20 de fev. de 2012

BRASILEIRO PERDE 101 BILHÕES DE PONTOS EM PROGRAMAS DE CARTÕES DE CRÉDITO


jornal O Estado de S. Paulo 15/01/2012 – Fernando Nakagawa

Brasileiros perderam 101,3 bilhões de pontos nos programas de recompensas dos cartões de créditos em 2010o. Levantamento inédito do Banco Central (BC) mostra que o montante de milhas expiradas em um ano seria suficiente para emitir mais de 5 milhões de passagens aéreas entre o Brasil e qualquer destino da América do Sul.

O estudo mostra ainda que o gasto dos bancos com a conversão de bônus em brindes equivale a apenas 0,22% de todo o faturamento anual dos cartões.

Com a popularização do dinheiro de plástico e a concorrência entre os bancos, um dos atrativos com importância crescente para oferecer um cartão de crédito é o programa de bonificação. Juntar pontos, bônus ou milhas e depois converter em uma passagem internacional, um belo acessório para casa ou um moderno eletrônico é apresentado como supervantagem, na linha do "quanto mais você gasta, mais ganha".

Mas pesquisa do BC mostra que os benefícios são aproveitados por poucos. Trimestralmente, clientes conseguem transformar apenas 13,5% dos pontos em prêmios. Além de gastar pouco, quase 20% dos pontos acumulados foram desperdiçados porque venceram naquele ano.

Executivos da área de cartões afirmam que muitos clientes perdem os pontos simplesmente por desconhecer os programas de benefícios. Há também muitos consumidores que conhecem o sistema de pontos, mas têm a percepção de que é difícil convertê-los em brindes.

Além disso, muitos clientes de menor renda não conseguem acumular pontos suficientes para uma troca. Na maioria das instituições financeiras, os presentes começam com "preço mínimo" de 1.000 pontos.

Como normalmente cada gasto equivalente a um dólar gera um ponto, o cliente precisa acumular compras correspondentes a US$ 1.000 para, por exemplo, trocar por uma simples luminária para livro.

Maldivas. Rafael Raiol, bancário em Brasília, se orgulha de fazer parte do grupo que usa os pontos. "Nunca deixei nenhum ponto expirar", diz, orgulhoso, o jovem de 26 anos que tem sete cartões de crédito na carteira e usa o dinheiro de plástico para praticamente todas as despesas. "Uso até na padaria com uma conta de um, dois reais", afirma, ao citar que, mensalmente, chega a juntar até 8 mil pontos.

Tanto esforço deu resultado. Raiol já desembarcou em Buenos Aires, Fortaleza, Ilhéus e Ribeirão Preto sem gastar com as passagens aéreas.

O maior prêmio, porém, está por vir. As passagens para a lua de mel em abril já estão emitidas para as Ilhas Maldivas, arquipélago no sudoeste do Sri Lanka. Tudo pago com pontos.

A despesa dos bancos para pagar prêmios como os de Raiol somou R$ 836 milhões em 2010. Milionária, a conta fica pequena diante do faturamento do setor de cartões de crédito: em um ano, o setor acumulou R$ 386 bilhões em operações. Ou seja: apenas 0,22% da soma de todas as faturas que chegam mensalmente à casa dos clientes virou prêmio.

Dessa despesa com os gastos, a maioria foi entre os clientes com maior renda - salário superior a R$ 2.490. Nesse grupo, o custo da conversão de pontos para os bancos alcançou o equivalente a 0,34% da conta anual do cartão. Entre clientes com renda menor, os prêmios custaram 0,04% dos extratos somados.

A pesquisa mostra, ainda, que a soma dos pontos de todos os cartões emitidos no Brasil era de 591,2 bilhões de milhas no fim de 2010. Se todos esses bônus fossem convertidos, bancos teriam um gasto de R$ 1,4 bilhão.

Consumidor deve ficar atento a valores na troca

Ao trocar pontos por prêmios, clientes devem ficar atentos. Nos programas de recompensa, os "preços" dos brindes são livres e bancos atribuem valores dos mais distintos. Por isso, é bom ficar atento à "taxa de conversão" para não perder.

Quando o consumidor acumula pontos suficientes para resgatar um brinde, é preciso escolher em um catálogo da instituição financeira que emitiu o cartão. Lá, é possível encontrar desde livros e revistas a equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos, além das passagens áreas. Nos últimos anos, bancos têm oferecido cada vez mais mercadorias alternativas às passagens de avião.

Na semana passada, era possível encontrar uma televisão de 32 polegadas de LCD por 96.500 pontos em um dos programas de pontuação. Como nas lojas o equipamento custa na média R$ 1.299, é como se cada 74 pontos do cliente equivalessem a R$ 1 na troca pela TV.

Também era possível encontrar um aparelho de telefone com fio por 6.000 pontos. Nas lojas, esse prêmio custa a partir de R$ 29,99. Nesse caso, a taxa de câmbio é pior. É como se o banco estivesse pagando R$ 1 para cada 200 pontos na troca por esse brinde. Ou seja, a "taxa de câmbio" proposta na televisão é melhor do que a do telefone.

A mesma regra se aplica no resgate em passagens aéreas. Como a maioria dos programas estabelece faixa de pontuação única para resgates dentro da América do Sul, uma passagem da ponte aérea São Paulo-Rio e uma viagem entre Porto Alegre e Caracas contam, em pontos, a mesma coisa.

Portanto, é melhor se programar e escolher os trechos com antecedência para maximizar os pontos.

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