jornal O Estado de S. Paulo 15/01/2012 – Fernando Nakagawa
Brasileiros perderam 101,3 bilhões de pontos nos programas
de recompensas dos cartões de créditos em 2010o. Levantamento inédito do Banco
Central (BC) mostra que o montante de milhas expiradas em um ano seria
suficiente para emitir mais de 5 milhões de passagens aéreas entre o Brasil e
qualquer destino da América do Sul.
O estudo mostra ainda que o gasto dos bancos com a conversão
de bônus em brindes equivale a apenas 0,22% de todo o faturamento anual dos
cartões.
Com a popularização do dinheiro de plástico e a concorrência
entre os bancos, um dos atrativos com importância crescente para oferecer um
cartão de crédito é o programa de bonificação. Juntar pontos, bônus ou milhas e
depois converter em uma passagem internacional, um belo acessório para casa ou
um moderno eletrônico é apresentado como supervantagem, na linha do
"quanto mais você gasta, mais ganha".
Mas pesquisa do BC mostra que os benefícios são aproveitados
por poucos. Trimestralmente, clientes conseguem transformar apenas 13,5% dos
pontos em prêmios. Além de gastar pouco, quase 20% dos pontos acumulados foram
desperdiçados porque venceram naquele ano.
Executivos da área de cartões afirmam que muitos clientes
perdem os pontos simplesmente por desconhecer os programas de benefícios. Há
também muitos consumidores que conhecem o sistema de pontos, mas têm a
percepção de que é difícil convertê-los em brindes.
Além disso, muitos clientes de menor renda não conseguem
acumular pontos suficientes para uma troca. Na maioria das instituições
financeiras, os presentes começam com "preço mínimo" de 1.000 pontos.
Como normalmente cada gasto equivalente a um dólar gera um
ponto, o cliente precisa acumular compras correspondentes a US$ 1.000 para, por
exemplo, trocar por uma simples luminária para livro.
Maldivas. Rafael Raiol, bancário em Brasília, se orgulha de
fazer parte do grupo que usa os pontos. "Nunca deixei nenhum ponto
expirar", diz, orgulhoso, o jovem de 26 anos que tem sete cartões de
crédito na carteira e usa o dinheiro de plástico para praticamente todas as
despesas. "Uso até na padaria com uma conta de um, dois reais",
afirma, ao citar que, mensalmente, chega a juntar até 8 mil pontos.
Tanto esforço deu resultado. Raiol já desembarcou em Buenos
Aires, Fortaleza, Ilhéus e Ribeirão Preto sem gastar com as passagens aéreas.
O maior prêmio, porém, está por vir. As passagens para a lua
de mel em abril já estão emitidas para as Ilhas Maldivas, arquipélago no
sudoeste do Sri Lanka. Tudo pago com pontos.
A despesa dos bancos para pagar prêmios como os de Raiol
somou R$ 836 milhões em 2010. Milionária, a conta fica pequena diante do
faturamento do setor de cartões de crédito: em um ano, o setor acumulou R$ 386
bilhões em operações. Ou seja: apenas 0,22% da soma de todas as faturas que
chegam mensalmente à casa dos clientes virou prêmio.
Dessa despesa com os gastos, a maioria foi entre os clientes
com maior renda - salário superior a R$ 2.490. Nesse grupo, o custo da
conversão de pontos para os bancos alcançou o equivalente a 0,34% da conta
anual do cartão. Entre clientes com renda menor, os prêmios custaram 0,04% dos
extratos somados.
A pesquisa mostra, ainda, que a soma dos pontos de todos os
cartões emitidos no Brasil era de 591,2 bilhões de milhas no fim de 2010. Se
todos esses bônus fossem convertidos, bancos teriam um gasto de R$ 1,4 bilhão.
Consumidor deve ficar atento a valores na troca
Ao trocar pontos por prêmios, clientes devem ficar atentos.
Nos programas de recompensa, os "preços" dos brindes são livres e
bancos atribuem valores dos mais distintos. Por isso, é bom ficar atento à
"taxa de conversão" para não perder.
Quando o consumidor acumula pontos suficientes para resgatar
um brinde, é preciso escolher em um catálogo da instituição financeira que
emitiu o cartão. Lá, é possível encontrar desde livros e revistas a
equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos, além das passagens áreas. Nos
últimos anos, bancos têm oferecido cada vez mais mercadorias alternativas às
passagens de avião.
Na semana passada, era possível encontrar uma televisão de
32 polegadas de LCD por 96.500 pontos em um dos programas de pontuação. Como
nas lojas o equipamento custa na média R$ 1.299, é como se cada 74 pontos do
cliente equivalessem a R$ 1 na troca pela TV.
Também era possível encontrar um aparelho de telefone com
fio por 6.000 pontos. Nas lojas, esse prêmio custa a partir de R$ 29,99. Nesse
caso, a taxa de câmbio é pior. É como se o banco estivesse pagando R$ 1 para
cada 200 pontos na troca por esse brinde. Ou seja, a "taxa de câmbio"
proposta na televisão é melhor do que a do telefone.
A mesma regra se aplica no resgate em passagens aéreas. Como
a maioria dos programas estabelece faixa de pontuação única para resgates
dentro da América do Sul, uma passagem da ponte aérea São Paulo-Rio e uma viagem
entre Porto Alegre e Caracas contam, em pontos, a mesma coisa.
Portanto, é melhor se programar e escolher os trechos com
antecedência para maximizar os pontos.
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