima
da média das corretoras pesquisadas. A Coinvalores, por exemplo, tem um
preço-alvo de R$ 34,80 em setembro de 2012 e achou a oferta interessante. “Mas
se houver revisão para cima do valor de R$ 35, faz sentido pelo potencial de
crescimento do setor”, diz Sandra.
Em relação à concorrência, a Cielo pode ser beneficiada pela
saída da Redecard da bolsa, sendo a única companhia do setor listada. No
entanto, o modelo adotado pelo Itaú e Redecard poderia via a ser copiado pela
concorrente e seus controladores, os bancos Bradesco e Banco do Brasil. “Não há
sinal de que isso aconteça, mas poderia ser uma possibilidade”, afirma o Credit
Suisse.
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