jornal Valor Econômico 09/02/2012 - Natalia Viri
Após a alta de 10,5% verificada na terça-feira, com o
anúncio de que o Itaú Unibanco fará uma oferta para fechar o capital da
Redecard, as ações da credenciadora de cartões de débito e crédito seguiram em
alta no pregão de ontem e superaram com alguma folga os R$ 35 propostos pelo
controlador para a aquisição dos papéis.
Enquanto o Ibovespa encerrou o dia praticamente estável, em
alta de 0,16%, as ações da Redecard subiram 2,8%, para R$ 36,40, o que reforça
a percepção de parte do mercado que acredita que o Itaú pode ter que elevar
marginalmente a oferta para fechar a operação com os acionistas minoritários.
De acordo com o gestor de um fundo com grande posição em
papéis da Redecard, o cenário mais provável é que não haja oposição dos
acionistas em relação ao fechamento de capital, mas o preço provavelmente terá
de ser negociado.
"Não tenho dúvida de que vai haver manifestações",
ressaltou. Em outras ofertas recentes de fechamento de capital, como de Dixie
Toga, UOL e Confab, os investidores pressionaram e conseguiram um acordo com os
controladores para a elevação do preço.
No entanto, o executivo afirmou que ainda não teve notícias
de nenhum movimento mais organizado por parte dos minoritários para contestar o
preço.
A maioria dos analistas de mercado considerou justo o valor
oferecido pelo Itaú e recomendou aos investidores adesão à oferta.
"O preço ofertado é justo, em linha com o valor atual
da empresa. Por isso, não recomendamos entrar no papel no atual nível de
preço", afirmou a analista Priscila Andrade, da Planner Corretora, em
relatório.
Na avaliação do Deutsche Bank, a valorização de mais de 70%
das ações da Redecard nos últimos 12 meses indica que não há muito espaço para
altas adicionais - o preço-alvo projetado pelo banco para os próximos 12 meses
é de R$ 33 por ação.
No entanto, os analistas Mario Pierry, Tito Labarta e
Marcelo Cintra assinalam que alguns investidores podem se incomodar com o fato
de que, na abertura de capital, em 2007, o valor de R$ 27 embutia uma relação
de preço e lucro de 30 vezes, e agora as ações da Redecard estão negociadas à
metade desse múltiplo, em apenas 15 vezes.
A Fator Corretora também recomenda a adesão à oferta, mas
ressalta que poderá haver manifestações dos acionistas em relação ao preço,
dado o baixo potencial de alta embutido na operação - ganho de 9,2% em relação
à cotação de segunda-feira, dia anterior à proposta.
Já o HSBC foi mais enfático. "Acreditamos que o acordo
será concluído, mas a um preço maior", escreveu o analista Paulo Ribeiro,
em relatório. O preço-alvo estimado pelo banco para os próximos meses é de R$
39 por ação.
O valor não inclui os possíveis ganhos de um acordo entre
Hipercard, bandeira de cartões 100% controlada pelo Itaú, e a Redecard. Essa
associação seria um dos pontos cruciais para a decisão do fechamento de
capital, segundo as declarações recentes do presidente do Itaú, Roberto
Setubal, já que, com a Redecard listada em bolsa, poderia haver conflito de
interesses, o que dá menos agilidade às decisões.
Na avaliação de Ribeiro, do HSBC, com o acordo entre
Hipercard e Redecard, a credenciadora passaria a receber uma taxa de desconto
sobre o valor das compras processadas e não apenas um pequeno valor fixo sobre
cada operação.
Com isso, o preço-alvo da ação em 12 meses passaria a R$ 41,
o que abre um espaço para negociação do valor oferecido pelo Itaú no fechamento
de capital.
Em teleconferência com analistas realizada ontem, quando
questionado sobre qual a estratégia do banco caso não consiga adquirir ao menos
dois terços das quais ações em circulação no mercado - o que cancelaria a
operação de fechamento de capital -, Setubal disse que acredita no sucesso e na
ampla adesão por parte dos atuais acionistas.
"Estamos pagando um preço justo, equilibrado",
afirmou o executivo, ressaltando que esse valor não considera o dividendo de R$
1,10 por ação a ser pago entre o fim de março e o começo de abril.
Respondendo a um dos principais questionamentos do mercado,
Setubal frisou que o principal motivo para o fechamento de capital da
subsidiária é dar mais flexibilidade à oferta de produtos bancários, tanto do
Itaú quanto da Redecard.
O presidente do Itaú minimizou ainda as preocupações com uma
eventual perda em parcerias com outros bancos no credenciamento de cartões.
Segundo Setubal, a Redecard vai continuar a ter algum grau de independência,
suficiente para manter volumes importantes com todos os parceiros. (Colaborou
Filipe Pacheco)
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