11 de out. de 2011

CUSTO LEVA COMÉRCIO A REJEITAR OS CARTÕES

jornal Valor Econômico 30/09/2011 - Martha Funke

Despesas com aluguel da máquina, linha telefônica e taxas, tempo envolvido na operação. São vários os motivos para comerciantes e prestadores de serviços excluírem os cartões de débito e crédito do seu negócio, favorecendo a manutenção dos cheques e fortalecendo a circulação do papel moeda - principalmente quando as despesas são de baixo valor. Além disso, como de modo geral o recebimento de dinheiro em espécie vai servir para pagar funcionários e fornecedores que igualmente preferem essa forma de pagamento, é difícil encontrar motivação para romper o hábito.

No Rio de Janeiro, o restaurante Artigiano, no Jardim de Alá, em Ipanema, está há 32 anos no ramo e só recebe em dinheiro ou em cheque. Um dos motivos é a questão das despesas. O pagamento em dinheiro a barqueiros e pescadores no Mercado do Peixe garante em boa parte a prioridade no abastecimento de pescados com características adequadas. O mesmo ocorre com fornecedores do Ceasa e com a brigada de garçons. Embora o salário dos profissionais seja pago em cheque, a "caixinha" é distribuída no mesmo dia, em espécie. Além disso, segundo o gerente João Carlos Ramos, as taxas para a operação com os plásticos são altas e a produtividade está em foco. "Quando um garçom leva a máquina na mesa, para de servir para fazer papel de caixa. Exige uma equipe maior", diz o gerente.

Em média, 20% do movimento é pago em dinheiro e o restante, em cheque, mas Ramos assegura que os calotes são raros. A segurança também é uma preocupação menor para Anatole Soroko, proprietário da sorveteria Soroko, com lojas na capital e no litoral paulista. O economista aposentado, que passou por organizações como Federação da Indústria e Comércio (Fiesp), grupo Real e Bunge, observa que o custo é determinante em negócios de valores baixos, em média R$ 5. "Além do aluguel da máquina e do uso da linha telefônica, a taxa de 4% é absurda."

O fato de ter uma agência bancária a 20 metros de distância facilita a vida e reduz os riscos: quando entra dinheiro, o empresário manda pagar alguma conta. Outra motivação é o tempo gasto no recebimento. Com cerca de mil clientes diários em um fim de semana de sol, ele diz, a demora no recebimento com o cartão deixa o pessoal impaciente.

O bar da Colônia de Férias da Federação dos Empregados em Turismo e Hospitalidade do Estado de São Paulo, na Praia Grande (SP), não aceita nem cheques, nem cartões nas despesas de hóspedes - a estadia é paga diretamente ao sindicato da categoria e repassada à federação. "Preferimos o pagamento em dinheiro. Já tivemos problemas com cheques", diz o presidente da federação, Rogério Gomes.

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