jornal Valor Econômico 17/02/2011 - Adriana Cotias
Sob novo comando, a Braspag, empresa de soluções de pagamentos e serviços financeiros do grupo Silvio Santos, revisou seus planos para financiar consumidores na internet. O CDC Online, que entrou no ar no início de 2010 distribuindo linhas de crédito do PanAmericano, agora será ampliado a outras instituições financeiras. "Estamos reposicionando o produto e construindo novas parcerias", diz Daniel Bento, que assumiu a empresa em novembro, dentro da reestruturação que Silvio Santos promoveu nas empresas do grupo depois da descoberta do rombo em seu antigo banco. Embora o PanAmericano, que agora tem novo controlador, fosse até então o único provedor de recursos, nunca houve exclusividade.
No ano passado, o CDC Online movimentou R$ 750 milhões em financiamentos, relativos a vendas realizadas pelos lojistas ligados à sua rede. O volume ficou, porém, aquém do estimado no começo do projeto, de atingir o primeiro bilhão. De acordo com o executivo, a produção menor não teve relação com o episódio PanAmericano, cujo furo contábil descoberto em novembro chegou à cifra de R$ 4,3 bilhões, conforme divulgado ontem.
"Tivemos que ajustar as expectativas. Projetávamos uma classe C menos bancarizada, sem cartão de crédito e o CDC é o oposto do cartão, é para o cliente que não tem conta em banco e não dispõe do meio eletrônico." Conforme quantifica, 65% dos pagamentos feitos na plataforma da Braspag são parcelados em cartões de crédito e híbridos, aqueles que agregam a marca do lojista a uma bandeira.
Para 2011, Bento não faz estimativas de qual o tamanho que o CDC Online pode atingir, mas diz que a meta é ampliar a rentabilidade do negócio como um todo em 70%. No ano passado, a companhia processou o equivalente a R$ 17 bilhões em vendas, um incremento de quase 200% em relação a 2009.
A Braspag processa pagamentos em nome do varejo, faz o que no jargão do mercado se chama de POS digital, uma alusão às maquininhas que leem cartões nas lojas físicas. O cliente compra na loja virtual do varejista e quem processa o pagamento é a Braspag. Na carteira de clientes estão nomes como Carrefour, IBM, Positivo, Decolar.com, Ticket (grupo Accor), Grupo Posadas e Emirates Airlines.
Fundada em 2005, até 2009 a Braspag era investimento da Ideiasnet, que tinha fatia de 25%. O grupo Silvio Santos comprou 100% do negócio, por R$ 25 milhões. A chegada de Bento marca a saída dos sócios-fundadores. Contador de formação, ele se especializou em gestão empresarial e em estratégia e inovação pela Wharton School, da Universidade da Pensilvânia. Acumulou passagens pela Decolar.com, cargo no próprio PanAmericano até 2008 e de lá para cá vinha desempenhando funções ligadas à área de tecnologia para diversas empresas de Silvio Santos.
Embora a Braspag seja uma operação totalmente independente do PanAmericano, no mercado o que se comenta é que a convivência do time de jovens desenvolvedores de tecnologia com executivos do banco nunca foi das mais harmoniosas. Wilson de Aro, ex-diretor financeiro do PanAmericano, destituído quando veio a público o rombo no banco, esteve envolvido na aquisição da Braspag em junho de 2009. A intenção do grupo sempre foi investir no negócio de meios eletrônicos de pagamento, operação com sinergia com o banco, como se provou com o CDC Online. Até novembro não havia, porém, um executivo dedicado ao negócio.
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