portal G1 09/02/2012 - Alexandro Martello
O ano de 2011 foi marcado pelo crescimento da inadimplência
no Brasil, principalmente nas operações com pessoas físicas, que avançou 1,6
ponto percentual, para 7,3% em dezembro - o maior patamar em quase dois anos,
segundo números do Banco Central.
Os dados da autoridade monetária mostram, porém, um quadro
mais preocupante nas operações com cartões de crédito. Neste caso, a
inadimplência somou 26,7% no fim do ano passado, mais do que três vezes a média
de pessoa física.
Além disso, o crescimento registrado em 2011 foi de 2,5
pontos percentuais, também acima da taxa de expansão da inadimplência média das
pessoas físicas (1,6 ponto percentual), de acordo com números do BC.
Taxa de juros mais alta de todas modalidades
A autoridade monetária não pesquisa os juros do cartão de
crédito, mas levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que a taxa de juros cobrada pelos
bancos nas operações com cartões de crédito é a mais alta do país.
Além de ser a mais alta de todas modalidades de crédito, os
números mostram que o patamar registrado em dezembro do ano passado, de 238,6%
ao ano, é a maior desde maior desde junho de 2000.
Segundo a Anefac, os juros do cartão de crédito, que começam
a incidir quando os clientes não pagam toda a fatura do mês, é mais do que o
dobro da média das operações de crédito para pessoas físicas, de 114,8% ao ano
em dezembro do ano passado. Os juros do cartão de crédito superam até mesmo as
taxas cobradas pelos bancos no cheque especial, que também são extremamente
elevadas (162% ao ano em dezembro do ano passado).
"A taxa de juros do cartão de crédito é a mais alta do
Brasil. Em dezembro, somou 238,6% ao ano. Isso na média. Porque tem taxas que
passam de 500% ao ano. Taxas desta natureza justificam o tamanho desta
inadimplência. Uma dívida dobra de tamanho com o passar do tempo [se for
pagando somente a fatura mínima]. Um dos grandes motivos é esse fato. Juros
altos fazem com que a dívida cresça rapidamente", declarou Miguel Ribeiro,
vice-presidente da Anefac.
O presidente da Associação Brasileira do Consumidor, Marcelo
Segredo, observa que a diferença entre os juros básicos da economia brasileira
definidos pelo Banco Central, atualmente em 10,5% ao ano, e os juros do cartão
de crédito é muito grande. "No caso dos cartões de crédito, a diferença é
vergonhosa. Enquanto a Selic está hoje em 10,5% anuais, tendendo a cair para um
dígito [abaixo de 10% ao ano] nos próximos meses, esses juros dos cartões estão
entre 15% e 19% ao mês; perfazendo entre 400% e 600% ao ano”, declarou.
Uso do cartão de crédito cresce
Mesmo com taxas de juros proibitivas, o uso da linha de
crédito associada ao cartão (que só acontece quando o cliente não quita sua
fatura integralmetne), cresceu acima da média em 2011.
Os números do Banco Central mostram que a utilização desta
linha de crédito subiu 22% no ano passado, para R$ 35,6 bilhões em dezembro, ao
mesmo tempo em que todas operações de pessoas físicas avançaram 21%, para R$
505 bilhões.
Pela média diária de concessões, porém, o ritmo de
crescimento do crédito associado ao cartão subiu 29,6% em 2011, para R$ 1bilhão
por dia, contra R$ 780 milhões, de média diária, no fim de 2010.
Com isso, subiu bem acima da média diária de concessões de
todas operações com pessoas físicas (+13,8% no ano passado).
Bancarização
Na avaliação do vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro, o
processo de bancarização que está em curso no país, com as classes
"D" e "E" começando a ter mais acesso aos serviços
bancários, é uma das causas do aumento do uso da linha de crédito associada aos
cartões.
"A primeira coisa que o banco oferece é o cartão de
crédito e o cheque especial. O ingresso de novos consumidores justifica esta
elevação no uso do cartão de crédito. Não é a toa que os bancos mandam cartão
de crédito para as residências, mesmo sendo uma prática proibida. É uma linha
interessante para o banco, pois fideliza o cliente. E, com esses novos
clientes, acaba acontecendo isso: pagam só o mínimo e entram o crédito
rotativo. Depois, não consegue mais pagar", avaliou Ribeiro.
Pagar integralmente a fatura
A recomandação da Anefac é de que os clientes bancários
mantenham o cartão de crédito, pois é um instrumento que permite planejar o
consumo e realizar o pagamento depois de receber o salário. Mas também
aconselha que os consumidores realizem o pagamento integral da fatura em todos
os meses.
"O cartão de crédito é um bom instrumento. O problema é
que usam mal o cartão de crédito. Ele permite concentar despesas no vencimento
e poupar. Também permite comprar parcelado sem juros em várias situações. Se
for comprar com outros instrumentos, vão te cobrar juros. O problema é que as
pessoas compram acima de sua capacidade, ou já compram pensando em não quitar a
fatura", afirmou Miguel Ribeiro.
No caso de acontecer algum imprevisto, e o cliente bancário
não conseguir pagar toda a fatura do cartão de crédito em um determinado mês, a
recomendação do vice-presidente da Anefac é de que ele busque outra linha de
crédito mais barata, como o crédito consignado ou o crédito pessoal, para
quitar a dívida do cartão. "O que não pode é ficar rolando o pagamento
mínimo", concluiu.
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