jornal Brasil Econômico 10/02/2012 – Flávia Furlan
O fechamento de capital da concorrente Redecard pode mudar a
forma como a credenciadora de cartões Cielo, que deve ser a única companhia de
seu setor com ações negociadas na BM& F Bovespa, se comunica com o mercado
financeiro. “Vamos avaliar a conveniência e a oportunidade de prover guidance
ao longo do ano”, afirma o presidente Rômulo Dias, sobre a possibilidade de não
mais fornecer expectativas de resultados.
O Itaú Unibanco anunciou na quarta-feira o desembolso de R$
11,7 bilhões para aquisições das ações em circulação da Redecard — empresa na
qual o banco é acionista controlador com 50% de participação—para cancelamento
do registro da companhia aberta obtido em 2007 e saída do Novo Mercado, nível
mais elevado de governança corporativa. O processo pode levar até seis meses.
O fechamento de capital da Redecard a desobriga de divulgar
informações, o que coloca a Cielo em uma situação de desvantagem. Outra
concorrente, a credenciadora formada pela parceria Santander e GetNet, está
desobrigada a prestar as informações por não ser listada em bolsa. “O
fechamento de capital é uma forma de se defender dos concorrentes, já que não é
preciso mais divulgar dados. A Redecard pode ser mais agressiva e isso não vai
ficar exposto”, diz a analista Sandra Peres, da Coinvalores.
Segundo o presidente da Cielo, a política de divulgação de
dados será revista, mas sem deixar analistas e investidores desorientados sobre
a condição da empresa. “Dado que somos companhia aberta, vamos dar a melhor
qualidade de informação possível para o mercado avaliar a Cielo.” Sobre os
planos de fechamento de capital da credenciadora, ele afirma que desconhece
qualquer notícia neste sentido por parte dos controladores Bradesco e Banco do
Brasil.
Os analistas Leonardo Zanfelicio e Karina Freitas, da
Concórdia, reiteram que a Cielo tem um cenário mais desafiador. “Como empresa
aberta, ela estaria muito mais exposta em relação a suas principais
concorrentes”, afirmaram.
Se, por um lado, a mudança a respeito da concorrente pode
alterar a divulgação de resultados da Cielo, por outro, o posicionamento de
mercado da companhia permanece inalterado. “Nossa estratégia vai ser de
continuar a crescer e acelerar de forma rentável, trazendo novos produtos e
serviços aos clientes”, considera o executivo.
Resultados
A Cielo apresentou lucro líquido de R$ 1,81 bilhão em 2011,
redução de 1% frente ao ano anterior. “No ano passado, houve queda basicamente
em função de um cenário mais competitivo e de quedas nas taxas de desconto”,
afirma Dias, a respeito da taxa cobrada pela prestação de serviço sobre as
vendas do varejista. Apesar da queda anual, no quarto trimestre, houve aumento
de 13,8% do lucro líquido da Cielo, frente ao mesmo período de 2010. No
período, a participação da empresa no mercado passou de 56,3% para 58% quando
avaliado o volume financeiro transacionado. “No ano de 2011, capturamos um
volume financeiro equivalente a 7,6% do Produto Interno Bruto brasileiro”,
destaca o executivo.
Um ponto negativo do resultado destacado pelos analistas foi
o crescimento das despesas operacionais— de 59,4%, equivalente a R$ 77,5
milhões — em especial com marketing, que mais que dobraram no quarto trimestre.
A estratégia da Cielo tem sido a de investir para ganhar participação de
mercado, ao contrário da Redecard, que fez um esforço de eficiência
operacional, com redução de custos.
Para este ano, a Cielo planeja investimentos na ordem de R$
300 milhões, inferior aos R$ 360 milhões de 2011 e também à cifra de R$ 500
milhões anunciada pela Redecard. O dinheiro será direcionado basicamente para
aquisição de máquinas de captura de transações, para ampliação e modernização
do parque. “Nós nos antecipamos à evolução do mercado e fizemos investimento
mais forte do que o praticado na indústria no ano passado”, justifica Dias. De
acordo com ele, o volume de R$ 300 milhões pode aumentar conforme a
necessidade. Ontem, as ações da Cielo fecharam o pregão cotadas a R$ 56, com leve
alta de 0,07%.
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