11 de out. de 2011

CEARÁ ‘EXPORTA’ TÉCNICAS DE CLONAGEM PARA VÁRIOS PAÍSES

portal Diário do Nordeste 03/10/2011

Um blog com dicas para estrangeiros que desejam viajar para o Brasil é claro: "Credit card fraud is widespread in Brazil" (A fraude de cartão de crédito é generalizada no Brasil). E continua a advertência: "Duplication of credit cards has become a major problem, with hundreds of active gangs specialized on the fraud", explicando que existem centenas de quadrilhas especializadas na fraude de clonagem de cartões de crédito. A preocupação é válida, concorda o delegado Jaime Paula Pessoa Linhares. "Infelizmente, além dos crimes de clonagem de cartões que temos registrados a cada minuto aqui, o Brasil - e mais precisamente o Ceará - tem figurado como exportador de estelionatários para todos os cantos do mundo".

Conforme informação divulgada por site norte-americano de notícias, em dezembro do ano passado, um homem foi preso em Miami, numa loja, com vários cartões de crédito clonados. Os cartões tinham nomes de pessoas diferentes e o acusado possuía, ainda, uma carteira de habilitação falsificada.

Dentre as identificações, estavam os nomes de Ismael D. Valle ou William Valle. O flagrante ocorreu no momento em que o acusado tentava ativar 400 dólares em cartões de presentes da loja, utilizando os cartões de crédito clonados. No momento em que foi abordado pela Polícia local, o homem carregava sacolas, já cheias, de lojas como Victoria´s Secret e Sephora.

Quadrilha

Durante as investigações em torno do caso, um representante da administradora de cartões American Express informou à Polícia que a numeração de um dos cartões usados na fraude correspondia ao cartão de uma mulher no Brasil. A partir disso, nasceu a suspeita de que o crime poderia estar sendo praticado com a participação de gente no Brasil.

Já no dia 8 de março deste ano, outro site de notícias norte-americano divulgou a prisão de cinco acusados de fraudes envolvendo cartões de crédito por integrantes do Serviço Secreto Americano. A descoberta da fraude levou os membros do Serviço Secreto dos Estados Unidos à Flórida Central. Os investigadores afirmaram que o crime foi "difícil de detectar".

Os suspeitos tinham codificado cartões magnéticos usados como cartões de presente com dados de cartões da American Express e MasterCard. De acordo com o que foi informado pelo Serviço Secreto, cada trilha de cartão teria custado cerca de 10 dólares à quadrilha. De seis pessoas supostamente envolvidas no crime, cinco foram presas. Foram elas: Gary Washington, 33; Chad Warner, 30; Jenna Larson, 22; Glapion Stacie, 23 e Ceaundra Thomas, 20.

Na ocasião, os agentes federais descobriram que nenhum dos suspeitos tinha emprego remunerado. Apesar disso, entre maio de 2010 e fevereiro deste ano, os suspeitos, residentes em Orlando, tinham movimentado cerca de 187 mil dólares em cartões American Express e outro valor - não calculado - em cartões MasterCard.

Dúvidas

Dada a grande incidência de casos envolvendo fraudes com cartões de crédito registrada nos Estados Unidos, um representante do Serviço Secreto Americano veio até o Brasil buscar informações sobre a atuação de grupos de estelionatários especializados na clonagem de cartões magnéticos pelo País.

Uma das visitas ocorreu no Ceará, na Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF). "Discutimos algumas investigações que envolvem a ação de brasileiros. Segundo ele, em Miami, a Polícia já detectou algumas fraudes praticadas por brasileiros", destaca o delegado Jaime Paula Pessoa. De acordo com ele, o encontro também resultou na troca de informações sobre como as quadrilhas agem. "O Ceará, infelizmente, foi o ´berço´ da clonagem".

AÇÃO INTERESTADUAL

Noutros Estados, prisões viram rotina

Uma das últimas aconteceu em Recife, onde três cearenses foram capturados aplicando o golpe

Todas as semanas, surgem notícias de prisões de estelionatários cearenses em outros Estados da Federação. No último dia 13 de setembro, a Polícia Civil de Pernambuco prendeu dois estelionatários cearenses que estavam agindo no Aeroporto Internacional do Recife.

Os criminosos instalavam os equipamentos conhecidos como ´chupa-cabra´ em caixas eletrônicos do terminal aeroportuário e obtinham dados dos cartões das vítimas. Os acusados, Irismar Neres Leite, 36, e Paulo Alves Pereira, 31, foram presos quando tentavam instalar os aparelhos nos terminais bancários.

Monitorados

De acordo com o delegado Darley Timóteo, a dupla estava sendo monitorada pelo Polícia há quase 15 dias. "Fizemos um trabalho de monitoramento da dupla. Foi dada a voz de prisão e após assumirem o crime, eles entregaram para a Polícia o restante do material", disse Darley.

No hotel em que estavam hospedados, foram encontrados um notebook com o programa para copiar os dados arquivados no ´chupa-cabra´, vários cartões magnéticos e outro aparelho utilizado para a fraude, denominado de ´régua´. Com este equipamento os estelionatários conseguiam inserir num cartão magnético os dados dos clientes furtados com o uso do ´chupa-cabra´ (gravadora).

A dupla cearense é natural do Município de Novo Oriente (localizado a 396 quilômetros de Fortaleza) que junto com Crateús, ficou conhecido como ´berço´ da clonagem de cartões no Estado.

Irismar Neres e Paulo Alves já possuíam antecedentes criminais e respondem a cinco processos nos Estados de Alagoas e Rio Grande do Norte por furto qualificado. Com o foco principal de atuação voltado aos turistas, a Polícia acredita que eles pertençam a uma rede internacional de clonagem de cartões. Há dois anos, o estelionatário cearense Bento Paiva de Carvalho, apontado como um dos ´cabeças´ de uma quadrilha interestadual de clonadores de cartões de crédito, foi descoberto pela Polícia em um apart-hotel no Rio de Janeiro. Com ele, havia cerca de 4 mil cartões clonados.

Produção

Bento Carvalho foi localizado pela Polícia fluminense num apart-hotel de frente para a Praia da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Além dos cartões clonados, a Polícia encontrou também dois computadores portáteis e uma impressora, equipamentos que o acusado utilizava na produção dos cartões clonados de clientes.

Segundo as investigações procedidas na época pela Polícia do Rio, o grupo comandado por Bento era o responsável por golpes em vários Estados brasileiros, entre eles, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Pernambuco. A quadrilha teria, por último, tentado montar uma base no Rio, se hospedando na orla marítima.

Em outros Estados brasileiros, a Polícia tem identificado quadrilhas de fraudadores com ramificação no Ceará. A região compreendida pelos Municípios de Crateús, Novo Oriente e Independência já foi alvo de diversas operações, tanto da Polícia Civil, como da Polícia Federal, a partir de informações da presença ali de chefes de quadrilhas ligadas a golpes como invasão de contas bancárias e clonagem de cartões. Vários deles já foram presos, mas logo conseguem voltar à liberdade.

ARTIFÍCIOS
Equipamentos sofisticados são usados por quadrilhas

Todos os dias, equipamentos cada vez mais sofisticados são apreendidos em poder de bandidos que praticam o estelionato. Em julho deste ano, a Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF) descobriu um mini-escritório de clonagem de cartões magnéticos. Na ocasião, um teto falso de caixa rápido com três microcâmeras instaladas, uma frente de leitora de cartão com ´chupa-cabra´ e um notebook cheio de trilhas copiadas de cartões estavam entre os objetos encontrados pela Polícia com Antônio Alexandre Alencar Farias, 35, natural de Tamboril.

O homem foi preso num supermercado no bairro da Parangaba. Os apetrechos para falsificação de cartões estavam instalados num terminal de autoatendimento 24 horas dentro do supermercado.

A leitora de cartões também. "Descobrimos que tinham sido colocadas três câmeras, em posições diferentes, para filmar a digitação das senhas dos usuários de qualquer ângulo possível", explica Jaime.

Segundo o delegado, as quadrilhas têm encontrado muita facilidade para adquirir os equipamentos que clonam cartões. "Em pouco tempo, eles montam um escritório que cabe na palma das mãos. E que possibilita uma prática criminosa que rende milhões, lesando centenas de pessoas", destaca.

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