jornal Valor Econômico 23/02/2011 - Janes Rocha
A companhia de seguros suíça Zurich e o banco espanhol Santander anunciaram ontem uma aliança para disputar o mercado de seguros latino-americano, especialmente o concorrido mercado brasileiro de seguros de pessoas (vida, previdência e acidentes pessoais).
As duas instituições assinaram um memorando de entendimento para formar uma nova empresa baseada em Madri, a Zurich Santander Insurance America, da qual a Zurich terá 51% e o Santander, 49%. Trata-se de uma empresa "holding" cuja função é servir de "veículo" para a aquisição do controle das cinco empresas de seguros do Santander na região, uma em cada país: Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e México.
Para ter o controle da nova empresa, a Zurich vai pagar ao Santander US$ 1,67 bilhão que, segundo o comunicado distribuído ontem, serão financiados parte com recursos próprios, parte com emissão de dívida.
"A operação expande significativamente a nossa presença na América Latina com um negócio de seguro bem consolidado", disse Martin Senn, CEO da Zurich.
Em entrevista ao Valor, o argentino José Orlando, que comanda a área de vida e previdência da Zurich para a América Latina a partir de sua base em Buenos Aires, disse que o negócio poderá estar concluído até o início de 2012, dependendo da aprovação dos órgãos regulatórios em cada um dos cinco países.
A joint venture inclui um acordo de distribuição exclusiva de produtos através de todos os canais do banco na região - agências, caixas eletrônicos, telemarketing e internet. A associação com o Santander dá à Zurich acesso a 36 milhões de clientes, 5,6 mil agências bancárias, mais de 25 mil caixas eletrônicos.
O resultado é que a companhia suíça sai de um patamar não superior a 2,2% do mercado regional para a terceira posição em seguros de vida e sexta em não vida (veja quadro). Nada muda com a operação existente da Zurich nesses países, tampouco no Brasil onde a empresa tem 25 filiais e outros 14 centros de atendimento aos corretores espalhados pelo país, explicou Orlando.
"Nessa nova sociedade, contrataremos todos os seguros por meio dos distintos canais do banco Santander, mas o que a Zurich faz com outros distribuidores corretores e canais, continuará fazendo", explicou Orlando.
Para o Santander, a associação com a Zurich significa ampliar o leque de produtos em oferta na rede, aliado a uma empresa que tem longa experiência com seguros e gerenciamento de riscos por meio de uma estrutura que inclui ainda a operação de resseguros e presença em 170 países, disse o diretor de seguros do banco, Gilberto Duarte de Abreu Filho. "A Zurich é uma empresa de seguros completa", afirmou Abreu.
Para analistas do mercado de capitais que acompanham o setor de seguros brasileiro, a operação Santander-Zurich afeta principalmente o segmento de Vida e Previdência onde os grandes bancos dominam a produção e a distribuição. "Estamos conscientes que, no mercado de seguros do Brasil, os bancos têm um papel muito relevante, por isso nos associamos com um banco que tem posição forte, não só no Brasil como em toda América Latina", afirmou José Orlando.
Também é um caminho para a instituição espanhola chegar mais perto de seus principais concorrentes - os gigantes do varejo como Banco do Brasil, Bradesco e Itaú - que têm obtido quase um quarto de seus lucros por meio das operações de seguros, especialmente vida e previdência.
Mas Duarte acrescenta que a parceria visa também o segmento massificado, em que seguros de baixo valor são vendidos em grandes contratos para grupos de clientes de empresas de varejo e consumo. "Nosso cenário é que uma linha que se desenvolve muito é o de proteção financeira relacionada ao crédito", afirmou Duarte.
Segundo informações distribuídas pelas duas companhias ontem, na América Latina o Santander gerou prêmios de seguros num total de US$ 1,9 bilhão em 2010, com um crescimento de 32% comparado ao ano anterior. Aproximadamente 68% desse total correspondem a produtos de proteção de vida, 2% de poupança e 30% de seguros gerais.
A indústria brasileira de seguros tem atraído fortes investimentos estrangeiros nos últimos anos, estimulados pela expansão da ordem de 15% anuais do faturamento comparado a um crescimento médio de 7% do Produto Interno Bruto (PIB).
Por trás desse movimento está, por um lado, a distribuição de renda que tem trazido para o mercado segurador milhares de novos consumidores, principalmente entre as pessoas físicas de baixa renda e as pequenas e médias empresas. Por outro lado, os investimentos em obras de infraestrutura e os negócios gerados com os eventos internacionais como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Outro fator considerado na transação, explica José Orlando da Zurich, é o potencial de crescimento, geralmente medido pela taxa de penetração dos seguros entre a população brasileira, da ordem de 3%,
Nenhum comentário:
Postar um comentário