jornal Valor Econômico 23/02/2011 - Hugh Son (Bloomberg)
O Bank of America Corp., maior instituição de crédito dos Estados Unidos em ativos, quase dobrou os encargos por deterioração de ativos intangíveis de sua unidade de cartões de crédito para US$ 20,3 bilhões, como reflexo do aumento na inadimplência e de uma mudança de lei promovida há quase dois anos.
O banco republicou documentos enviados a autoridades reguladoras federais para registrar a baixa contábil em sua unidade FIA Card Services no primeiro semestre de 2009, segundo a empresa informou na segunda-feira, em comunicado. O encargo não financeiro, que substitui baixa de US$ 10,4 bilhões contabilizada em 2010, não afeta "os resultados financeiros, a segurança, solidez ou a posição de capital" do banco controlador, cuja sede fica em Charlotte, Carolina do Norte, afirmou o porta-voz da instituição, Robert Stickler.
A baixa contábil mostra que as perspectivas da unidade de cartões de crédito podem ter se deteriorado mais do que anunciado inicialmente após a aprovação da lei nos EUA, conhecida como a Lei do Cartão, em maio de 2009, que restringia as tarifas e os aumentos nos juros cobrados. Em novembro, o banco informou que algumas das medidas reduziriam a receita anual em US$ 1 bilhão, minando os esforços do executivo-chefe da empresa, Brian T. Moynihan, de 51 anos, para melhorar o retorno dos acionistas.
A revisão da baixa contábil foi provocada pela lei e pela "deterioração da qualidade de crédito", segundo informou o banco na segunda-feira.
"É outro sinal de que a qualidade do crédito do consumidor do banco é mais fraca do que eles haviam indicado previamente", afirmou Tony Plath, professor de finanças na University of North Caroline, em Charlotte. "É um número imenso e a forma como eles o estão revelando corrói a credibilidade do banco. Por que estamos esperando até 2011 para fazer uma encargo por deterioração de dois anos atrás?"
A revisão envolve oito trimestres de 2009 a 2010 e foi apresentada em documentos enviados ao Gabinete de Controladoria da Moeda (OCC, que supervisiona os bancos nos EUA) e ao Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), agência do governo dos EUA que garante depósitos bancários, de acordo com o Bank of America.
As ações da empresa eram negociadas em baixa de 2,1%, cotadas a US$ 14,44, ontem pela manhã em Nova York. No ano, acumulam valorização de 8,1%.
O banco havia feito testes anteriormente sobre os ativos intangíveis de partes inteiras da empresa e não de subsidiárias, afirmou Stickler. A companhia identificou os encargos na unidade de cartões de crédito em 2010, depois de mudar os "processos e observar mais de perto entidades legais subjacentes às operações", acrescentou.
Os ativos intangíveis no balanço patrimonial de uma empresa representam o ágio pago acima do valor de mercado dos ativos em uma aquisição. Kenneth D. Lewis, antecessor de Moynihan, gastou em 2006 US$ 35 bilhões na compra da MBNA Corp., que na época era a maior emissora de cartões de crédito dos EUA.
"Eles estão tentando reavaliar seus negócios à luz das mudanças na regulamentação", afirmou Jonathan Finger, cuja empresa de investimentos familiar Finger Interests Ltd., possui 1,1 milhão de ações do Bank of America. "Embora sejam encargos não financeiros, de fato talvez sinalizem uma rentabilidade menor no negócio de cartões e isso me preocupa."
O Bank of America havia divulgado em janeiro aumento no prejuízo da divisão de cartões, que inclui os de crédito e débito, de US$ 5,3 bilhões em 2009 para US$ 6,6 bilhões em 2010, em função da baixa contábil de US$ 10,4 bilhões de 2010, também atribuída à mudança de lei dos cartões de créditos. Excluindo os encargos, a unidade teria apresentado lucro de US$ 3,8 bilhões.
Acionistas como Finger, que liderou uma disputa por procurações para levar Lewis à aposentadoria no fim de 2009, disseram que o ex-executivo-chefe pagou demasiado caro para expandir as operações do Bank of America.
Lewis acertou pagar US$ 29 por ação da Merrill Lynch & Co. no fim de semana antes de o Lehman Brothers Inc. quebrar em 2008. O acordo de US$ 50 bilhões foi um "preço maluco", nas palavras do investidor bilionário Warren Buffett na Comissão de Investigação da Crise Financeira, cujas citações foram divulgadas neste mês.
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